domingo, 5 de junho de 2016

“Para chegarmos à periferia e tratar a hepatite, temos que educar muito nossos colegas”, afirma especialista durante o 9º Hepatoaids



A maior dificuldade que a gente tem hoje é ter colegas interessados em atender as hepatites. Os ambulatórios especializados estão lotados. Os ambulatórios do SUS [Sistema Único de Saúde] no país estão lotados”, afirmou Mario Reis, professor e pós-doutor do Departamento de Medicina Interna (gastroenterologia e hepatologia) da Universidade Federal do Rio Grande do Sul para a Agência de Notícias da Aids, nesta sexta-feira (3), no 9º Hepatoaids, seminário que aconteceu no Hotel Maksoud Plaza, em São Paulo.
“Nós precisamos trazer colegas [médicos] para a hepatite C. No entanto, hoje, a hepatite C ainda é uma doença que tem complexidade no manejo. Entre elas, decidir qual esquema de drogas o paciente vai usar, o tempo que vai durar o tratamento e avaliar as interações das drogas para hepatite com as outras drogas que ele já usa. Muitas vezes, o médico que está na unidade básica de saúde, tanto não tem conhecimento disso, quanto não tem interesse. E ele também não tem um estimulo”, observou Reis.
A afirmação de Reis foi utilizada para explicar o motivo pelo qual especialistas trouxeram para o Brasil um projeto que tem a capacidade de conectar médicos de todas as regiões do país. O Echo é uma plataforma que reúne diversos especialistas por meio de videoconferência. Liderado pelo Hospital de Clínicas de Porto Alegre em parceria com a Universidade Novo México, segundo Reis,  21 centros espalhados pelo Brasil fazem parte do projeto, tanto centros de hepatologia, gastroenterologia, infectologia e recentemente uma unidade básica.
“Para chegarmos à periferia e tratar a hepatite, temos que educar muito nossos colegas. Esse projeto já existe no mundo e foi implantando no Brasil no ano passado. Ele possibilita que o médico na sua casa ou no seu ambulatório, seja treinado. Ele não precisa se deslocar para um grande centro ou enviar seu paciente. Basta ter acesso a internet que ele pode ficar no interior do interior e fazer parte de um grupo que se reúne, de tempos em tempos, para discutir casos. Ele vai aprendendo com essas discussões e se tronando capaz de diagnosticar, indicar e controlar um tratamento” explicou Reis. 
Segundo a Sociedade Brasileira de Infectologia (SBI), a hepatite C é a principal causa de transplantes de fígado no país, respondendo por 40% dos casos. Ela pode causar cirrose, câncer de fígado e levar a morte. De acordo com o Ministério da Saúde, De 1999 a 2011, foram notificados 343.853 casos de hepatites virais no Brasil, incluindo os cinco tipos da doença (A, B, C, D e E). No caso da hepatite C, ela é uma doença crônica que na maioria dos pacientes não apresenta sintomas, seu tempo de evolução varia entre 10 e mais de 30 anos e o número total de pessoas vivendo com o vírus ainda é desconhecido.
Atualmente, há remédios que demonstram altas taxas de cura. Para o infectologista Paulo Abraão, que participou da mesa sobre Casos Difíceis em Hepatite C, nos últimos anos, o tratamento da doença foi revolucionado com as novas medicações, gerando muitas novidades no tratamento com poucos efeitos colaterais. “A gente não pode perder a oportunidade de encontrar esses pacientes, ver qual é a gravidade da doença deles e conforme os critérios do Ministério da Saúde tratar o quanto antes para que eles não evoluam para a piora da doença”, afirmou Abraão.
Estudos e Novas Drogas
Diversos estudos com as novas drogas para o tratamento da hepatite C e possíveis interações foram apresentados durante o seminário. Entre eles combinações do sofosbuvir com simeprevir e sofosbuvir com daclatasvir.
Ainda foi apresentada a eficácia do esquema 3D, que ainda não está disponível pelo SUS (Sistema Único de Saúde), mas o seu uso já liberado no Brasil. De acordo com Reis, o esquema 3D inclui três drogas (paritaprevir, ombitasvir, dasabuvir) em uma combinação de dois comprimidos. Ele atua em várias fases do ciclo da vida do vírus C, na inibição potente da replicação viral. “Com qualquer um desses esquemas, tanto o 3D, quanto o sofosbuvir e simeprevir ou sofosbuvir e daclatasvir, que é distribuído pelo SUS, nós temos estudos de vida real, com pacientes de diferentes perfis, atestando uma resposta virológica sustentada [altas taxas de cura da doença]”, disse Reis.
Porém o infectologista Mário Gonzáles alertou que, mesmo com tantos dados otimistas, os médicos precisam estar atentos à interação medicamentosa, ou seja, se o uso do remédio para a hepatite C combinado com remédios que o paciente já utiliza não fará mal ao paciente: “Às vezes a vontade de tratar um paciente com os novos medicamentos é tão grande que não observamos alguns detalhes de interação. Precisamos identificar todas as outras medicações que o paciente usa, até a que ele acha que não é importante. Existem muitas possibilidades de interação. É preciso sempre alertar os nossos colegas”.
As interações medicamentosas são numerosas, orientações, contra-indicações e ajustes de doses, conforme explicado por Gonzáles são atualizadas regularmente em um site em que os especialisas podem acessar (www.hep-druginteractions.org). “O tratamento ainda não é simples, mas podemos tratar o paciente com segurança”, afirma.
Desafios
Para Reis, agora, o novo desafio está nos pacientes que precisarem de terapia de regate dos novos medicamentos: “As novas drogas apresentam uma taxa de respostas boa, mas os estudos relacionados a resgates são muito pequenos. Essa é uma nova fronteira, pois, embora o número seja pequeno, ele vai se acumulando”.

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