terça-feira, 25 de julho de 2017

Antirretrovirais: Ativistas de diferentes Estados sinalizam falta e estoque crítico de alguns medicamentos. Departamento de Aids nega desabastecimento e garante unir esforços para regularizar a situação



Nas últimas semanas, ativistas de alguns Estados brasileiros sinalizaram, via redes sociais, estoque crítico e até falta de alguns antirretrovirais, remédios que compõe o tratamento das pessoas que vivem com HIV/aids. Todos os gestores estaduais ouvidos pela Agência de Notícias da Aids relataram remanejamento de estoque entre unidades de saúde e entrega fracionada no último mês. O Departamento de IST, HIV, Aids e Hepatites Virais do Ministério da Saúde afirma que houve problemas diversos com 5 dos 37 medicamentos distribuídos no País, mas está unindo esforços para solucionar cada um deles.
Na Bahia, embora o Estado esteja trabalhando com remanejamento entre ambulatórios Daniela Vitor, diretora da assistência farmacêutica da Secretaria Estadual da Saúde, disse que não tem mais estoque do abacavir solução oral. O medicamento é usado para tratar crianças soropositivas. “Nós tivemos um período de falta de diversos medicamentos. Depois de muitas cobranças, regularizou. Estamos com estoque parcial do zidovudina (solução oral infantil), do lamivudina e do 3 em 1 (efavirenz+ tenofovir + lamivudina). Mas do abacavir, zeramos. Se uma mãe precisar, não temos”, afirmou.
Daniela explicou que os profissionais do Estado estão fazendo “uma força tarefa” para entregar o mais rápido possível todos os remédios recebidos.
No Brasil, os antirretrovirais são comprados pelo Ministério da Saúde, distribuídos aos Estados e encaminhados aos Municípios. Assim  chegam  aos usuários via SUS (Sistema Único de Saúde). Os estoques são acompanhados pelo Siclom (Sistema de Controle Logístico de Medicamentos). Por meio desse sistema, os gestores fazem pedidos e conseguem remanejar medicamentos quando preciso.
Em Mato Grosso, foi necessário trabalhar em estratégia de emergência. A coordenadora da Vigilância Epidemiológica do Estado, Alessandra Moraes, contou que costuma receber um quantitativo suficiente para três meses de estoque e na última remessa recebeu para um mês: “Neste momento, conseguimos manter a distribuição. Mas ainda está difícil. Como recebemos menos, entregamos menos. Tem município que está a 1.200 quilômetros da capital. Se ele nos manda um alerta, mesmo que façamos tudo imediatamente não atendemos tão rápido. E o paciente terá que voltar mais vezes ao serviço.”
No entanto, segundo a coordenadora, existem unidades que mesmo com estoque para um mês, fracionam os remédios. O motivo? Receio de faltar. “Um usuário me relatou que emprestou o medicamento para um colega recém-diagnosticado. Eles fazem uso do mesmo esquema. Pra mim, é uma situação complexa e difícil de lidar.”
No Rio Grande do Sul, a situação foi outra: problemas de logística e avaria de algumas embalagens. “Fazia 5 anos que não tínhamos problemas, no momento que aconteceu foi um atrás do outro. Quando soubemos que os ambulatórios estavam fracionando a entrega para os usuários, procuramos ajustar os ponteiros. Aqui, sempre tem estoque para quatro meses. Como recebemos para um mês, gerou receio”, informou Elson Farias, diretor do Departamento de Ações de Saúde.
Em São Paulo, a coordenadora do Programa Estadual de DST/Aids, Maria Clara afirmou que não há falta, mas os estoques estão em estado crítico: “Estamos entregando para um mês. O que acontece é que sempre fornecemos para três meses.  Ficamos em contato constante com as regionais para o remanejando aonde for necessário. Não é uma situação confortável. São cerca de 10 medicamentos em estoque crítico, mas o MS tem essa relação e garantiu o abastecimento nos próximos dias.”
No caso de Santa Catarina, Dulce Quevedo, gerente estadual de DST Aids e Hepatites Virais, contou que chegou a ter fracionamento semanal do abacavir (solução oral). “Os municípios tinham poucos frascos e por isso fracionaram. Enviamos notas técnicas para não fracionar, mas eu entendo a decisão do gestor que está na ponta. É uma preocupação com o usuário. Agora, estamos com estoque critico do kaletra. Mas já entramos em contato com o MS para eles avaliarem o que podemos fazer.”
A situação do Amazonas é semelhante à de outros Estados. As Unidades Dispensadoras de Medicamentos (UDM) recebiam o quantitativo suficiente para estoque de pelo menos três meses. De acordo com Maria das Graças, responsável pela logística do Estado, o fato de ter recebido para um mês levou ao receio de faltar e consequentemente ao fracionamento.  “Estamos nos esforçando para entregar o suficiente para 30 dias de tratamento. Não temos estoque para dispensar mais do que isso. Se não tivéssemos fracionado, teria faltado.”
Questionada sobre as ações pensadas para os pacientes que não moram próximo das unidades que dispensam os medicamentos, Maria das Graças explicou: “Quando o usuário mora perto, na situação que estamos, temos dispensado o suficiente para um mês. Já os que estão longe, fazemos o possível para entregar para três meses. Têm pessoas que viajam até a capital. Estamos nos esforçamos e contamos com a garantia da novas grades que o Ministério vai enviar”.
