quarta-feira, 14 de dezembro de 2016

O adeus a Dom Paulo Evaristo Arns, um defensor dos direitos humanos


Morreu em São Paulo nesta quarta-feira, 14, aos 95 anos o cardeal dom Paulo Evaristo Arns, arcebispo emérito de São Paulo. Ele estava internado na Unidade de Terapia Intensiva (UTI) do Hospital Santa Catarina desde 28 de novembro com um quadro de broncopneumonia e nos últimos dias apresentou piora do sistema renal. Com infindáveis contribuições à valorização da vida, dom Paulo sempre se mostrou incansável na luta pelos direitos humanos e incluiu nela as pessoas vivendo com HIV/aids. Frente à disseminação da doença, em 1995, numa entrevista à "Folha de S. Paulo", ele defendeu o uso de preservativos, indo contra o que a Igreja recomendava aos fiéis. Em 2000, apoiou e compareceu ao histórico encontro "A Aids e os Desafios para a Igreja do Brasil", que aconteceu em Itaici (SP).  Foi a primeira vez que a Igreja Católica do Brasil  discutiu o controle da doença e o papel dos católicos diante da questão. Dom Paulo defendeu que a vida fosse escolhida. E recebeu dos ativistas o pedido para que contaminasse os outros líderes da Igreja com sua boa vontade.
Filho de imigrantes alemães, dom Paulo nasceu em 1921 em Forquilhinha, no interior Santa Catarina. Após ser ordenado sacerdote em 1945,  foi estudar na Sorbonne, em Paris. Lá, licenciou-se em Letras, com ênfase em estudos brasileiros, latinos, gregos e história antiga.
Dom Paulo ocupou o posto de arcebispo Metropolitano de São Paulo entre 1970 e 1998. Nesse período, notabilizou-se na luta pelos direitos humanos. Nos anos 70, quando a ditadura brasileira passou pelo período considerado mais duro, não foram poucas as vezes em que ele se colocou contra o regime.
Em março de 1973, Dom Paulo presidiu a “Celebração da Esperança”, em memória de Alexandre Vannucchi Leme, estudante universitário morto pela ditadura. Um ano depois, acompanhado por familiares de presos políticos, teve um encontro com Golbery do Couto e Silva, em que apresentou um dossiê sobre os casos de 22 desaparecidos. Nesse mesmo mês, ele havia sido nomeado cardeal pelo papa Paulo VI.
Um dos casos mais notórios de “desobediência ao regime” ocorreu dias depois de o jornalista Vladimir Herzog aparecer morto em uma cela do DOI-CODI, na rua Tutóia.
Oficialmente, o regime militar informou que Herzog teria se suicidado. Anos depois o governo reconheceu que Herzog foi vítima de tortura, causa real de sua morte.
Dias após a morte, dom Paulo comandou um ato ecumênico na praça da Sé, que reuniu cerca de 8.000 pessoas em memória de Herzog e causou apreensão ao regime.
Ao lado de dom Paulo estavam o rabino da Confederação Israelita Paulista, Henry Isaac Sobel, e o reverendo Jaime Nelson Wright, pastor presbiteriano. O ato foi considerado a maior manifestação pública de repúdio ao regime desde o início da ditadura.
Dois anos depois, quando cerca de 900 estudantes da Pontifícia Universidade Católica (PUC-SP) foram retirados do campus da universidade pela Polícia Militar de São Paulo, dom Paulo retornou às pressas de Roma para se posicionar contrário ao que ele considerou uma arbitrariedade.
Dom Paulo também teve participação efetiva no projeto Brasil Nunca Mais, que foi realizado clandestinamente de 1979 a 1985. O resultado foi um relatório sobre 707 processos do Superior Tribunal Militar, que expôs a repressão política no Brasil.
O trabalho ganhou popularidade com a publicação do livro ‘Brasil Nunca Mais’, em 1985. Ele também foi uma das vozes das Diretas Já, um ano antes, quando a emenda Dante de Oliveira, que previa eleição direta para presidente da República foi derrotada no Congresso Nacional.
Dentro da igreja católica, dom Paulo atuou na criação da Comissão Justiça e Paz de São Paulo e incentivou as pastorais Operária e da Moradia. Com o apoio da irmã, Zilda Arns, que morreu no Haiti, durante o terremoto de 2010, criou também a pastoral da Infância.
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Redação da Agência de Notícias da Aids com informações da Veja Online

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