segunda-feira, 27 de março de 2017

Pesquisadores propõem uma nova maneira de avaliar a prevenção com medicamentos



Um dos métodos recentes mais promissores para inibir o crescimento de casos de HIV é a profilaxia pré-exposição (PrEP), um medicamento preventivo para pessoas não infectadas pelo HIV. Tal estratégia, no entanto, apenas funciona se aqueles que fizerem a PrEP se mantiverem engajados no cuidado preventivo e permanecerem ingerindo as pílulas. No entanto, este controle de adesão e cuidado se mostra difícil em situações que lidam com o mundo real.
Em um novo artigo publicado no periódico AIDS, um grupo de pesquisadores da Brown University se apoiou na própria experiência em fornecer e estudar programas de PrEP para propor um novo sistema apto a compreender e avaliar como a PrEP é implementada na prática clínica. No texto, os pesquisadores sugerem nove etapas para pesquisadores e provedores clínicos poderem avaliar com mais precisão como o comportamento dos pacientes contribui para mantê-los soronegativos e aderindo à PrEP.
“É importante visualizar a adesão à PrEP como um continuum, pois os pacientes podem abandonar o tratamento a qualquer momento”, afirmou um dos coautores do paper do periódico, Dr. Philip Chan, professor assistente de medicina da Brown´s Warren Alpert Medical School e médico de doenças infecciosas no Miriam Hospital, onde dirige um programa com a PrEP que serve a todos na Rhode Island. “Estamos fornecendo um modelo para saber como podemos identificar e ajudar pessoas que se encontram em risco de adquirir HIV permanecerem não infectadas”.
Segundo Amu Nunn, professora associada da Brown University School of Public Health, já nos primeiros programas de implementação da PrEP, os médicos se deram conta de que às vezes é difícil ajudar os pacientes a manter o cuidado preventivo e continuar a tomar o medicamento da PrEP. Nos primeiros estudos acadêmicos com a PrEP, supôs-se que a adesão ao medicamento seria alta. No entanto, os resultados em tais estudos muitas vezes são diferentes aos daquelas clínicas que lidam com situações do mundo real.
“Importantes estudos de pesquisa e projetos de demonstração com a PrEP foram bastante eficazes em reduzir a aquisição de HIV”, disse Nunn, “mas é hora de ir além dos ensaios clínicos para implementar e estudar maneiras de inserir a PrEP em redes de segurança e cuidados primários, onde é mais necessária. Propomos uma abordagem baseada nas nossas experiências em fornecer a PrEP em situações clínicas próximas às do mundo real. Isto irá nos ajudar a avaliar como medir o progresso da PrEP junto à população”.
Em um estudo realizado no ano passado analisando o progresso de programas em clínicas em diversas cidades americanas, Nunn, Chan e outros colegas descobriram que, entre os pacientes que se inscreveram para iniciar a PrEP, apenas cerca de 60% mantiveram os cuidados preventivos após o período de seis meses. Neste estudo, o objetivo foi identificar em quais pontos intervenções melhorariam o acesso à PrEP e como se poderia incentivar os pacientes a manter uma rotina de cuidados preventivos.
Nove etapas da PrEP
Nove etapas foram propostas pela equipe da Brown University: (1) identificação de indivíduos com maior risco de contrair HIV; (2) aumentar a conscientização sobre o risco de HIV entre eles; (3) aumentar a sensibilização da PrEP; (4) facilitar o acesso à PrEP; (5) estabelecer um vínculo com o centro que oferece a PrEP; (6) prescrever a PrEP; (7) iniciar a PrEP; (8) aderir à PrEP e (9) reter indivíduos aderindo à PrEP.
Em grande parte da literatura produzida por pesquisas na área, estudiosos sugerem esta progressão em apenas quatro passos (identificar aqueles em risco, aumentar o conhecimento sobre a PrEP, garantir o acesso à PrEP, assegurar a adesão ao medicamento), mas Chan e Nunn disseram que tal simplificação deixa ainda muitas lacunas, de modo que problemas podem escapar. “O processo é mais complicado e cheio de nuances do que a maioria pensa”, afirmou Chan.
Por exemplo, mesmo com pacientes identificados como estando em alto risco de contrair HIV e bem informados sobre o que é a PrEP, ainda assim eles podem não se avaliar em risco o suficiente para sentirem motivação de tomar a PrEP, afirmam Nunn e Chan. A PrEP possui efeitos colaterais e pode custar caro. É por isto que os passos de identificação de pacientes com risco e se certificar de que eles entenderam o próprio risco de contrair HIV são essenciais.
Em outro exemplo, os pesquisadores notaram que a adesão ao medicamento da PrEP nem sempre é a medida mais precisa de sucesso para avaliar o impacto da PrEP sobre a saúde pública. A retenção no cuidado é mais importante, eles disseram. Por um lado, a adesão à PrEP não é o único parâmetro que pacientes com alto risco deveriam adotar para se protegerem da transmissão do HIV – testes de rotina para HIV e outras DSTs, aconselhamento sobre redução de parceiros sexuais, uso de preservativos também são importantes. Por outro lado, alguns pacientes podem não necessitar da PrEP ao longo do tempo, na medida em que mudem seus comportamentos de risco e parceiros sexuais. Uma pessoa que se estabiliza em uma relação monogâmica e pratica sexo seguro pode não precisar mais da PrEP, mas isso não deve ser percebido como uma falha na prevenção.
Em futuros estudos, afirma Nunn, ela e seus colegas irão focar suas atenções em detectar em que momento e porque as pessoas deixaram de lado seus cuidados preventivos.

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