O cenário não é o mesmo no Rio Grande do Norte, segundo relatos do coordenado estadual de DST Aids, Sergio Cabral. “Aqui a gente tem feito milagre para que o usuário não fique sem. Chegou a faltar o 3 em 1, pois pedimos 160 mil e recebemos 60 mil. Toda medicação que o Ministério nos envia não está de acordo com o nosso pedido. Nós atendemos moradores da Paraíba e Ceará que preferem se tratar aqui por conta do sigilo. Precisamos do apoio do Ministério”.
Sergio disse ainda que as combinações de medicamentos que não existem  em estoque têm sido trocadas. “Quando o usuário chega ao serviço e não tem o antirretroviral que ele usa, orientamos que um médico o atenda e passe uma terapia que tenha em estoque. Estamos preocupados com o paciente. No momento, isso é o melhor que podemos oferecer.”
Departamento de IST, HIV, Aids e Hepatites Virais do Ministério da Saúde garante que não existe desabastecimento
“Não tem desabastecimento. Infelizmente, tivemos problemas com cinco itens pelas mais diversas situações. Não devemos gerar insegurança no usuário, pois nos preocupamos com a adesão e qualidade do tratamento. O Departamento está fazendo todo o esforço possível para regularizar a situação. O medicamento vai chegar”, dra. Adele Benzaken, diretora do Departamento de IST, HIV, Aids e Hepatites Virais do Ministério da Saúde.
A diretora explicou que estoque crítico equivale a um mês de reserva. Disse ainda que a área técnica enfrentou problemas de logística, avaria e fornecedor em um único mês. 
“O orçamento de compras de medicamento é garantido por lei desde o inicio da epidemia do HIV. Nós, inclusive, já estamos em discussão sobre o do próximo ano. Colocando uma perspectiva de aumento nesse orçamento para podermos fazer a troca do efavirenz para o dolutegravir. Então, não existe compra fragmentada ou falta de orçamento. Estoque crítico, não quer dizer que vai zerar ou que as UDM têm que fracionar a entrega dos antirretrovirais”, enfatizou dra. Adele.
O medicamento 3 em 1, citado nesta matéria pela maioria dos gestores também foi mencionado pela diretora: “Importamos esse medicamento via OPAS [Organização Pan-Americana de Saúde]. Tivemos várias questões com ele, inclusive avaria. Por este motivo, foi necessário ir ao estoque e avaliar frasco por frasco. Em outra carga, desapareceram 20 volumes. Quando isso acontece, não podemos receber a carga toda. É uma regra.Ou seja, foram dois problemas, um depois do outroantes de entrar no país”, lamentou a diretora.
Na segunda semana de julho (12), o Departamento enviou aos coordenadores responsáveis pela logística dos antirretrovirais uma lista com a data de chegada dos cinco medicamentos que não foram distribuídos de acordo com a programação. São eles: zidovudina solução oral, zidovudina 300mg + lamivudina 150mg, ritonavir solução oral, tenofovir 300mg + lamivudina 300mg + efavirenz 600mg (3 em 1), abacavir solução oral.
Em relação aos medicamentos específicos, o Ministério da Saúde reafirmou que não há falta de remédios para aids em São Paulo e em nenhum outro estado do país. “Temos garantido remessas regulares de forma a manter o abastecimento de pelo menos um mês da demanda total solicitada pelo Estado. ”
Confira a situação de cada medicamento segundo o Ministério da Saúde
- Ritonavir 100mg: maioria dos estados recebeu na semana passada o quantitativo de medicamentos para, no mínimo, um mês e meio de cobertura. São Paulo (estado e município), Rio de Janeiro (só município), RS, MG e PR receberam nesta segunda-feira (24), os medicamentos;
- Zidovudina solução oral: os estados receberão nesta semana quantitativo de medicamentos para um mês e meio de cobertura;
- Zidovudina 300mg + lamivudina 150mg: os estados de AL, AM, DF, PA, SP, TO, MG, MS, RO, receberão nesta semana quantitativo de medicamentos para completar a cobertura de agosto e parte de setembro. Os demais estados receberão até o final do mês medicamentos para a cobertura de agosto e parte de setembro;
- Ritonavir solução oral: os pedidos dos 13 estados que utilizam este medicamento foram enviados na semana passada quantitativo de medicamentos para um mês e meio de cobertura;
- Tenofovir 300mg + lamivudina 300mg + efavirenz 600mg (3 em 1): até o final de julho todos os estados receberão as novas remessas do medicamento com quantitativo para mais de 2 meses de consumo;
- Abacavir solução oral: até final de julho, todos os estados receberão quantitativo para atender dois meses de consumo;
- Lopinar/ritonavir (kaletra): Conforme nota informativa 059/2017 emitida pelo Departamento de Aids no início de julho, será substituído gradualmente por outros medicamentos com menor toxidade e mais praticidade no uso para o paciente.
Dados de HIV no país
De acordo com o Boletim Epidemiológico de HIV, publicado em dezembro de 2016, 827 mil pessoas vivem com HIV/aids no Brasil. Destas 715 mil já foram diagnosticadas e 455 mil pessoas estão em tratamento com antirretrovirais. 410 mil estão com carga viral indetectável. A carga viral indetectável é um dos sucessos obtidos quando o tratamento é feito corretamente, pois ela auxilia no aumento da qualidade de vida da pessoa vivendo com HIV e reduz as chances de transmissão do vírus.
Um relatório divulgado pelo Unaids (Programa Conjunto das Nações Unidas sobre HIV/Aids), na última quinta-feira (20), apontou que 49% das novas infecções latino-americanas por HIV afetam brasileiros. O segundo lugar é do México, com  13%. No Brasil, o número de mortes por aids ficou estável em 14 mil vítimas por ano, entre 2010 e 2016.
Dica de entrevista
Ministério da Saúde – Assessoria de Imprensa

