sexta-feira, 8 de julho de 2016

Especialistas pedem mais tratamentos contra a hepatite C em lançamento da Frente Parlamentar Mista de Combate às Hepatites Virais em São Paulo


O deputado federal Vinicius Carvalho (PRB/SP), em parceria com o presidente da Frente Parlamentar de Hepatites Virais na Câmara Federal, o deputado Marcos Reategui (PSD/AP), e o deputado estadual Welligton Moura (PRB/SP), lançaram na tarde desta quinta-feira (7), na Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo, a Frente Parlamentar Mista de Combate às Hepatites Virais no Estado. "Muitos brasileiros têm hepatite e não sabem. Além de silenciosa, essa patologia ataca o fígado e pode até levar à morte. Este é só o começo de um trabalho sério de combate às hepatites virais no estado", disse Vinicius Carvalho, ao lançar a Frente Parlamentar em São Paulo. "Queremos promover ações que ampliem a divulgação e o conhecimento da população sobre as hepatites virais", completou.
Antes do lançamento oficial da Frente Parlamentar, os deputados receberam, no auditório Paulo Kobayashi, especialistas e membros da sociedade civil para um debate sobre os desafios no enfrentamento aos vírus no Brasil. O hepatologista Edison Parise, vice-presidente da Associação para Estudo do Fígado, comemorou a incorporação de novas drogas no SUS (Sistema Único de Saúde) contra o vírus C da hepatite e os ótimos resultados. "O novo tratamento dura entre 12 e 24 semanas, não tem muitos efeitos colaterais e a perspectiva de cura é de 90%. Entretanto, ele é caríssimo, ainda não temos medicamentos para todos que precisam, mas temos que ampliar a oferta no país", disse.
Segundo dados do Ministério da Saúde, cerca de 2 milhões de pessoas estão infectadas pela hepatite C no Brasil, mas apenas 25% sabem que têm a doença, que pode levar até 30 anos para se manifestar. "A hepatite C é uma doença silenciosa. As pessoas só acham que estão doentes quando ficam com o olho amarelo, mas esse é o estágio avançado. Ela não tem vacina, mas tem cura. Hoje, só 25% da população brasileira com hepatite C tem acesso ao tratamento. Isso não traz nenhum avanço, pois o tratamento começaria a fazer diferença no Brasil se atingisse 60% dos portadores de hepatite", explicou Parise.
O coordenador de Hepatites Virais do Ministério da Saúde, Marcelo Naveira, também esteve no evento e recomendou que as pessoas com 40 anos ou mais façam o teste para a detecção do vírus, independente de qualquer sintoma. "Como a transmissão é feita mais por via sanguínea e menos por via sexual, a maior parte dos pacientes foi infectada no passado, por isso grande parte dos doentes têm mais de 40 anos."
Ainda segundo o gestor, a hepatite C pode ser erradicada até 2050 no Brasil, mas para alcançar a meta é preciso maior acesso ao diagnóstico e conscientização da população. "Só no primeiro semestre de 2016 mais de 15 mil pessoas já receberam o novo tratamento contra a hepatite C. Já melhoramos, mas ainda temos muito a caminhar. Daí a importância de marcar o Dia Internacional das Hepatites Virais, comemorado sempre em 28 de julho, com distribuição de manuais, propagandas e projetos de conscientização pelo Brasil", afirmou Naveira.
O ativista Jeová Fragoso, presidente do Grupo Esperança, comemorou a instalação da Frente Parlamentar em São Paulo. "Fico muito emocionado e agradecido, estamos numa casa de leis e uma lei não pode ser mudada, só melhorada", disse. Jeová lembrou que as consequências mais graves da hepatite C são a cirrose hepática e o câncer no fígado. "Temos que alertar a população sobre a gravidade desta doença. Há muitas pessoas que ainda morrem em decorrência da hepatite C, temos um óbito por semana no Grupo Esperança.” Ainda segundo Jeová, dois terços das pessoas que estão na fila à espera de um transplante de fígado não conseguem ser transplantados a tempo e acabam morrendo. “Eu não estou nesta estatística, consegui antes o transplante, mas essa não é a realidade de muitos.”
Jeová pediu atendimento multidisciplinar para as pessoas com hepatite. “Não precisamos só de medicamentos, temos que ser atendidos também por psicólogos, nutricionistas e outras especialidades.”
O infectologista Roberto Focaccia, do Instituto de Infectologia Emílio Ribas, lembrou que um dos desafios no combate às hepatites é a prevenção. “O cuidado contínuo com a saúde depende de todos nós.”
“Nós, médicos, também sentimos o drama dos pacientes, principalmente quando ele chega e não temos remédio para ofertar, não há o que falar. Por isso, é importante a atuação das ONGs na construção de políticas públicas. Só o movimento social consegue sensibilizar governos e aproximar gestores”, finalizou Focaccia.
Hepatite Zero
O presidente da ABPH (Associação de Portadores de Hepatite), Humberto Silva, aproveitou o evento para falar da campanha Hepatite Zero, de iniciativa da ABPH em parceria com o Rotary Internacional. O objetivo, segundo Humberto, é testar o maior número de pessoas. "Criamos este trabalho para salvar vidas e incentivar o diagnóstico precoce, além da conscientização sobre a hepatite C."
Bastam uma picada e uma gota de sangue. O exame é rápido e o resultado também. Em menos de dois minutos a pessoa fica sabendo se tem hepatite C.
Humberto Silva só descobriu que tinha hepatite C depois de 38 anos com a doença. “Carreguei o vírus por 38 anos, sem dor, sem nenhum sinal. Quando descobri, estava com cirrose hepática, caminhando para um transplante ou quem sabe para o óbito”, relembra Silva.
A hepatite C representa a principal causa de transplante de câncer de fígado no país. A hepatite C é transmitida pelo sangue contaminado quando a pessoa compartilha alicate de unha, aparelho de barbear, agulha. O vírus também pode ser transmitido em procedimentos cirúrgicos, na hora de colocar piercing ou de fazer uma tatuagem quando os materiais não são esterilizados. Quem recebeu transfusão de sangue antes de 1993 também pode ter adquirido hepatite C.
Julho amarelo

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