A África do Sul que sediará a 21ª Conferência Internacional sobre Aids, que acontece na semana que vem (de 18 a 22), em Durban, mudou muito em relação ao "pária da aids" . Há 16 anos, o país já sediou o evento, quando o então presidente sul-africano Thabo Mbeki surpreendeu ao minimizar o elo entre o vírus HIV e a doença.
Situada no epicentro da pandemia mundial de aids, a África do Sul hoje se gaba de ter o maior programa de tratamento do mundo –3,4 milhões de pessoas recebem os medicamentos antirretrovirais (ARV) que permitem aos portadores de HIV viver vidas normais, informa a agência Reuters.
O contraste com a era Mbeki, durante a qual o ministro da Saúde louvou a beterraba e a batata africana como remédios para a aids e centenas de delegados abandonaram a conferência, porque o presidente deu a entender que a pobreza poderia ser a principal causa da doença, não poderia ser maior.
Durante sua presidência, Mbeki endossou um movimento alternativo que negava a existência do HIV e resistiu a pressões internas e internacionais para tratar da crise de aids com seriedade. Em vez disso, ele rejeitou os ARVs, dizendo se tratar de invenções ocidentais com efeitos colaterais nocivos.
"Os pacientes estavam morrendo como moscas. Nós os tratávamos com muito amor e carinho e vitaminas. Não tínhamos nada", contou a doutora Jean Bassett, que fundou o centro de tratamento de HIV da Clínica Witkoppen, em Johanesburgo, em 1996.
Ndlovu foi uma das pacientes tratadas na clínica. Diagnosticada com HIV em 2002, em princípio ela só recebeu vitaminas como forma de tratamento.
"Foram tempos difíceis. Fiquei muito assustada em criar um filho estando naquela situação", disse ela, atualmente com 38 anos.
Ndlovu afirmou que, em seu pior momento, sua contagem CD4 – que indica quão bem o sistema imunológico está funcionando– caiu para menos de 200, o que significa que ela havia desenvolvido a aids.
Ela começou a receber ARVs em 2004, depois que o governo Mbeki, relutante, iniciou a distribuição de medicamentos para os pacientes de aids, nesses momento mais doentes estavam esperando o veredicto de um tribunal em 2003, mas ela se recuperou.
No entanto, muitos sul-africanos portadores de HIV não tiveram a mesma sorte: um estudo de 2008, da Universidade Harvard, estimou que a obstrução de Mbeki resultou em pelo menos 330 mil mortes desnecessárias na primeira metade da década.
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