sexta-feira, 30 de agosto de 2019

Identificada segunda mutação genética resistente ao HIV



Uma mutação genética rara, responsável por uma doença muscular que afeta uma centena de pessoas, permite uma imunidade natural contra o vírus da aids, revelam nesta quinta-feira, 29, pesquisadores espanhóis que esperam ter descoberto uma pista para novos medicamentos anti-HIV.
Até o momento se conhecia uma rara mutação do gene CCR5, verificada no transplante de medula do chamado “paciente de Berlim”, Timothy Brown, que se livrou do HIV com uma imunidade “natural” adquirida com o procedimento.
A nova mutação afeta outro gene, conhecido como Transportina 3 (TNPO3), que é ainda mais raro e foi identificado em uma família da Espanha afetada por uma rara doença, a distrofia muscular de cinturas do tipo 1F.
Os médicos se deram conta de que os pesquisadores dedicados ao HIV estudavam o mesmo gene, que desempenha um papel de transporte do vírus para o interior das células.
Após entrar em contato com genetistas de Madri, os médicos tiveram a ideia de tentar infectar em laboratório amostras de sangue desta família espanhola com o HIV.
A experiência teve um resultado surpreendente. Os linfócitos dos que padecem desta doença muscular apresentam uma resistência natural contra o HIV; e o vírus não consegue infectá-los.
“Isto nos ajuda a entender muito melhor o transporte do vírus na célula”, explicou à AFP José Alcami, virologista do Instituto de Saúde Carlos III de Madri, que liderou a pesquisa, publicada na revista científica americana PLOS Pathogens.
O HIV é seguramente o vírus melhor conhecido de todos, “mas ainda há muitas coisas sobre ele que não sabidas”. “Por exemplo, não sabemos por que motivo 5% dos pacientes infectados não desenvolvem a aids. Há mecanismos de resistência à infecção que entendemos muito mal”, disse Alcami.
O caminho ainda é longo até se chegar a um novo medicamento, mas a descoberta desta resistência natural confirma que o gene TNPO3 é outra meta interessante para o combate ao vírus da aids.