IAS 2017: Com participação brasileira, saúde trans é debatida na 9ª Conferência Internacional em Ciência do HIV



A saúde das pessoas trans foi destaque na 9ª Conferência Internacional em Ciência do HIV, em Paris, nesta segunda (24).  A mesa coordenada pela farmacêutica Alícia Krüger, do Departamento de IST, Aids e Hepatites Virais do Ministério da Saúde, em conjunto com a tailandesa Nittaya Phanuphak, chefe do Departamento de Prevenção da TRC-ARC (Centro de Pesquisa da Aids da Cruz Vermelha da Tailândia) discutiu a necessidade da mudança na referência médica para pessoas trans: da saúde mental para a saúde sexual.
Gail Knudson, presidente da Associação Mundial de Profissionais em Saúde Transgênero (WPATH), apresentou as articulações da entidade visando superar a visão médica, expressa em classificações oficiais, de que a transexualidade é uma doença. Segundo ela, a 5ª edição da publicação que é referência para diagnóstico da psiquiatria americana, o Manual Diagnóstico e Terapêutico (DSM), inclui a condição sob o termo disforia de gênero.
Outra lista amplamente utilizada é a Classificação Internacional de Doenças (CID), da Organização Mundial de Saúde, na qual a transexualidade também consta como um problema de saúde mental: transtorno de identidade de gênero. Segundo Knudson, a WPATH contribuiu para a 11ª edição da CID. "A nova versão está em consulta pública. A ideia é que se passe a usar o termo incongruência de gênero e que passe do capítulo de saúde mental para o de saúde sexual", declarou. Para ela, a expectativa é que a próxima edição do DSM também represente um avanço e não inclua mais a disforia de gênero.
Erin Wilson, do Departamento de Saúde Pública de São Francisco, contou que mesmo numa cidade onde há cinco clínicas de saúde trans, os resultados de saúde dessa população deixam a desejar.  "A questão é mais profunda. São barreiras estruturais como falta de acesso, transfobia, racismo e uma relação traumática com os serviços de saúde", pontuou.
Wilson ressaltou que é importante oferecer mais do que serviços clínicos e citou o exemplo de assessoria legal para resolução de conflitos que, em sua maior parte, são da esfera cível: "Isso contribui para que a pessoa tenha mais disponibilidade para se dedicar à saúde."
O pesquisador Asa Radix palestrou sobre os benefícios do acompanhamento clínico afirmativo de gênero. "Medidas como o tratamento hormonal melhoram a qualidade de vida e reduzem o estresse, além de impactar positivamente a adesão a outros tipos de acompanhamento, como o prevenção ou tratamento de HIV", afirmou.
Para a pesquisadora Tonia Poteat, existem lacunas importantes em pesquisa de saúde de pessoas trans. Ela citou uma rede de pesquisas que acompanha pessoas vivendo com HIV, em que não havia dados sobre a identidade de gênero. "A informação simplesmente não era coletada, o que impede a geração de conhecimento. Entramos em contato com os pesquisadores para que incluíssem dois dados: sexo definido ao nascimento e identidade de gênero".
Beatriz Grijnztein, pesquisadora da Fundação Oswaldo Cruz, no Rio, estava na plateia e também relatou dificuldades com dados. "Estamos fazendo um levantamento das pessoas trans atendidas em nosso serviço nas últimas décadas, mas tem sido difícil recuperar a informação da identidade de gênero dos usuários", lamentou.
Ao final, Gail anunciou o primeiro Congresso Brasileiro de Saúde Trans, que será realizado em São Paulo no mês de novembro. Maria Amélia Veras, pesquisadora da Santa Casa de São Paulo e uma das organizadoras, comentou a partir da plateia: "O congresso está sendo organizado por profissionais de saúde, pesquisadores e ativistas trans, que estão incluídos em todas as etapas do processo".
Alícia Krüger encerrou a mesa alertando: "Nós, pessoas trans, temos dificuldades de acesso a tratamento hormonal no Brasil. Isso vale especialmente para os homens trans, já que os hormônios masculinos só podem ser comprados com prescrição médica".
Durante a conferência também foram apresentados trabalhos em profilaxia pré-exposição (PrEP) ao HIV em pessoas trans. Inês Dourado, da Universidade Federal da Bahia, demonstrou alta aceitabilidade da PrEP por mulheres trans e travestis em Salvador, e  Grijnstein apresentou resultados do estudo PrEP Brasil, mostrando que os usuários de PrEP tomaram a medicação corretamente e permaneceram no estudo até o final.

Carué Contreiras*, especial para Agência de Noticias da Aids, de Paris 

IAS 2017: Estudo aponta resultados 'encorajadores' de vacina experimental contra HIV



Um estudo em fase preliminar de uma vacina contra o HIV produziu resultados "encorajadores", enquanto as pesquisas realizadas até a data não permitiram o desenvolvimento de uma vacina eficaz para proteger as pessoas contra este vírus.
Testado em 393 voluntários em cinco países (Estados Unidos, Ruanda, Uganda, África do Sul e Tailândia), este protótipo provocou uma resposta imune (produção de anticorpos) em 100% dos participantes, de acordo com o estudo apresentado nesta segunda-feira (24) na Conferência Internacional de Pesquisa sobre a aids, em Paris.
"Estes dados promissores, combinados aos avanços de outros pesquisadores na área, permitem que sejamos novamente otimistas sobre a possibilidade de desenvolver uma vacina contra o HIV", estimou o Dr. Dan Barouch, membro da equipe de pesquisa, durante coletiva. De acordo com especialistas, uma vacina seria a melhor maneira de acabar com uma epidemia que infectou 76 milhões de pessoas e causou 35 milhões de mortes desde seu surgimento no início dos anos 1980.
Apesar dos meios disponíveis de prevenção, 1,8 milhão de novas infecções foram registradas em 2016, de acordo com o Unaids (Programa Conjunto das Nações Unidas sobre HIV/Aids). "Mas até a data, apenas quatro projetos de vacinas alcançaram o estágio de teste de sua eficácia clínica", lembrou Dan Barouch, os demais foram abandonados em fases iniciais por causa de sua falta de eficácia.
Esta vacina experimental, de "duplo gatilho", consiste primeiro em despertar o sistema imunológico com um vírus da gripe comum, antes de dopá-lo com uma proteína encontrada no envelope do HIV, provocando uma reação mais forte do corpo.
Em uma fase anterior em macacos, cujos resultados foram publicados há dois anos, esta estratégia tinha ajudado a prevenir a infecção em dois terços dos primatas, lembrou Dan Barouch, virologista e professor da Faculdade de Medicina da Universidade de Harvard. "Claro, não sabemos ainda se esta vacina vai proteger os seres humanos. Mas estes dados justificam a realização de um estudo de eficácia em larga escala", disse ele.
Após uma nova avaliação, a fase seguinte dos testes em pacientes apresentando risco elevado de infecção por HIV, poderia iniciar "no final de 2017 ou início de 2018", em países do sul da África, indicou em um comunicado o laboratório Janssen (grupo Johnson and Johnson), que desenvolve a vacina experimental.
Acertar a vacina "será muito difícil", mas um sucesso "mudaria o cenário", explicou à AFP Anthony Fauci, diretor do Instituto Nacional de Alergias e Doenças Infecciosas (NIAID), um órgão público americano. "Mesmo se obtivermos uma eficácia de 50% a 60%, (...) já veríamos um impacto importante sobre a pandemia", acredita.

domingo, 23 de julho de 2017

LGBTs privados de liberdade: um olhar sobre o cárcere



“Se aqui fora existe preconceito, lá dentro é a treva de preconceito. Vi meninas se prostituírem por causa de um sabonete, para escovar os dentes. A saúde é totalmente precária, se você está com alguma coisa, vai morrer lá dentro”, relatou a trans Verônica Bolina durante o debate “Sistema Penitenciários e a População LGBT”, realizado em São Paulo no fim de junho.
Verônica passou dois anos na prisão após uma condenação por tentativa de homicídio e agressão em 2015. Quando foi detida, sofreu humilhação e foi torturada por policiais no Centro de Detenção Provisória de Pinheiros, em São Paulo. Foi quando se tornou conhecida, após fotos e vídeos da agressão viralizarem nas redes sociais.
Assinada por Beatriz Drague Ramos, a revista "Carta Capital" publicou uma reportagem especial a respeito da vulnerabilidade e opressões sofridas pela população LGBT no sistema prisional.
O Brasil conta hoje com mais de 607 mil pessoas encarceradas, de acordo com os últimos dados do Ministério da Justiça, de 2014. Atualmente, a taxa de superlotação do sistema penitenciário ostenta um índice epidêmico de 166%, segundo dados do último Levantamento Nacional de Informações Penitenciárias, de 2014.
Das 1.423 unidades prisionais, apenas 100 (15%) possuem alas destinadas ao público LGBT. A escassez de dados estatísticos sobre esta parcela da população prisional são um indício da invisibilidade sofrida por eles dentro e fora das cadeias.

