segunda-feira, 20 de junho de 2016

Comunicação pode combater ‘rótulos’, afirma Laura Schoen, presidente dos negócios globais de saúde da agência Weber Shandwick














No primeiro dia do festival Lions Health – evento de Cannes Lions que debate a comunicação para as áreas de saúde e bem-estar –, a brasileira Laura Schoen, presidente dos negócios globais de saúde da Weber Shandwick, agência especializada em comunicação integrada e marketing para serviços de saúde, mostrou que a redução da mortalidade por diversas doenças não precisa passar por grandes descobertas científicas ou pela criação de novas gerações de medicamentos. Para salvar vidas, argumentou Laura, o combate a estereótipos e preconceitos relacionados a alguns tratamentos já pode fazer muita diferença.
Para exemplificar que o efeito global de certas doenças é bem diferente do que a maior parte da sociedade acredita, a executiva usou três exemplos: as mulheres têm duas vezes mais possibilidade de morrer de ataques cardíacos do que os homens; o HIV/aids é a principal causa de óbitos entre mulheres em idade reprodutiva; e o câncer de mama causa, comparativamente, mais óbitos em homens do que em mulheres. Em todos os casos, as noções pré-concebidas previnem diagnóstico e tratamento.
Nesse sentido, as agências de comunicação voltadas ao setor de saúde têm um trabalho a fazer com os clientes: conscientizá-los de que o tratamento não pode ser pautado por conceitos que não são mais verdadeiros. Entre eles, diz a executiva, está a noção de que mulheres têm menos risco de doenças coronárias, de que o HIV está restrito a homossexuais do sexo masculino e de que homens não têm câncer de mama.
Preconceitos
As noções sociais sobre determinadas doenças não são apenas restritas a gênero, mas também a grupos sociais. Em entrevista ao “Estado de S. Paulo”, Laura contou o um caso de uma mulher de alta renda, no Brasil, que só descobriu a origem de seus problemas respiratórios, que já duravam seis anos, após se consultar com um médico com experiência no Sistema Único de Saúde (SUS). “Foi necessário que ele tivesse a ideia de testá-la para tuberculose.”
O trabalho de conscientização sobre rótulos também precisa passar pelos profissionais de saúde. “Eu já ouvi, nos Estados Unidos, médicos dizerem que não atenderiam ‘este tipo de gente’, referindo-se a pessoas com doenças sexualmente transmissíveis”, diz. “Não é vergonha nenhuma ter uma doença sexual, não quer dizer que a pessoa seja promíscua. Ela pode ter se infectado em apenas uma relação. Não cabe ao profissional esse julgamento.”
Câncer
Em relação ao câncer de mama masculino, o painel de debate que a executiva comandou no Lions Health trouxe o documentarista americano Alan Blassberg, que perdeu avó, tia e irmã para o câncer de mama e do colo de útero. Ao tomar conhecimento da alta propensão genética para câncer de sua família, Blassberg resolveu também começar tratamentos preventivos para câncer de mama, como a realização de um mamograma por ano.
Apesar de a doença também ocorrer em homens, o cineasta encontrou um sistema de saúde completamente despreparado para atender pacientes do sexo masculino. Os questionários feitos aos pacientes sequer consideravam os homens. “Era desconfortável. Várias vezes, tive de responder a perguntas sobre o meu ciclo menstrual ou sobre gravidez”, diz ele.
Para endereçar o problema – e o preconceito – relativo ao câncer de mama, Blassberg passou dois anos pesquisando e filmando um documentário sobre o tema, chamado Pink & Blue: Colors of Hereditary Cancer (Rosa e Azul: Cores do Câncer Hereditário), que mostra as situações constrangedoras que homens com câncer de mama precisam passar.
Outra doença abordada foi o câncer de pulmão. Uma pesquisa mostrou que muitos pacientes deixam de tratar a doença adequadamente porque acreditam que são culpados pelo problema, uma vez que eram fumantes. “É este tipo de noção que precisa ser combatida, a de que alguém ‘merece’ ter uma doença”, diz Laura. “Isso é inconcebível. Ninguém merece ter câncer, assim como ninguém merece ter aids.”

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