terça-feira, 27 de agosto de 2019

IBGE dá início à Pesquisa Nacional de Saúde; resultado deve sair em 2021



A partir desta segunda-feira (26), agentes do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) vão visitar a casa de milhares de brasileiros para pesquisar as condições de saúde da população. Trata-se da segunda edição da Pesquisa Nacional de Saúde (PNS), que promete avançar na investigação realizada seis anos atrás.
Ao todo, cerca de 1,2 mil entrevistadores do IBGE irão visitar, até fevereiro de 2020, mais de 108 mil domicílios distribuídos em 2.167 municípios do país. Os resultados devem começar a ser divulgados em 2021. A pesquisa é realizada em convênio com o Ministério da Saúde e em parceria com a Organização Internacional do Trabalho (OIT).
“Estamos colocando em campo a maior e mais abrangente pesquisa de saúde do país”, afirmou Cimar Azeredo, coordenador da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD).
A PNS investiga a prevalência de doenças crônicas não transmissíveis e quantifica a população com algum tipo de incapacidade física. Além disso, analisa dados relativos ao estilo de vida da população, tais como: sedentarismo; tabagismo; hábitos alimentares; consumo de álcool; atividade sexual.
Ainda no âmbito da saúde, a pesquisa também vai investigar a incidência de violência – seja física, sexual ou psicológica – além de avaliar a utilização do Sistema Único de Saúde (SUS) pela população. Além disso, a PNS também vai analisar as relações e condições de trabalho para analisar, entre outras questões, condições de salubridade dos locais de trabalho e problemas de saúde relacionados à atividade profissional.
A coordenadora da PNS, Maria Lúcia Vieira, destacou que, entre os diversos objetivos do levantamento, está “identificar os resultados das políticas públicas vigentes no âmbito da saúde e dar subsídios para que outras ações possam ser feitas”.
Ela lembrou que o IBGE investiga as condições de saúde dos brasileiros desde 1998, dentro da PNAD. Ao perceberem a relevância e abrangência do levantamento, os pesquisadores decidiram desmembrar a pesquisa e instituir um questionário próprio. Assim, a PNS foi realizada pela primeira vez em 2013. Ela chega em sua segunda edição com a expectativa de ter periodicidade quinquenal, ou seja, a cada cinco anos.
Nesta edição, a PNS terá 25 módulos de perguntas em seu questionário:
A – informações do domicílio
B – visitas domiciliares de equipes de Saúde da Família e agentes de endemias
C – características gerais dos moradores
D – características de educação das pessoas de 5 anos ou mais de idade
E – trabalho dos moradores
F – rendimentos domiciliares
G – pessoas com deficiências
H – atendimento médico
I – cobertura de plano de saúde
J – utilização de serviços de saúde
K – saúde dos indivíduos de 60 anos ou mais de idade
L – saúde das crianças de menos de 2 anos de idade
M – informações para futuros contatos, características do trabalho e apoio social
N – percepção do estado de saúde
O – acidentes
P – estilos de vida
Q – doenças crônicas
R – saúde da mulher
S – atendimento pré-natal
U – saúde bucal
Z – paternidade e pré-natal do parceiro
V – violência
T – doenças transmissíveis
Y – atividade sexual
AA – relações de trabalho
Dinâmica da pesquisa
Os mais de 108 mil domicílios que participarão da pesquisa foram selecionados aleatoriamente. Os moradores receberão, antes da visita dos pesquisadores, uma carta assinada pela presidente do órgão.
No comunicado são explicados os objetivos do levantamento e enfatizado que todas as respostas são confidenciais – a identidade dos moradores não é divulgada e as informações são usadas pelo IBGE apenas com fins estatísticos.
Azeredo, coordenador da PNAD, lembrou que nem todos os domicílios selecionados devem receber a carta. “Há domicílios que são em áreas rurais e remotas, então pode ser que a visita chegue antes”, disse.
O IBGE reforça que todos os pesquisadores estarão identificados com crachá do órgão e um equipamento eletrônico para coleta de dados. A seleção da pesquisa e a identidade do agente podem ser confirmados por meio do telefone 0800-721-8181.
Podem ser necessárias duas visitas a cada domicílio. Na primeira, é aplicado o questionário em relação a todos os moradores. Apenas um é selecionado para responder um conjunto específico de perguntas.
Segundo Maria Lúcia, a entrevista pode ter, em média, cerca de uma hora de duração.
Peso e altura
Dentre a amostra de domicílios da pesquisa, 5.575 deles terão um morador selecionado para antropometria – medição da altura e peso corporais. O objetivo é identificar a incidência de obesidade e estabelecer as medianas de peso e altura da população.
A gerente da pesquisa contou ser comum que outros moradores do domicílio peçam para também ter as medidas auferidas.
“A gente perguntava [na Pnad] peso e altura e as pessoas não sabiam dizer. Tem gente que nunca foi medido na vida e acaba tendo essa oportunidade com a visita do entrevistador”, contou.
Entre as novidades desta edição da PNS está a investigação da ocorrência de depressão entre os brasileiros. Segundo a coordenadora da pesquisa, no módulo de doenças crônicas será questionado se a pessoa tem diagnóstico médico de depressão. Já no módulo específico serão feitas nove perguntas gerais que vão desde a qualidade do sono até se a pessoa já pensou em tirar a própria vida.
“Com essas perguntas a gente vai investigar os sintomas da depressão e estabelecer uma escala da doença. Daí poderemos comparar o quadro entre aqueles que têm o diagnóstico de depressão com aqueles que não o têm e cruzar esses dados”, destacou Maria Lúcia Vieira.
Outra novidade é a investigação sobre a participação masculina em exames pré-natais. A ideia é avaliar se os homens acompanham as mulheres nas consultas durante o pré-natal, se realizam exames ou se acompanharam o parto.
“Tem muitos homens que sequer sabe ser direito dele fazer esse acompanhamento”, disse a pesquisadora.
No módulo de atividade sexual, a pesquisa ouvirá apenas moradores acima de 18 anos. Há perguntas sobre uso de preservativo e em qual idade a pessoa teve a primeira relação.
Fonte: G1

Pessoas com HIV/aids, com CD4 abaixo de 250, não podem se vacinar contra o sarampo, orienta infectologista Claudia Binelli



