terça-feira, 28 de março de 2017

Direitos reprodutivos de mulheres com HIV são defendidos por infectologista Mariliza Henrique em Fórum, em SP



“A contracepção e o direito reprodutivo da mulher que vive com HIV não é conversada. Os médicos não falam ela sobre isso. A maioria diz que esse assunto cabe ao ginecologista. E, por conta da sorologia, o especialista acha melhor ela não engravidar. Mas quantos perguntam isso a ela?”, questionou a infectologista Mariliza Henrique, do Programa Estadual de DST/Aids de São Paulo.
A maioria das mulheres que vivem com HIV iniciam a vida sexual mais cedo, antes dos 15 anos. Em 60% dos casos, a primeira gestação acontece antes dos 20 anos. Quando a gravidez não é planejada, o pré-natal é inadequado ou ausente. Em 90% dessas gestações o vírus é transmitido da mãe para o bebê. Essas afirmações foram apresentadas pela dra. Marliza, na tarde desta segunda-feira (27), durante 3º Fórum Planejamento Reprodutivo: avanços em políticas públicas para mulher e Seminário Internacional de Boas Práticas.
Segundo a especialista, no Brasil, 54% das mulheres que não vivem com HIV não planejaram a gravidez. Entre as soropositivas, esse número é de 83% e 70% delas engravidou depois do diagnóstico de HIV. No entanto, 48% estavam em uso de algum método contraceptivo.
Práticas sexuais de risco, uso de drogas, violência doméstica e ofertar a camisinha como o único método contraceptivo disponível, segundo a infectologista, são fatores de risco que colaboram com a vulnerabilidade da mulher para uma gravidez indesejada.
“Mulheres com HIV têm o direito a uma decisão consciente sobre que métodos anticonceptivos que vão usar. Também, se querem ou não ter filhos. Elas devem ser orientadas sobre quais métodos estão disponíveis no SUS [Sistema Único de Saúde]. Saberem desde o mais ao menos eficaz e assim tomarem uma decisão sobre aquilo que querem”, afirma a dra Mariliza.
Desejo pelo filho
O número de homens soropositivos que desejam ter filhos é de 43%. Já o de mulheres é de 30%. Cerca de 20% desse total se envolve em relações sexuais desprotegidas com a intenção de conceber um filho. “As tentativas de uma concepção sem orientação ou planejamento expõe o parceiro soronegativo ao maior risco de uma infecção pelo HIV, além de aumentar a taxa de transmissão do vírus para a criança. É preciso acompanhamento médico”, explica a médica.
O risco de um parceiro soronegativo se infectar pelo HIV, segundo a médica, é 1,8 vezes maior, quando também ocorreu concepção. “A maioria das pessoas infectadas nessas condições adquiriu o HIV 6 meses antes da concepção ou durante os 6 primeiros meses de gravidez”, continua.
A redução da carga viral para níveis indetectáveis reduz em 2% o risco de transmissão pelo HIV. O uso do tratamento antirretroviral apresenta 96% de chances de prevenir a transmissão horizontal do vírus.
Outro olhar para a prevenção
A dra. Mariliza também chamou a atenção para a falta de orientação em casos de resultado negativo para uma gravidez: “Se uma mulher vai fazer o teste de gravidez e o resultado dá negativo, ninguém conversa com ela sobre prevenção, ela simplesmente vai embora. Prevenção é depois do resultado, temos que conversar, testar e orientar. Neste bate-papo é possível falar de uma gravidez não planejada e das infecções sexualmente transmissíveis.”
De acordo com o dr. Luiz Barramontes, professor e pesquisador na Unicamp (Universidade Estadual de Campinas), o Brasil gasta mais de R$ 4 bilhões por ano com uma gravidez indesejada, são R$ 2.293 por gestação. “Se metade disso fosse usado na prevenção dessas gestações, teríamos um cenário social muito melhor”.

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