Agências da ONU (Organização das Nações Unidas) e representantes do governo reuniram-se na semana passada (28) em Brasília para a última reunião de 2016 do Grupo de Trabalho do Programa Conjunto das Nações Unidas sobre HIV/Aids (GT-Unaids).O encontro debateu as tendências mais recentes da epidemia e alertou para a situação dos grupos mais vulneráveis.
A diretora do programa da ONU no Brasil, Georgiana Braga-Orillard, lembrou que, no mundo, desde 2000, mais de 1,6 milhão de novas infecções foram evitadas por conta de esforços de prevenção. O número de novos casos entre crianças caiu 50% desde 2010.
Segundo a chefe da agência, também houve avanços no acesso ao tratamento, que quase dobrou entre crianças e até 14 anos. Os dados coletados pelo Unaids revelam que, desde 2005, 1,8 milhões de pessoas começaram o tratamento antirretroviral e a taxa de mortalidade caiu 45%. A tuberculose é a principal causa de morte entre pessoas vivendo com HIV/aids.
Desafios
Geogiana explicou ainda que a população-chave no mundo é formada por homens entre 25 e 49 anos e a África é o continente com maior risco de contaminação. A conjuntura da faixa etária dos 15 aos 24 anos também preocupa, pois esses jovens, de acordo com a diretora do Unaids no Brasil, não têm acesse pleno a terapia.
Apesar dos progressos, desde 2010, não houve queda significativa no número de novas infecções na população em geral — o que indica que, embora o tratamento tenha tido êxito, a prevenção não.
Sobre o tratamento antirretroviral, a diretora do Unaids afirmou que a expectativa é de que em 2020 não será mais necessário tomar uma pílula por dia — como acontece atualmente —, mas sim uma injeção a cada três meses.
Situação do Distrito Federal
Também presente na reunião, o subsecretário de Saúde do Distrito Federal (DF), Tiago Coelho, informou que atualmente 18 mil pessoas vivem com HIV/aids no DF. Desse contingente, 11 mil recebem tratamento antirretroviral gratuito. Entre os indivíduos sob terapia, 93% estão com a carga viral indetectável — índice acima da meta de 90% proposta pelo GT.
Apesar de os óbitos por causas relacionadas à epidemia terem registrado queda de 11% de 2014 a 2015, outros desafios, como o número de novas infecções, geram preocupação entre as autoridades. Taguatinga, Ceilândia, Águas Claras, Samambaia, Asa Norte e Lago Norte são as regiões administrativas com maior incidência de HIV/aids.
Segundo Tiago, foram 242 novos casos somente em 2016. De acordo com o subsecretário, as populações-chave do Distrito Federal são de de homens que fazem sexo com outros homens (HSH) e adultos entre 20 e 49 anos
A respeito de outras infecções sexualmente transmissíveis (IST), o subchefe da pasta informou que, em 2016, foram notificados 1.117 casos de sífilis no Distrito Federal, com maior prevalência entre a população masculina.
Políticas devem ser pautadas por direitos humanos
A reunião em Brasília foi também a última reunião do biênio 2015-216, durante o qual o Escritório das Nações Unidas sobre Drogas e Crime (UNODC) ocupou a presidência do GT que, a partir de 2017, passará para o Fundo de População da ONU, o UNFPA.
O representante do UNODC no Brasil, Rafael Franzini, lembrou do apoio dado pelo grupo às ações do governo voltadas para a população privada de liberdade. Durante o biênio, alertou o dirigente, houve um crescimento desproporcional do número de brasileiros sob cárcere, onde enfrentam riscos de saúde mais altos associados a HIV/aids e tuberculose.
Outra frente de trabalho do grupo considerada fundamental por Franzini foram os estímulos à criação de políticas públicas para a juventude, levando em conta questões como orientação sexual, raça, violência, discriminação e direitos humanos.
Franzini elogiou o processo que levou à criação do Programa Jovens Embaixadores. “Selecionamos 20 jovens que representam a diversidade de Brasilia: negros, gays, trans, estudantes, entre outros, que receberam treinamento para participar de fóruns, para defender seus direitos, propondo sua visão e compartilhando com outros jovens suas ideias”, explicou.
“O fim da epidemia de aids não poderia ser alcançado sem considerar os direitos humanos. E isso torna-se claro quando são considerados temas como a discriminação no âmbito laboral, a expectativa de vida da população trans e as vulnerabilidades associadas à raça, ao uso de drogas e à violência contra a população LGBT”, acrescentou.
Segundo Franzini, esses temas precisam ser discutidos, uma vez que “ajudam a criar estigmas que logo são obstáculos para a execução de políticas publicas para acabar com a epidemia”.
Fonte : ONU Brasil
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