A busca pela vacinação contra o sarampo aumentou consideravelmente nos últimos meses. Desde a primeira semana de 2019, o Brasil registrou mais de 1.400 casos confirmados de sarampo, sendo que mais de 95% ocorreram no Rio de Janeiro, em São Paulo, na Bahia e no Paraná, que apresentam surto da doença. Os dados são do Ministério da Saúde.
O sarampo é uma doença extremamente contagiosa causada por um vírus do gênero Morbillivirus, da família Paramyxoviridae. A transmissão pode ocorrer por meio da fala, tosse e/ou espirro. O quadro de infecção pode ser grave, com complicações principalmente em crianças desnutridas ou com sistema imunológico debilitado.
A infectologista Claudia Binelli, do CRT (Centro de Referência e Treinamento em DST/Aids) de São Paulo, explicou que as pessoas vivendo com HIV/aids podem se vacinar contra a doença, mas o CD4 (células de defesa) do paciente deve ser maior do que 250. “A vacina não é indicada para o paciente com baixa imunidade. A recomendação é para que todas as pessoas com HIV procurem o infectologista antes de se vacinar.”
Claudia recomendou ainda que o médico faça a avaliação do quadro imunológico do paciente antes da vacinação. “É importante ficar atento as recomendações do governo e levar a carteira de vacinação.”
Ela lembrou que nem todas as pessoas vivendo com HIV precisam se vacinar neste momento. “A prioridade é vacinar quem está na lista de recomendação do Ministério da Saúde. A vacina é in vitro, ou seja, feita do vírus vivo atenuado, e tem efeitos colaterais. Ela pode produzir a própria doença.”
Tire suas dúvidas sobre o sarampo
O que é sarampo?
É uma doença infecciosa aguda transmitida por um vírus, caracterizada por manchas na pele. A doença estava erradicada no Brasil, mas voltou. Uma das razões é a baixa cobertura vacinal, ou seja, as pessoas deixaram de se vacinar.
Como é transmitido?
A transmissão acontece pela saliva, carregada pelo ar (quando a pessoa tosse, fala ou espirra). Ou seja, é altamente contagiosa.
Quais os sintomas?
Febre alta (acima de 38,5°C), manchas vermelhas na cabeça e no corpo, tosse, dor de cabeça, coriza e conjuntivite.
Sarampo pode matar?
Sim. É uma doença que traz complicações graves, inclusive neurológicas, e pode levar à morte. Também pode deixar sequelas como a surdez.
Como é o tratamento?
O doente é isolado e apenas os sintomas são tratados. Por isso, a vacinação é a ferramenta mais eficaz no combate à doença.
O que fazer em caso de suspeita?
Encaminhar o paciente a um serviço de saúde, que por sua vez notificará a vigilância epidemiológica para que esta vacine quem teve contato com o doente.
Quem deve se vacinar?
Bebês de 6 meses a 11 meses e 29 dias devem tomar a dose da campanha e as duas do calendário nacional de imunização, aos 12 meses e 15 meses; crianças e jovens de até 29 anos precisam ter tomado duas doses da vacina —quem tem de 30 a 59 anos, apenas uma dose. A maioria das pessoas com mais de 60 anos não precisa da vacina, pois já teve contato com o vírus. Na dúvida sobre ter ou não tomado a vacina na infância, é melhor tomá-la agora. Não é preciso levar a carteirinha de vacinação.
Em ações de bloqueio, quando identificado caso suspeito da doença, todos devem tomar a vacina, que é uma imunização pontual.

segunda-feira, 26 de agosto de 2019

RS vive epidemia generalizada de aids e lidera estatísticas de mortalidade pela doença no país