IAS 2017: Cientistas alertam para cortes nas pesquisas sobre HIV



Paris sedia a partir deste domingo (23), até quarta-feira (26), a 9° Conferência Internacional sobre a Pesquisa do HIV (9th IAS Conference on HIV Science --IAS 2017). O Congresso reúne os maiores especialistas no mundo sobre o vírus HIV e expõe os avanços científicos na luta contra a aids. O encontro começa sob a ameaça de cortes nos financiamentos das pesquisas, anunciado pelos EUA.
Os participantes publicaram, antes mesmo da abertura da conferência, uma carta criticando o possível corte do governo americano no financiamento das pesquisas contra o HIV, anunciado pelo presidente Donald Trump.
Chamada de "Declaração de Paris", o texto não cita diretamente Trump, mas alerta que dificilmente o vírus será vencido "sem investimentos perenes". "Podemos perder vidas inutilmente", declarou a presidente da International Aids Society, Linda-Gail Bekker, que co-organiza a conferência com a Agência Francesa de Desenvolvimento Sobre a Aids.
Os Estados Unidos são, historicamente, o país que investe mais recursos na luta contra o vírus da aids, contribuindo com dois terços do financiamento internacional. No ano passado, o governo americano investiu mais de US$ 4,9 bilhões na pesquisa contra a doença. O Reino Unido e a França chegam respectivamente em segundo e terceiro lugar, com US$ 645,6 milhões e US$242,4 milhões.
Novas infecções
O presidente americano propõe a redução de cerca de US$ 1 bilhão no orçamento de 2018, que ainda será votado pelo Congresso. Caso as medidas sejam aprovadas, mais de 830.000 pacientes devem perder o acesso aos retrovirais, medicamentos que impedem o desenvolvimento do vírus e novas infecções. A previsão é de que 200.000 novas pessoas possam ser infectadas com a medida.
Graças à pesquisa e aos novos tratamentos, desde 2005 o número de mortos caiu 50%, chegando a 1 milhão em 2016, segundo a Onusida, o programa da ONU que atua no combate so HIV. No ano passado, 36,7 milhões de pessoas viviam com o vírus no mundo e metade tinha acesso ao tratamento.
Clique aqui para acessar o site oficial do evento

segunda-feira, 17 de julho de 2017

Corrimento é o principal sintoma da gonorreia, destaca Bem Estar



Mais de 70 milhões de pessoas no mundo estão infectadas pela gonorreia. A bactéria é transmitida durante a relação sexual e está mais resistente aos antibióticos. Até a dor de garganta pode estar entre os sintomas, mas existem outros sinais mais dolorosos.
O consultor e infectologista Caio Rosenthal explicou no Bem Estar desta segunda-feira (17) porque doenças como gonorreia e sífilis estão mais frequentes. O ginecologista e também consultor José Bento falou sobre uma doença bastante comum entre as mulheres: a candidíase.
A gonorreia é uma doença sexualmente transmissível causada por uma bactéria, que infecta especialmente a uretra. De acordo com a OMS, o tratamento se tornou mais complexo porque a bactéria está desenvolvendo resistência aos antibióticos. Dificilmente as pessoas desconfiam que estão com uma DST.
O sintoma mais importante da gonorreia é a presença de um corrimento purulento, cor amarelada, que mancha a calcinha ou a cueca. O diagnóstico pode ser feito clinicamente ou por um exame específico. O tratamento é feito com antibióticos.
A única semelhança da candidíase com a gonorreia é que ambas podem ser transmitidas sexualmente. Sintomas, complicações, tratamento e diagnóstico são diferentes. A candidíase é uma infecção provocada por fungos.
Os sintomas mais comuns na mulher são: coceira na região vaginal, corrimento branco, ardência no local e para urinar e dor durante as relações sexuais. No homem surgem pequenas manchas vermelhas no pênis, lesões em forma de pontos e coceira. O tratamento pode ser local ou via oral.

Fonte : Bem Estar

Congresso de DST e HIV: Pesquisa sobre experiências para redução da sífilis congênita é premiada como melhor pôster



O trabalho “Experiências exitosas para redução da sífilis congênita e as estratégias de ‘boas práticas’ para administração de penicilina em quatro municípios do Brasil”, da consultora do Departamento de IST, Aids e Hepatites Virais, Maria Vitória Ramos Gonçalves, foi considerado o melhor na categoria E-Poster no 11º Congresso da Sociedade Brasileira de DST e 7º Congresso Brasileiro de Aids. O resultado foi anunciado ao final dos dois eventos, na quinta-feira (13), no Rio de Janeiro. O pôster teve como coautoras a diretora do Departamento, Adele Benzaken, e as consultoras Lidiane Freitas e Ana Kolling.
Com o tema “Prevenção ou experiência em serviços”, o objetivo da pesquisa era identificar os municípios que administram a penicilina em 100% das gestantes com sífilis no pré-natal, a fim de construir um documento de boas práticas com essas experiências como proposta de ampliação e qualificação do tratamento da sífilis congênita.
O trabalho utilizou as respostas do questionário aplicado nas Unidades Básicas de Saúde (UBS) de 5.300 municípios para conhecer a realidade da assistência à gestante com sífilis nas UBS. Apenas 52% das UBS administravam a penicilina, caracterizando uma falha na assistência integral ao pré-natal.
Contudo, identificaram-se Unidades Básicas de Saúde em que a medicação é administrada no pré-natal. Um levantamento de informações foi realizado, em seguida, para definir quatro municípios localizados em regiões distintas do país para serem utilizados como exemplos de boas práticas em relação ao tratamento da sífilis. Foram escolhidas as cidades de São Paulo, Londrina, Aparecida de Goiânia (GO) e Vitória da Conquista (BA).

Com os dados apurados nos quatro municípios, visitados por uma jornalista contratada para realizar a verificação, foi possível elaborar o “Caderno de Boas Práticas em administração de penicilina na Atenção Básica”, que apresenta informações e estratégias criadas por cada um dos locais escolhidos, com o objetivo de multiplicar essas ações nos demais serviços da Atenção Básica. 
O trabalho contou com a parceria do Departamento de Aids e do Departamento de Atenção Básica, que culminou na publicação do “Caderno de Boas Práticas: O uso da penicilina para a prevenção da Sífilis Congênita no Brasil”. A distribuição desse documento nos estados e municípios irá buscar a sensibilização e orientação dos serviços e, principalmente, dos profissionais da saúde que não realizam o tratamento com penicilina benzatina nas gestantes com sífilis e sua parceria durante o pré-natal na Atenção Básica.

