segunda-feira, 20 de junho de 2016

"Austeridade em saúde é uma falsa economia", diz David Stuckler, professor na Oxford



Cortar despesas na saúde em tempos de recessão é um desastre tanto do ponto de vista humano quanto do financeiro, afirma David Stuckler, professor de política econômica e saúde pública na Universidade de Oxford, Reino Unido.
Autor de "A Economia Desumana - Por Que Mata a Austeridade" (ed. Bizâncio, Portugal, cerca de R$ 84), Stuckler esteve no Brasil para a 22ª Conferência Mundial de Promoção e Educação na Saúde UIPES, realizada em maio, em Curitiba (PR).
No livro, o economista e sociólogo britânico compara os efeitos da redução e do aumento de investimentos em saúde pública em diferente países, em períodos de crises econômicas.
No último dia 11 de junho, Stuckler deu uma entrevista, por telefone, ao jornal “Folha de São Paulo”. Leia abaixo os principais trechos da conversa.
"Folha": Por que o senhor afirma, em livros e palestras, que a redução de gastos em saúde é a pior catástrofe?
David Stuckler: Porque há um risco real e comprovado de mais mortes, surtos de infecções como por HIV, retorno de doenças erradicadas como malária, aumento dos índices de alcoolismo e suicídio epidêmico. É o que vimos acontecer recentemente na Grécia, por exemplo. Agora, para lidar com esses problemas, o governo grego vai ter de gastar mais do que teria gasto para prevenir doenças. Austeridade em saúde é uma falsa economia, e não é nenhum exagero dizer que austeridade mata.
Quais seriam os argumentos econômicos para convencer as autoridades a não cortar o orçamento para a saúde durante uma crise?
Há um clichê econômico que diz: "Uma onça (28 gr) em prevenção vale uma libra (450 gr) em cura". Algumas pessoas pensam que saúde é só um custo a mais a ser abatido, mas os governos fazem escolhas sobre onde gastar ou poupar em tempos difíceis. Frequentemente, este debate acaba sendo apenas ideológico, mas pode-se debater com evidências científicas.
No departamento de sociologia [de Oxford] estamos estudando um conceito chamado multiplicador fiscal. É um cálculo sobre quanto dinheiro você consegue de volta com diferentes tipos de gastos públicos. Descobrimos que os melhores índices multiplicadores vêm dos gastos com saúde e educação. Entre os piores, estão os gastos com defesa: em alguns países europeus, esses índices chegam a ser negativos. Portanto, mesmo quando é inevitável fazer cortes, é melhor proteger a área da saúde. É uma oportunidade de recuperar a economia e crescer mais rapidamente.
Além de evitar cortes, os governos deveriam investir ainda mais em saúde durante a crise?
Sim, e isso tem sido feito com sucesso na história. Para citar um exemplo clássico, o "New Deal", programa de recuperação econômica dos Estados Unidos após a Grande Depressão iniciada em 1929, investiu muito na construção de hospitais e escolas. Investir em saúde e bem-estar é uma oportunidade de retomada do crescimento, e eu espero que o governo brasileiro aprenda com essas lições da história para enfrentar a crise pela qual o país passa.

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