O Rio Grande do Sul ocupa hoje o segundo lugar no ranking de casos de Aids no Brasil, com 31,8 casos a cada 100 mil habitantes. O Estado também lidera as estatísticas de mortalidade por Aids no Brasil e vem registrando o ressurgimento de casos de transmissão vertical do HIV e o crescimento preocupante do número de casos de sífilis. Os dados foram apresentados no Seminário de Capacitação em HIV – Aprimorando o Debate (III), promovido pela Associação Brasileira Interdisciplinar de Aids (ABIA), de 21 a 23 de agosto, no Hotel Plaza São Rafael, em Porto Alegre. (Leia aqui a íntegra do Boletim epidemiológico HIV/Aids 2018)
Segundo Carlos Duarte, vice-presidente do Grupo de Apoio à Prevenção da Aids do Rio Grande do Sul (GAPA/RS) e membro do Conselho da ABIA, a epidemia no Rio Grande do Sul é generalizada e estima-se que cerca de 50% das pessoas vivendo com HIV em Porto Alegre não estão acessando os medicamentos antirretrovirais. A precarização das políticas de prevenção e enfrentamento da Aids, que vem ocorrendo nos últimos anos, tende a se agravar em função dos preconceitos que hoje partem da própria figura do presidente da República. Carlos Duarte citou o caso do desmonte do departamento responsável pelas ações de combate ao HIV/Aids e infecções sexualmente transmissíveis no Ministério da Saúde. Em maio, o decreto nº 9.795 modificou a estrutura da pasta, retirando o termo Aids do nome do setor. “Essa retirada do nome da Aids é mais uma etapa de um processo que o governo vem fazendo já há muito tempo que é passar a mensagem de que a Aids está controlada e não é mais um problema no Brasil”, criticou.
Vice-presidente da ABIA, o psicólogo Veriano de Souza Terto Jr. disse que a resposta comunitária e social à Aids no Brasil, neste momento, não conta praticamente com nenhum apoio governamental, nas suas três esferas, nem da filantropia privada. Em entrevista ao Sul21, Veriano Terto Jr. falou sobre a situação das políticas de prevenção e tratamento da Aids no Brasil, alertando que o cenário atual que já não é bom tende a piorar: “Já temos medicamentos, sabemos como prevenir e lidar com a doença, mas ainda temos milhões de pessoas que precisam ser integradas no tratamento no mundo inteiro. Temos uma taxa de mortalidade alta no Brasil, de 12 mil pessoas por ano, e isso também é resultado do estigma que impede as pessoas de acederem ao serviço, de manter um tratamento e de conseguir se prevenir”.
Sul21: Quais foram os principais temas desse encontro promovido pela Associação Brasileira Interdisciplinar de Aids em Porto Alegre?
Veriano Terto: Esse seminário aqui em Porto Alegre é parte de um conjunto de quatro encontros que organizamos entre março e agosto deste ano e que trabalham diferentes aspectos da epidemia de HIV-Aids neste momento. O primeiro tratou da relação entre sociedade civil e Estado, que vive uma situação bastante complicada para discutir a própria sustentabilidade da resposta comunitária e social à Aids no Brasil, que neste momento não conta praticamente com nenhum apoio governamental, nas suas três esferas, nem da filantropia privada. Ou seja, a questão da Aids e da saúde em geral está praticamente descoberta do ponto de vista das respostas sociais comunitárias.
m um segundo seminário, trabalhamos a questão do estigma e do preconceito que, segundo a comunidade científica internacional, ainda é o grande obstáculo tanto para a prevenção como para a assistência. Já temos medicamentos, sabemos como prevenir e lidar com a doença, mas ainda temos milhões de pessoas que precisam ser integradas no tratamento no mundo inteiro. Temos uma taxa de mortalidade alta no Brasil, de 12 mil pessoas por ano, e isso também é resultado do estigma que impede as pessoas de acederem ao serviço, de manter um tratamento e de conseguir se prevenir.
O terceiro seminário que realizamos foi sobre prevenção, com foco maior na valorização do que as comunidades têm feito em termos de trabalho de prevenção. Estamos num momento de renovação da prevenção, com uma série de novidades envolvendo profilaxias pré e pós-exposição a risco, como injeção de longo prazo, gel microbicida e outras que vão além da camisinha e que precisam ser discutidas pela sociedade.
Esse quarto seminário tem como foco debater tanto o grande desafio que é a assistência e o cuidado, envolvendo questões estruturais do próprio SUS que, pelo seu estado de precarização, não vem dando conta, como temas relacionados ao acesso a medicamentos, principalmente a novos medicamentos, além do desafio do cuidado integral, abrangendo aí prevenção e tratamento.