Fonte : Departamento de IST, Aids e Hepatites Virais

Ministério da Saúde lança concurso para mudar visual de preservativos masculinos



As camisinhas masculinas distribuídas gratuitamente pelo Ministério da Saúde terão nova embalagem até o final deste ano. Nesta segunda-feira (17), a pasta, em parceria com a Unesco (Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura) lançou um concurso público direcionado aos estudantes de design gráfico, desenho industrial, arquitetura e publicidade. O objetivo é escolher uma nova identidade visual para os preservativos. As inscrições deverão ser feitas pelo site até sete de setembro.
O resultado e a premiação estão previstas para acontecer durante o 11º Congresso Brasileiro de HIV/Aids e o 4º Congresso Brasileiro de Hepatites Virais, entre os dias 26 e 29 de setembro, em Curitiba, no Paraná. O vencedor terá como prêmio um pacote de viagem de três dias com um acompanhante para um dos sítios do patrimônio Histórico Cultural da Unesco no Brasil.
“Com esse concurso, pretendemos criar uma identidade mais moderna e atrativa para o público, a fim de renovar a imagem da camisinha masculina distribuída no Sistema Único de Saúde. A última vez que a embalagem foi modificada faz mais de dez anos”, afirmou Adele Benzaken, diretora do Departamento de Vigilância, Prevenção e Controle das Infecções Sexualmente Transmissíveis, do HIV e Aids, do Ministério da Saúde.
Incentivar o uso de preservativos, principalmente entre os jovens, tem sido foco de campanhas de prevenção, como a lançada no carnaval deste ano. Dados do ministério apontam que essa é a faixa etária que menos usa camisinha. Pesquisa de Conhecimento, Atitudes e Práticas indica queda no uso regular do preservativo entre os que têm de 15 a 24 anos, tanto com parceiros eventuais – de 58,4% em 2004 para 56,6%, em 2013 – como com parceiros fixos – queda de 38,8% em 2004 para 34,2% em 2013.
De acordo com o último boletim epidemiológico do Ministério da Saúde, atualmente  a epidemia no Brasil está estabilizada, com taxa de detecção em torno de 19,1 casos a cada 100 mil habitantes, com cerca de 41,1 mil casos novos ao ano. O levantamento mais recente mostra que a epidemia de Aids tem se concentrado, principalmente, entre populações vulneráveis e nos mais jovens. Destaca-se o aumento em jovens de 15 a 24 anos, sendo que entre 2006 e 2015 a taxa entre aqueles com 15 e 19 anos mais que triplicou, passando de 2,4 para 6,9 casos a cada 100 mil habitantes. Entre os jovens de 20 a 24 anos, a taxa dobrou, passando de 15,9 para 33,1 casos a cada 100 mil habitantes.

sábado, 15 de julho de 2017

São Paulo registra aumento de casos de hepatite A entre homens que fazem sexo com homens



