O Instituto de Tecnologia em Fármacos (Farmanguinhos/Fiocruz) vem trabalhando no desenvolvimento de um medicamento inovador voltado para crianças que vivem com HIV/aids: o efavirenz pediátrico de rápida absorção em água, elaborado a partir de nanotecnologia. O objetivo da iniciativa é melhorar a qualidade do remédio ingerido pelas crianças.
Liderado pelo pesquisador Helvécio Rocha, coordenador do Laboratório de Sistemas Farmacêuticos Avançados (LaSiFA), o estudo vai ao encontro da política da Organização Mundial da Saúde (OMS) em oferecer medicamentos mais adequados para o uso infantil.
Segundo Rocha, já foram realizados testes prévios em cobaias, comprovando a biodisponibilidade in vivo, ou seja, ficou comprovado que houve liberação da substância ativa no organismo do paciente. “É um comprimido elaborado com um sabor mais agradável, que se dispersa em água para facilitar a ingestão pelas crianças”, frisa o coordenador. A previsão é de que em dois anos sejam iniciados os testes em humanos.
O pesquisador informa que as partículas foram testadas ainda na escala micrométrica, isto é, mil vezes maior do que as da nanotecnologia. “Estamos, agora, avançando na escala nanométrica, e, de fato, só os testes comprovarão se a nanotecnologia será mesmo tão superior. De qualquer forma, apenas com a versão micrométrica já testada conseguimos aumentar a biodisponibilidade em três vezes em relação ao fármaco normal. Os resultados significam que uma menor dosagem poderia ser utilizada na formulação”, explica.
“No caso específico de crianças, é um benefício enorme, uma vez que poderia facilitar a fabricação de comprimidos menores, portanto mais fáceis de serem deglutidos”, continua Rocha.
De acordo com o Ministério da Saúde, a maior diferença entre antirretrovirais pediátricos e adultos está na apresentação farmacêutica, sendo líquidos para crianças de até seis anos de idade e comprimidos para os demais pacientes.
Sob este aspecto, outra importante vantagem é que a administração deste efavirenz é também mais fácil e segura do que as opções líquidas disponíveis, já que o comprimido é feito na dosagem exata para o tratamento, sem a necessidade de medir a quantidade a ser ingerida.
No caso da apresentação líquida, os pacientes podem ter dificuldade em ministrar a dosagem correta, conforme a prescrição médica. Rocha observa que a formulação líquida ressalta o sabor desagradável, além de ser mais inconveniente para transporte.
O efavirenz pediátrico desenvolvido pelo LaSiFA pode ser considerado uma inovação incremental, se levarmos em consideração que se trata de um aprimoramento das apresentações já existentes, porém, elaborado especificamente para o organismo das crianças, o que o torna mais eficaz, explica o pesquisador. Na composição do medicamento, é utilizado menos princípio ativo, o que ajuda na ingestão, além de promover a redução de custos de produção.
O trabalho de Rocha e equipe foi premiado no 9º Encontro Nacional de Inovação em Fármacos e Medicamentos (ENIFarMed), realizado ano passado em São Paulo. Dada a sua importância para a saúde pública, o estudo conta com financiamento do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), informa a Agência Fiocruz. “Os recursos contemplam a aquisição de novos equipamentos e também de insumos, reagentes e outros materiais, além da contratação de serviços terceirizados para algumas etapas do projeto. De qualquer forma, prevemos a finalização do projeto em três anos”, avalia o pesquisador.
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