Sul21: Qual é a situação atual das políticas de prevenção e tratamento da epidemia de HIV-Aids no Brasil? Como você definiria esse momento?
Veriano Terto: Estamos em um momento crítico dessas políticas públicas. Vivemos um contexto cada vez mais conservador, onde as populações mais atingidas pela Aids estão sendo consideradas, pelo governo federal e por vários governos estaduais e municipais também, como pessoas não desejáveis, de segunda categoria, com o recrudescimento do preconceito. Isso certamente vai dificultar a prevenção e o acesso dessas pessoas aos serviços de saúde e também à prevenção, levando em conta que o maior número de casos de Aids é por transmissão sexual e que trabalhar o tema da sexualidade no Brasil virou um dos temas mais desafiantes. O próprio presidente vetou novos projetos de cinema na Ancine (Agência Nacional de Cinema) que tratem da questão LGBT. Esse é um exemplo do nível que estamos vivendo. Até existem pessoas boas e interessadas no Ministério da Saúde que querem manter essas políticas e ações, mas a gente sabe que o contexto não é favorável.
Sul21: De certo modo, o tema da Aids perdeu visibilidade midiática nos últimos anos. Muita gente talvez ache que não tenhamos mais uma epidemia da doença. Qual é hoje o cenário dessa epidemia?
Veriano Terto: No Brasil, temos uma epidemia ainda com uma taxa de mortalidade muito alta, chegando a aproximadamente 12 mil casos de morte por Aids por ano. Esse número está estabilizando, mas estabilizando em um patamar alto. Para um país que tem acesso universal a medicamentos, esse número deveria ser menor, o que demonstra uma falha no sistema de saúde, tanto no SUS, quanto no sistema privado. Essa taxa de mortalidade demonstra a dimensão do desafio que nós temos. Também temos taxas de soro-prevalência muito altas em populações como jovens LGBT e população trans, variando entre 20 e 30% em algumas capitais, inclusive aqui no Rio Grande do Sul. Isso demonstra que ainda existe um desafio imenso para trabalhar com essas populações. Há uma tendência de crescimento do número de casos de Aids, não só entre jovens LGBT, mas entre jovens em geral.
Algumas pessoas dizem que isso acontece porque os jovens não se cuidam, são irresponsáveis e banalizam a epidemia, quando, na verdade, essa é uma explicação fraca, quando se constata que hoje não temos campanhas destinadas a essa juventude no Brasil. Se formos olhar hoje, em nível de estados e municípios, são muito raras as campanhas de prevenção para essa população. Nas escolas, apesar de os currículos apresentarem a possibilidade, ao menos legal, de se trabalhar temas relacionados à saúde sexual e reprodutiva, isso é cada vez mais difícil. Muitos jovens não têm, na escola, acesso à informação sobre saúde sexual e reprodutiva e, por consequência, também não terão sobre Aids e outras doenças sexualmente transmissíveis. Isso é uma falha imensa.
Estamos falando de jovens de 14, 15 anos, principalmente de classes populares, que não têm noções básicas sobre gravidez, doenças sexualmente transmissíveis, Aids, funcionamento do aparelho reprodutor e sobre como levar a sua vida sexual. Há um discurso cada vez mais conservador que acha que isso deve ser trabalhado só nas famílias, quando muitas dessas famílias não têm estrutura ou condições de informação para passar isso para seus filhos.
Sul21: Considerando as posições do presidente Jair Bolsonaro sobre esses temas, a tendência dessa situação então é só se agravar?
Veriano Terto: Sim, a tendência é de agravamento. Citei o caso do que ocorreu recentemente na Ancine. Temos também o desmantelamento de uma série de conselhos. Estamos muito preocupados, pois temos números crescentes. Aqui no Rio Grande do Sul, por exemplo, a taxa de mortalidade tem sido maior do que a média nacional e os epidemiologistas já falam que, enquanto no resto do país a epidemia estaria concentrada em algumas populações, aqui a tendência é de uma epidemia generalizada. Ela não está concentrada só em populações LGBT e trans, tendendo a se disseminar entre mulheres e homens heterossexuais de diferentes cidades. Aqui também tem se vivido um contexto muito difícil. As últimas administrações no Estado, no município de Porto Alegre e na Região Metropolitana (que é a região mais atingida no país inteiro) tiveram iniciativas pouco eficientes ou, em alguns casos, inexistentes, comparado ao que aconteceu em outras décadas, como no final da década de 1990 e início dos anos 2000, quando tivemos políticas públicas mais fortes e consistentes que, infelizmente, não foram levadas adiante pelos governos seguintes.