Dados recentes da OMS (Organização Mundial da Saúde) alertam para o aumento mundial dos casos de hepatite A entre homens gays, bissexuais e homens que fazem sexo com homens (HSH). Os números já podem ser observados no Brasil, pois há um aumento expressivo dos casos de hepatite A na cidade de São Paulo: o salto foi de 63 casos, durante todo o ano de 2016, para 135 casos nos primeiros seis meses de 2017. Desses, segundo dados do Boletim Epidemiológico da Covisa (Coordenação de Vigilância em Saúde), 81% são do sexo masculino e 64% têm entre 18 e 39 anos.
Até o momento, a cidade registrou 18 casos por contato sexual desprotegido e 13 foram adquiridos por água e alimentos contaminados. Ainda 77% dos casos estão em investigação, mas a cidade já conta 2 óbitos por hepatite fulminante.
Doença infecciosa, aguda, causada pelo vírus VHA e eliminado pelas fezes, a hepatite A é transmitida por via oral-fecal, de uma pessoa infectada para outra saudável, através de alimentos ou da água contaminada. A transmissão sexual pode ocorrer com a prática sexual oral-anal (pelo contato da mucosa da boca com o ânus de uma pessoa infectada).
Na Europa, segundo a OMS, 15 países já registraram o surto da doença entre HSH no último ano: Áustria, Bélgica, Dinamarca, Finlândia, França, Alemanha, Irlanda, Itália, Holanda, Noruega, Portugal, Eslovênia, Espanha, Suécia e Reino Unido, totalizando 1.173 casos até 16 maio deste ano.
No Chile, foram notificados 706 até agora. Já o departamento de saúde de Nova York, nos Estados Unidos, registrou um aumento da doença entre HSH que não relataram viagens internacionais.
Casos recentes
Um dos casos registrados na cidade de São Paulo é o do radialista Matheus Rossi, de 23 anos. Há cerca de um mês ele descobriu que era portador do vírus da hepatite A. “Estava febril, sem apetite e com dor no fundo dos olhos, então decidi procurar um médico, ele solicitou o exame de sorologia e logo recebi o resultado. Os sintomas da doença estavam avançados, meu fígado bastante prejudicado, até fiquei internado por cinco dias. Agora estou bem, mas desconfio que me infectei depois de uma relação sexual desprotegida”, contou.
O paulistano Rodrigo*, de 26 anos, descobriu mais recentemente, há 15 dias, depois de sentir mal-estar, um dia depois da Parada do Orgulho LGBT de São Paulo, em 19 de junho.  Ele ficou indisposto e decidiu procurar um médico. “Até pensei que era ressaca, bebi bastante na Parada, mas a minha pele estava amarela. No pronto-socorro me pediram o exame de sorologia e, claro, deu positivo para hepatite A. Eu não desconfiava, mas depois de muita reflexão cheguei à conclusão de que a infecção se deu após o sexo oral-anal sem proteção”, relatou. O que esses dois relatos têm em comum: os dois se dizem HSH.
A prática médica
Os infectologistas Valdez Madruga e Álvaro Costa, ambos do Centro de Referência e Treinamento em DST/Aids de São Paulo - serviço administrado pelo Estado, mas com sede na cidade de São Paulo, observaram na prática médica o aumento de casos de hepatite A entre HSH nos primeiros meses do ano. "De janeiro para cá já atendi seis casos, 4 deles são pessoas que participam ou participaram de pesquisas no CRT, um no ambulatório e outro no consultório, todos assumidamente gays", relatou Valdez.
Álvaro atendeu 5 casos em 2017, três são pacientes do CRT e dois são do consultório particular. "Está claro que a circulação do vírus aumentou mundialmente, as práticas sexuais têm se diversificado cada vez mais e ainda enfrentamos problemas de saneamento básico. ”
Hoje, a luta dos dois médicos é para que a vacina esteja disponível no SUS para todos, inclusive para os homens que fazem sexo com outros homens.
No Brasil, a imunização contra a hepatite A está disponível na rede pública para crianças de 1 a 2 anos. Ela foi introduzida no calendário nacional de vacinação em 1º de julho 2014 e também é recomendada para pessoas vivendo com HIV/aids, portadores crônicos de hepatite B e C e outras hepatopatias crônicas.
A boa notícia, segundo Valdez, é de que “no CRT, já conseguimos estender para todos os participantes do estudo PrEP Brasil. Mas o ideal seria disponibilizar para todos os HSH do país", defendeu.
A OMS recomenda a vacinação contra a hepatite A para grupos de alto risco, como viajantes para áreas endêmicas, HSH, usuários de drogas injetáveis e pacientes com hepatites virais.
Dr. Álvaro faz um alerta: “se houver alguma suspeita de ter contraído a doença, procure um médico rapidamente e peça o exame de sorologia. Evitar a contaminação oral fecal é fácil, a dica é consumir água potável, lavar as mãos com água e sabão antes de preparar ou comer alimentos, higienizar os alimentos crus antes do consumo, evitar alimentos produzidos em condições insatisfatórias ou de origem duvidosa. Além disso, usar preservativos é essencial para prevenir a infecção via sexual", completou Álvaro.
Sintomas
Valdez foi quem alertou a vigilância sanitária sobre o aumento da doença em São Paulo. De acordo com ele, os sinais e sintomas da hepatite A, geralmente, aparecem de 2 a 4 semanas após a infecção, pois esse é o período de incubação do vírus. "Os sintomas da doença são muito variados, semelhantes aos da gripe. O paciente pode apresentar fadiga, náusea e vômitos, dor ou desconforto abdominal, especialmente na área próxima ao fígado, perda de apetite, febre baixa, urina escura, dor muscular e icterícia [pele e olhos amarelos]. Nos pacientes com HIV, os sintomas são iguais."
Álvaro diz que a doença costuma durar menos de dois meses, mas pode chegar a seis. "Raramente pode apresentar uma forma grave, chamada fulminante, que pode levar a óbito rapidamente, mas é possível. Além disso, nem todas as pessoas com hepatite A desenvolvem sintomas, existem casos de infecção assintomática e outros podem passar despercebido."
Tratamento
Os dois médicos garantiram que não existe tratamento específico para a hepatite A. O próprio corpo se encarrega de se livrar do vírus. Na maioria dos casos, o fígado se cura completamente em um ou dois meses sem danos permanentes. Essa também foi a orientação que Matheus e Rodrigo receberam de seus médicos. Há, no entanto, formas de se acelerar a cura. O tratamento, neste caso, pode ser baseado no manejo dos sintomas causados pela doença. "A recomendação é descansar, vale lembrar que o fígado é o órgão mais prejudicado pela hepatite A, por isso, evite a ingestão de álcool ou de medicamentos que podem prejudicar o fígado. Para pessoas com HIV, a recomendação é de que procure seu médico. Não é necessário interromper o tratamento antirretroviral", observa Valdez.
De acordo com a gerente da Covisa, Maria Dias Nakazaki, "a hepatite A não é de notificação individual, mas geralmente ela se apresenta em grupos comunitários que vivem em ambientes comuns. Hoje, não é possível afirmar que a cidade de São Paulo vive um surto da doença entre homens que fazem sexo com homens, mas estamos investigando", explicou.
Segundo ela, a Secretária Municipal de Saúde está alertando os profissionais sobre as importantes medidas de prevenção. Para evitar a exposição fecal-oral durante a atividade sexual, a prefeitura indica o uso de barreiras de látex durante o sexo oral e anal (camisinha adaptada, "dental dam", filme PVC); uso de luvas de látex para "dedar" e "fistar" e a lavagem de mãos, da região genital e anal antes e depois do sexo
Outra ação para frear o avanço da doença no estado de São Paulo é da coordenação Estadual de DST/Aids. No último mês, o órgão também emitiu uma nota técnica para chamar a atenção dos profissionais de saúde. "Em 2017, foram identificados 13 casos de hepatite A em Ribeirão Preto com as mesmas características da cidade de São Paulo. Vale ressaltar que não há registro de ocorrência de casos em 2016 em Ribeirão Preto", alerta o documento.
A Associação da Parada do Orgulho LGBT também se engajou na tentativa de alertar o público gay sobre o aumento da hepatite A. No último mês, eles publicaram o alerta no site oficial da entidade. Leia aqui.
Tanto a Covisa como o CRT defendem que é importante que os casos sejam notificados aos serviços de saúde. Essa informação pode colaborar para o melhor conhecimento do comportamento da doença.
Em São Paulo, o próprio paciente pode acessar o site da Covisa e preencher um questionário de notificação da hepatite A.

*Nome fictício para preservar a identidade do paciente 

Dica de entrevista
CRT – Assessoria de Imprensa
Tel.: (11) 5087-6933
Covisa – Assessoria de Imprensa
Tel.: (11) 3397-6807
Matheus Rossi
E-mail: matheusferragut@gmail.com

Talita Martins (talita@agenciaaids.com.br)

