sexta-feira, 30 de setembro de 2016

Aids Pediátrica: Especialistas alertam para risco de mães se infectarem com HIV durante amamentação e transmitirem o vírus para seus bebês


A ciência já comprovou que há risco da mulher que tem HIV passar o vírus para seu bebê durante a amamentação. A indicação do Ministério da Saúde é para que as mães soropositivas, ou que suspeitem ter o vírus, procurem o médico para ser testadas, aconselhadas e orientadas sobre como evitar a transmissão do vírus para o recém-nascido. Mas nem sempre acontece. Especialistas alertaram na manhã desta sexta-feira (30), na abertura do 9º Simpósio Internacional e 11º Encontro Nacional sobre Aids Pediátrica, no Centro de Convenções Rebouças, em São Paulo, que há casos em que a mãe se infectou na fase da amamentação - depois do pré-natal e do parto - e transmitiu o vírus para o bebê.
A pediatra Doris Sztutman Bergmann, da Secretaria Municipal de Saúde de São Paulo, explicou que um dos fatores que pode influenciar a transmissão vertical do HIV (de mãe para filho) por aleitamento materno é a infecção aguda da doença, onde a carga viral é muito alta. “Se a mãe, depois de já ter tido a criança, transar sem camisinha e se infectar, ela pode transmitir o vírus. Nas primeiras semanas da infecção o HIV se replica muito e pode ser transmitido com mais facilidade."
Segundo a médica, a amamentação é responsável por um terço dos casos de transmissão vertical do HIV em países desenvolvidos. "Nestes locais a taxa de transmissão durante a gestação é estimada entre 5 e 10%; durante o parto, de 10 a 15%; e durante a amamentação prolongada, quando as estratégias para a prevenção da transmissão vertical não são seguidas, a taxa é de 15 a 20%."
Avaliação
Na cidade de São Paulo, de acordo com Doris, foi realizado um estudo, em 2011, para identificar as oportunidades perdidas para a prevenção da transmissão vertical. Foram analisados 172 casos de crianças infectadas pelo HIV nascidas a partir do ano 2000. "Chegamos à conclusão de que a maior parte dessas crianças foi diagnosticada tardiamente, são filhos de mães infectadas no final da gestação, ou seja, podem ter sido infectados no parto ou na amamentação." Dos 172 casos, 42,8% das mães tiveram o diagnóstico após o parto e 100% dessas amamentaram seus filhos (53 crianças).
Para evitar a transmissão vertical via leite materno, a mãe não deve amamentar seu filho. A recomendação dos especialistas é para que o leite materno seja substituído por fórmula infantil. No Brasil, a criança exposta ao HIV, infectada ou não, tem direito de receber fórmula láctea infantil gratuitamente, pelo menos até completar 6 meses de idade. Em alguns estados, a fórmula infantil é fornecida ate os 12 meses de idade ou mais.
Além de Doris, participou do debate nesta manhã a pediatra Solange Dourado de Andrade, do Amazonas. Elas concordaram que a melhor saída para evitar a transmissão vertical via amamentação é recomendar o uso do preservativo e realizar testagem do HIV na mãe enquanto ela amamentar.
Segundo dados do Boletim Epidemiológico de 2015, o Brasil tem um taxa de 2,8 casos de aids em crianças de até 5 anos a cada 100 mil habitantes. Os estados do Rio Grande do Sul e o Amazonas apresentam as maiores taxas nesta população, 7,2 e 7,1 casos para cada 100 mil habitantes, respectivamente.
Diagnóstico tardio
"O diagnóstico tardio em crianças é uma realidade no Brasil e no mundo. Países da Ásia, Europa e África também apresentam dados tardiamente. Na Índia, por exemplo, 98% dos casos de aids em crianças são de transmissão vertical e o diagnóstico é descoberto depois de 60 meses que a criança nasceu. Na Irlanda, a idade média do diagnóstico em crianças é 6 anos, mas neste país a maior parte dos casos são de imigrantes, mães que já conhecem o diagnóstico, mas não seguem as recomendações. No Brasil, 221 crianças foram diagnosticadas entre 2005 e 2008, dessas, 193 tardiamente", contou a médica Solange.

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