Outro problema preocupante no Rio Grande do Sul é a transmissão vertical. Países bem mais pobres, como Cuba, já conseguiram eliminar a transmissão vertical. Basta ter o exame pré-natal e o uso do retro-viral em grávidas. Aqui no Estado, porém, estamos vendo o ressurgimento da transmissão vertical. A gente sabe que é um problema envolvendo o pré-natal na atenção básica. Outro número que vem crescendo de forma preocupante em Porto Alegre e na Região Metropolitana é o de casos de sífilis. Em algumas populações o índice chega a 30%, ou seja, de cada dez, três tem. Os números daqui são muito sérios, mas eu não tenho visto uma campanha sobre sífilis no Rio Grande do Sul. Isso também está relacionado com a transmissão vertical pois às vezes elas vêm juntas: sífilis congênita com HIV. Isso é um problema do pré-natal que é a coisa mais simples e óbvia. A mulher ficou grávida, tem que ir em um posto de atenção básica de Saúde para fazer os exames. Tem alguma coisa que está falhando aí, possibilitando o nascimento de crianças com HIV de novo.
Sul 21: Do ponto de vista do tratamento, como é que está a situação do acesso a medicamentos via SUS?
Veriano Terto: Isso é um ponto que ainda funciona dentro do nosso programa de resposta à Aids no Brasil. Essa cobertura e esse acesso ainda funcionam de uma maneira bastante satisfatória. Tivemos no ano passado alguns casos de desabastecimento em algumas regiões, talvez por problemas locais, mas ainda é algo que resiste. Não sabemos até quando. Por outro lado, nos próximos anos, precisaremos incluir inovações no campo dos medicamentos, tanto medicamentos para prevenção como medicamentos para o tratamento da Aids. Isso é preocupante porque os novos medicamentos são caros, o que exigirá muita vontade política para trazê-los ao Brasil e baixar os seus preços aqui dentro do país. Eles estão caros, mas podem ser mais baratos, desde que haja interesse e decisão política para pressionar as indústrias e conseguir baixar os preços.
Aqui, mais uma vez, o contexto não ajuda muito. Como se trata de uma doença estigmatizada, que atinge populações estigmatizadas, não sabemos como essa incorporação das inovações no campo dos medicamentos será realizada.
Sul21: O que esses novos medicamentos trazem de acréscimo em termos de qualidade de vida para as pessoas em tratamento?
Veriano Terto: São medicamentos e combinações terapêuticas de medicamentos que têm menos efeitos colaterais, que podem ser eficientes para pessoas que adquiriram resistência aos medicamentos atuais e que podem também ser adequados a diferentes fases de vida. Pessoas muito jovens, por exemplo, não deveriam tomar certos medicamentos atuais que prejudicam a formação óssea delas. Uma pessoa só termina a sua formação óssea completa entre 23 e 25 anos. Temos muitos jovens que precisam iniciar o tratamento com 18 ou até 17 anos e eles deveriam ter acesso a medicamentos que não prejudiquem a sua formação óssea. Essa ainda não é a nossa realidade. Nos Estados Unidos e na Europa, já é.
Do mesmo modo, pessoas mais velhas, que são diagnosticadas ou que já vivem há muito tempo com o HIV e que têm tendência a doenças cardiovasculares, muitas vezes até como efeito colateral dos medicamentos, poderiam ter acesso a esses novos medicamentos que não prejudicam a sua saúde cardiovascular. Por isso é tão importante ter acesso a essas novas substâncias. Alem disso, trazer a inovação é fundamental se tivermos interesse em desenvolver uma política industrial de produção e pesquisa de medicamentos. Aí também dependemos da vontade política dos atuais governantes.
Sul21: Pelo acesso à medicação que se tem hoje no Brasil, qual a qualidade de vida de uma pessoa que está fazendo o tratamento?
Veriano Terto: No médio prazo, com os medicamentos que temos atualmente, as pessoas têm uma boa qualidade de vida. Mas, ao longo prazo, na medida em que as pessoas vão envelhecendo, as doenças da velhice começam a aparecer. Há ainda o caso das pessoas que iniciaram o tratamento de forma muito precoce que terão certas conseqüências e para manter essas pessoas em tratamento serão necessários novos medicamentos. Caso contrário, as pessoas abandonam o tratamento, quando sentem que o medicamento não está ajudando, ou adquirem resistência. Como estamos falando de uma doença que ainda não tem cura, é importante pensar também na qualidade de vida das pessoas no médio e longo prazo.