Simpósio avalia atualização de manejo das IST, do HIV e das hepatites virais



Levar as IST para o centro da resposta junto com o HIV/aids e as hepatites virais foi a proposta da diretora do Departamento de Vigilância, Prevenção e Controle das IST, do HIV/Aids e das Hepatites Virais (DIAHV), Adele Benzaken, no Simpósio “Manejo das IST, do HIV e das Hepatites Virais” no último dia do VII Congresso Brasileiro de Aids, na quinta-feira (13), no Rio de Janeiro. A diretora participou com o tema “Atualização do Manejo das Infecções Sexualmente Transmissíveis” e abordou a mandala da Prevenção Combinada; a mudança da terminologia de DST para IST; os Protocolos Clínicos e Diretrizes Terapêuticas (PCDT); a vacinação contra o HPV no SUS; e as novas definições para sífilis latente.
“Atualmente, o Ministério da Saúde tem trabalhado com protocolos, substituindo os manuais, o que representa uma mudança positiva sob o ponto de vista organizacional e normativo. Com essa nova conduta, os profissionais de saúde podem usar a mesma forma de diagnosticar e tratar”, observou Adele Benzaken ao comentar a inclusão dos protocolos. Sobre a mudança da nomenclatura – de DST para IST, anunciada em novembro de 2016 –, a diretora lembrou que o termo já era utilizado pela Organização Mundial de Saúde (OMS). “O termo IST alerta a população sobre a possibilidade de se ter e de transmitir a infecção, mesmo sem os sinais e sintomas. Por isso é considerado o mais adequado”, explicou.
A diretora do DIAHV lembrou que ainda há barreiras ao controle das IST no país. “Existem muitas perdas em diferentes níveis entre a infecção e a cura”. E alertou que a vacina contra HPV no SUS precisa ser trabalhada conjuntamente entre os profissionais de saúde, a fim de que não haja risco de baixa adesão. “Precisamos tratar o tema com empolgação, informar às pessoas sobre a necessidade da aplicação dessa vacina. A cobertura, apesar de todos os esforços, ainda está aquém do esperado”.
HEPATITES VIRAIS – A consultora do DIAHV especialista em hepatites virais, Elisa Cattapan, apresentou o tema “Atualização do Manejo das Hepatites Virais B e C”, ocasião em que abordou o cenário epidemiológico dos dois agravos. No caso da hepatite B, a maior taxa de detecção em 2016 está concentrada na faixa etária entre 40 e 49 anos, sendo que aumenta mais em homens a partir dos 35 anos de idade. “Essa população apresenta maior número de casos pois não adotou métodos de prevenção e não se vacinou”, afirmou Elisa Cattapan.
Já a hepatite C tem aproximadamente 1,7 milhão de pessoas infectadas, com maior concentração no público adulto. As regiões Sul e Sudeste apresentam, juntas, 86% dos casos detectados. “Isso se deve, em grande parte, à maior possibilidade de acesso ao diagnóstico nesses locais, que têm, ainda, estruturas de atendimento mais amplas em relação ao restante do país”, disse Elisa Cattapan.
O PCDT mais recente para hepatite B é de 2016 e, segundo Elisa Cattapan, apresenta alternativas ao anterior – de 2011 – tais como o arsenal terapêutico simples; superioridade de barreira genética; melhor posologia (reduzindo a dosagem de interferon de três vezes por semana ou de uma vez ao dia para uma vez por semana); e tratamento para hepatite Delta conforme tecnologias disponíveis no SUS. “O novo PCDT objetiva a substituição de medicamentos por componentes mais eficazes ou com posologia mais apropriada. A possibilidade de um tratamento finito não pode estar restrita à escolha do profissional de saúde. Recomendações diversas ilustram que o ganho obtido na terapia com interferon se dá com o início dessa terapia e sequência realizada com análogos”, disse.
Já o PCDT para hepatite C estabelece novas diretrizes terapêuticas nacionais e orienta os profissionais de saúde para que estabeleçam uma política baseada nas melhores evidências da literatura científica. “A intenção é promover assistência humanizada e especializada; buscar melhor qualidade na assistência e uso racional do arsenal terapêutico e demais insumos estratégicos; garantir melhores resultados em saúde pública e sustentabilidade do acesso universal ao tratamento; w reduzir a probabilidade de evolução para insuficiência hepática e câncer hepático”, detalhou Elisa Cattapan. Os objetivos do tratamento para hepatite C são a resposta virológica sustentada, com carga viral indetectável na 12ª semana ou na 24ª semana após o tratamento.
HIV – O manejo da infecção pelo HIV em adultos e em crianças e adolescentes foi tema da exposição da especialista do DIAHV em tratamento, Fernanda Rick. De acordo com o Boletim Epidemiológico HIV/Aids 2016, 827 mil pessoas vivem com HIV/aids no Brasil e cerca de 40 mil novos casos são registrados anualmente. Em 2014, foram registrados 12 mil óbitos devidos à aids.
A construção dos PCDTs de HIV/Aids no Brasil e as novas recomendações foram destacadas pela especialista. “Trabalhamos de forma árdua para colocar o material disponível em tempo hábil. Todas as informações estão baseadas em evidências científicas, com a avaliação da Conitec, que resulta na efetividade e sustentabilidade como política pública, com equidade e acesso universal ao SUS”, afirmou.
Dentre as principais alterações do PCDT para o Manejo do HIV/aids em Adultos, estão a incorporação de dolutegravir 50 mg para início de tratamento e como medicamento de uso restrito; a ampliação de uso do dolutegravir para segunda linha; a ampliação de uso para Pessoas Vivendo com HIV/Aids do alelo do HLA*-B5701 no SUS; e a exclusão, no SUS, dos medicamentos didanosina, saquinavir e fosamprenavir. O esquema inicial preferencial em adultos é o tenofovir, lamivudina e dolutegravir. Já o esquema inicial alternativo é o abacavir/tenofovir com lamivudina e efavirenz.
No caso da para coinfecção tuberculose-HIV, o esquema inicial preferencial sem critério de gravidade é tenofovir + lamivudina + efavirenz. Com critério de gravidade é tenofovir + lamivudina + raltegravir.
O Protocolo Clínico e Diretrizes Terapêuticas para o Manejo do HIV/Aids em Crianças e Adolescentes tem como principais alterações a utilização do medicamento raltegravir como primeira linha de tratamento para pacientes com idade entre dois e 12 anos; o dolutegravir para crianças acima de 12 anos; a vacina para HPV para ambos os sexos entre nove e 26 anos; e as desincorporações dos antirretrovirais didanosina, saquinavir e estavudina.
AGRADECIMENTOS – Na plateia, a escritora e ativista Janette Alvim Soares, de Guarapari (ES), agradeceu ao Ministério da Saúde por não ser mais paciente coinfectada com HIV e hepatite C. Ela descobriu a coinfecção em 1990 e iniciou o tratamento com daclatasvir, sofosbuvir e ribavirina somente em novembro de 2016. “Antes disso, passei muitos anos numa agonia só. Quando descobri que estava apenas monoifectada, que havia me curado da hepatite C, em maio de 2017, eu percebi que havia nascido novamente”, declarou. Durante o VII Congresso Brasileiro de Aids, ela colocou à venda o livro Pássaros ainda cantam em minha janela, em que narra a sua trajetória desde o movimento hippie, nos anos 70, até o dia que descobriu que tinha o vírus HIV e seu histórico de luta contra a doença.
Dica de entrevista
Assessoria de Imprensa do Departamento 
Tel.: (61) 3315-7665
Fonte: Assessoria de Comunicação - Departamento de Vigilância e Controle das IST, do HIV/Aids e das Hepatites Virais 
 

Saúde municipal de São Paulo disponibiliza testes de sífilis aos domingos na Paulista