Vacinas podem revolucionar a prevenção de ISTs



A possibilidade de se viver uma vida sexual com saúde e a proteção de vacinas contra os diferentes vírus e bactérias sexualmente transmissíveis está se tornando uma realidade cada vez mais próxima. Recentemente, algumas pesquisas inovadoras têm aberto bons caminhos para o desenvolvimento de estratégias de prevenção adicionais à já bem conhecida camisinha.
Na última semana foi publicado na revista científica Lancet Infectious Diseases um estudo realizado no Reino Unido com o resultado da parceria entre pesquisadores ingleses e dinamarqueses, mostrando sucesso nas etapas iniciais do desenvolvimento de uma vacina inédita contra a bactéria Chlamydia trachomatis, ou simplesmente clamídia.
Segundo a Organização Mundial da Saúde, a clamídia é a causadora da infecção sexualmente transmissível (IST) bacteriana mais frequente em todo mundo, com quase 130 milhões de casos estimados anualmente.
O quadro clínico da infecção por clamídia em geral é a uretrite em homens e a cervicite em mulheres. Por mais que tenha um tratamento simples quando diagnosticada, o controle da sua disseminação é complexo pois, além de altamente transmissível, inclusive pelo sexo oral, até 80% dos casos são completamente assintomáticos. E pra piorar, quando não tratada a clamídia pode levar a complicações uro-ginecológicas como a infertilidade.
Uma vez que a rotina de rastreamento dessa bactéria na população sexualmente ativa e assintomática, ainda que recomendado é feito por apenas parte das pessoas, especialmente em países de renda mais baixa, uma vacina que previna essa infecção é muito bem-vinda.
O processo de desenvolvimento da vacina contra clamídia está numa fase ainda inicial e o estudo publicado apenas demonstrou que é possível induzir a produção de anticorpos contra proteínas da bactéria nas mulheres vacinadas, sem causar nelas efeitos colaterais graves. A próxima etapa será avaliar se esses anticorpos são de fato capazes de proteger da infecção.
Além dessa, existem em fase de pesquisa outras vacinas contra ISTs. Uma delas é a vacina contra a Neisseria gonorrhoeae, a causadora da gonorreia, segunda IST bacteriana mais frequente no mundo. Dados de estudos anteriores, por exemplo, demonstraram que a vacinação contra Neisseria meningitidis, bactéria causadora da meningite meningocócica, devido à semelhança entre as duas bactérias acabou inesperadamente reduzindo em 30% a incidência de gonorreia entre os indivíduos vacinados.
Há também em andamento o estudo Mosaico que avalia uma promissora vacina contra a infecção por HIV. No Brasil iniciaremos em breve o recrutamento de participantes interessados.
E temos também as vacinas com eficácia já comprovada na proteção contra ISTs, como as de hepatite A, hepatite B e HPV. Porém, apesar de disponibilizadas no SUS e recomendadas pelo Ministério da Saúde, temos ainda baixas taxas de cobertura vacinal dentro de alguns subgrupos populacionais. No caso da vacina contra HPV, por exemplo, apenas 22% dos meninos e 51% das meninas menores de 15 anos, idade em que a vacina é indicada, foram imunizadas.
A ciência está dando seus passos para encontrar novas maneiras de controlar a transmissão das ISTs, diversificando as opções de Prevenção Combinada e melhorando a qualidade da vida sexual da humanidade. Entretanto, de nada adiantarão vacinas se a população não as utilizar quando disponíveis. Faça sua parte e esteja com as suas vacinas todas atualizadas.
Fonte: VIva Bem 

sábado, 24 de agosto de 2019

O adeus a Josimar Pereira Costa, militante incansável na luta contra a Aids



Faleceu na tarde de quinta-feira (22) o ativista Josimar Pereira da Costa, do Grupo Pela Vidda do Rio de Janeiro. O sepultamento será neste sábado (24) às 14h, no cemitério do Cajú, RJ.
Em notas e mensagens postadas nas redes sociais, entidades e pessoas do movimento de HIV/aids lamentaram a morte do ativista.
Fórum das ONG/Aids do Estado de São Paulo
O Fórum das ONG/Aids do estado de São Paulo (Foaesp), lamenta o falecimento do ativista JOSIMAR PEREIRA COSTA, voluntário ligado no Grupo Pela Vidda do Rio de Janeiro.
Sua atuação, voltada principalmente para o atendimento e esclarecimento de questões jurídicas e previdenciárias das pessoas vivendo com HIV e Aids, auxilou em momentos críticos da vida de diversas pessoas, somando informações e cuidados, que resultaram em melhor qualidade de vida. Foi membro atuante da secretaria-executiva do Fórum de ONGs/Aids do Rio de Janeiro e da Comissão Nacional de Aids do Ministério da Saúde (CNAIDS), representando a região sudeste.
Morador de São Gonçalo, cidade da região metropolitana do Rio de Janeiro, e com 58 anos, Josimar era presença constante em manifestações e eventos em defesa da saúde pública, da defesa dos direitos humanos e da garantia de direitos das populações vulneráveis. Seu falecimento causa tristeza em todos os companheiros e companheiras que conviveram com ele ao longo de três décadas de lutas, conquistas e perdas.
Que sua memória inspire a continuidade desta batalhas e que as bandeiras que defendeu tão bravamente continuem a orientar todos os que se empenham por um mundo melhor.
Rodrigo Pinheiro
Presidente
Renato da Matta  – Articulação Nacional de Saúde
Hoje o movimento social de luta contra a aids perde um grande guerreiro e eu um grande amigo.
Sempre ficara nas minhas lembranças,nossas lutas,nossas confidencias,nossos problemas,angustias,alegrias que sempre dividíamos.
Sempre fomos irmãos e hoje o dia se tornou noite,sei que esta em um lugar melhor,e vamos cumprir o combinado ok?
Ano maldito,um amigo e um amigo irmão que partem em menos de um mês!!
Marcia Rachid – Infectologista
Sempre que alguém com quem temos vínculo afetivo e admiramos vai embora porque morre, vem a impotência diante do irreversível, vem a sensação de que a vida (ou o mundo ou Deus para os que creem) foi injusta(o), vem a dor que vai ser elaborada, porém nunca passará. A vida é preciosa, contudo está nela incluída a morte de cada um de nós. Sua energia, sua garra, a solidariedade incondicional, a presença (mesmo na ausência física), suas características tão conhecidas por nós aqui ficarão como exemplo de alguém que tanto fez por muitos que seguirão caminhos melhores graças a sua ajuda em diferentes momentos e circunstâncias. Que sua luz seja eterna para cada um de nós! Que você siga em paz e encontre o descanso que tanto merece Josimar Pereira Costa.
Com respeito e afeto me despeço.
Márcio Villard – Grupo Pela Vidda Rio de Janeiro
Perdemos um grande ativista Josimar Pereira Costa.
Não posso deixar de expressar minha felicidade em termos trabalhado juntos por quase 10 anos.
O céu ganha um guerreiro.
Josimar Pereira Costa presente!
Um dia nos reencontraremos…

Grupo Pela Vidda – Rio de Janeiro
Perdemos mais um guerreiro na luta contra o HIV/Aids”
Na tarde de 22/08/19 faleceu Josimar Pereira da Costa, nosso amado Josi.
Um exemplo de ativista e companheiro. fará muita falta ao Movimento.
O sepultamento será no dia 24/08 no cemitério do Cajú às 14 h.
Informações com o companheiro dele Edivânio 21 975969238.
No dia 30/08 o GPV-RJ e amigos faremos uma Missa em memória de Josi na Igreja Nossa Senhora do Bom Parto, rua Rodrigo Silva 07 próximo a ONG.

Redação Agência de Notícias da Aids

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