O programa municipal de DST/AIDS, órgão da Secretaria Municipal de Saúde (SMS) de São Paulo, decidiu ampliar a testagem sorológica gratuita oferecida aos domingos na Avenida Paulista. A partir de agora, além dos testes rápidos anti-HIV, a unidade móvel do programa também vai disponibilizar exames de identificação da sífilis.
“Aproveitamos o sucesso da campanha ‘Fique Sabendo’ para estender a testagem também à sífilis. A ideia é aproveitar o fechamento para o trânsito de veículos na Av. Paulista, que ocorre todos os domingos, e oferecer à população a oportunidade de ter mais informações sobre as infecções sexualmente transmissíveis e a possibilidade de conhecerem sua condição sorológica”, explica Maria Cristina Abbate, coordenadora do Programa Municipal de DST/AIDS.
Outra novidade é a mudança do horário da campanha. A unidade móvel agora ficará estacionada das 12h às 16h, próxima ao Parque Mário Covas.
Além da testagem, ao menos 10 técnicos do Programa Municipal de DST/AIDS também vão oferecer aconselhamento, orientações e distribuição de insumos de prevenção contra o vírus da AIDS, como preservativos masculinos e femininos. O resultado dos exames sai em cerca de 20 minutos.
Dica de entrevista:
Programa Municipal DST/AIDS
Thiago Pássaro
(11) 3397- 2188 // 9-9714-9701

Fonte: Assessoria de Comunicação - Secretaria Municipal da Saúde

segunda-feira, 10 de julho de 2017

Autoteste de HIV estará disponível nacionalmente até o fim de julho em farmácias



O autoteste para detectar a presença do vírus HIV no organismo deve estar disponível em farmácias de todo o país até o fim do mês. Nesta semana, o primeiro teste desse tipo a ser vendido no Brasil começou a chegar às farmácias do Rio de Janeiro. O produto, que custa entre R$ 60 e R$ 70, pode ser comprado semreceita médica, e a testagem produz resultado 10 minutos após o sangue entrar em contato com o reagente.
O Brasil é o primeiro país da América Latina e Caribe a disponibilizar o autoteste em farmácias. Para a diretora do Departamento de DST, Aids e Hepatites Virais do Ministério da Saúde, Adele Benzaken, o produto é uma ferramenta importante para aumentar a capacidade de diagnóstico do vírus. Identificar a presença do HIV em 90% das pessoas infectadas é uma das metas da Organização das Nações Unidas (ONU) para 2020.
"Advogamos tanto com relação ao autoteste porque acreditamos que ele amplia e muito a cobertura diagnóstica. Têm pessoas que não querem ir à unidade de saúde para fazer o teste do HIV", pondera ela, que alerta que o resultado positivo no autoteste não é um diagnóstico. Para tal, é preciso confirmação de outros exames e acompanhamento de profissionais de saúde. "O teste da farmácia não é confirmatório. Com o autoteste positivo, deve-se buscar imediatamente a unidade de saúde para fazer novos testes confirmatórios", explica.
Segundo a diretora, o produto não será comprado pelo ministério para ser disponibilizado em unidades de saúde por causa do seu preço. "Sob o ponto de vista financeiro, ele está muito caro para adotarmos. Hoje, o Ministério da Saúde adquire o teste rápido por R$ 2. Nesse momento, achamos que o mais vantajoso é continuar comprando o teste rápido que já compramos e distribuímos".
Janela
Segundo a farmacêutica Orange Life, que produz o kit no país, a distribuição será levada a São Paulo e Espírito Santo na semana que vem, para depois expandir-se para o restante do território nacional. Os primeiros 10 mil kits de testagens foram distribuídos para algumas redes de farmácias no estado do Rio ao longo da última semana.
A responsável técnica da Orange Life, Larissa Lima, afirma que o teste tem 99,9% de precisão, mas só detecta a presença do HIV ao menos 30 dias após a relação sexual em que houve a transmissão. Antes disso, o organismo do indivíduo ainda não produziu anticorpos -  e são eles que apontam a presença do vírus durante o teste. Caso o resultado seja negativo, é recomendável repetir o teste mais vezes, 30 dias depois, 60 dias depois e 90 dias depois, segundo Larissa. Além dos instrumentos para a realização do teste, a embalagem do  teste contém os contatos do Disque Saúde (136) e um número da própria empresa farmacêutica, que também prestará informações ao usuário gratuitamente.
Tratamento
A diretora do Instituto Nacional de Infectologia Evandro Chagas da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), Valdiléa Veloso, acredita que o teste será importante para que os soropositivos possam começar o tratamento mais cedo, o que permite uma melhor qualidade de vida: "Se forem diagnosticadas e tratadas precocemente, a expectativa de vida [das pessoas com HIV] é semelhante à da população em geral. Então, é importante que elas se testem".
A pesquisadora acredita que a possibilidade de o teste ser feito em casa é uma ferramenta para levar a testagem a pessoas de grupos vulneráveis, que têm receio de buscar o serviço de saúde. "Essa disponibilização na farmácia é uma oportunidade para que as pessoas que não se sentem bem no serviço de saúde possam comprar o teste, se testarem e ter o seu resultado de forma reservada".
Para Valdiléia, a chegada do autoteste e a adoção da profilaxia pré-exposição, tratamento em que remédios consumidos regularmente reduzem a chance contágio, completam o leque de prevenção ao HIV no país. "As barreiras ainda continuam sendo o preconceito e a discriminação, e isso faz com que as pessoas não se abram para conversar sobre risco, prevenção. Isso principalmente com o retardo do diagnostico".
Estigma
Ativista pela prevenção ao HIV, Josimar Pereira da Costa é membro da secretaria-executiva do Fórum de ONGs/Aids e colaborador do Grupo Pela Vida. Ele concorda que mais possibilidades de testagens são bem vindas, mas vê com preocupação os testes feitos em casa. Josimar pede mais campanhas de conscientização para quebrar preconceitos contra a população soropositiva e desmistificar o que é viver com o vírus, para que a pessoa que tiver um resultado positivo no autoteste esteja mais preparada.
"O Brasil é um país em que há um grande estigma contra o HIV, e a pessoa tem medo de se revelar, medo de se expor, por conta de toda essa questão. Existe um preconceito que vê a pessoa como sendo intocável. Ela é rotulada como promíscua", diz ele. "É preciso dar muito apoio a essa pessoa, que testou sozinha em casa e descobriu que tem uma doença sem cura contra a qual ainda existe um estigma muito grande".
Costa vive com HIV há 27 anos e também acredita que as unidades básicas de saúde precisarão ter portas de entrada bem preparadas para atender os que realizaram o teste em casa. "Na clínica da família, por exemplo, tem que estar preparado desde o agente de saúde que vai receber essa pessoa".
A diretora do Ministério da Saúde afirma que a pasta realiza campanhas para combater a discriminação e destaca que a experiência dos países em que o teste foi disponibilizado é positiva. "O autoteste já é uma realidade fora do Brasil há mais de uma década e não temos nenhuma evidência de que isso provoca algum tipo de dano para a pessoa que é autotestada positivo. Ela não difere das outras [que testaram em outros locais]", aponta.

Fonte : Agência Brasil

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