Lideranças do movimento social de luta contra a aids denunciaram, nessa quarta-feira (5), que há um desmonte da política contra a aids na cidade de Santo André, no Grande ABC. Segundo a Ostra (Organização de Solidariedade, Trabalho e Respeito à Aids), entidade da sociedade civil que acolhe pacientes soropositivos na cidade, depois das eleições municipais e troca de governo, funcionários da prefeitura que ajudaram a construir a resposta contra a aids em Santo André estão sendo demitidos ou transferidos para outros serviços de saúde. A prefeitura nega e garante que há uma reestruturação da política de aids na cidade.
De acordo com a denúncia, o primeiro indício do retrocesso é a mudança na coordenação do Ambulatório Vila Guiomar, principal serviço de assistência ao portador do HIV na cidade. Segundo a ONG, a coordenadora deste espaço foi transferida para outro serviço. O fato causou estranheza entre funcionários e usuários do local. "Eles decidiram pela mudança sem consultar ninguém. Não houve nenhuma discussão técnica, isso representa um retrocesso injustificável e pode trazer prejuízos para os usuários", afirmou Maria Elma Tavares, presidente da Ostra.
Além disso, há três dias a prefeitura demitiu a coordenadora do Programa de Aids, Ana Aparecida Chong, uma das fundadoras do programa. "Esperamos bom senso da atual gestão e queremos que essa situação seja revista, o Programa de Aids não pode fechar as portas", disse uma fonte que preferiu não ser identificada.
A Prefeitura de Santo André, por meio da Secretaria de Saúde, informou que o núcleo DST/Aids não vai acabar e que a administração está reestruturando o Ambulatório de Moléstias Infecciosas. Em nota a pasta informou que está fazendo algumas avaliações na rede de saúde e já identificou a necessidade de reajustes para melhor atender a população.
Sobre quem vai assumir o programa, a nota diz que ainda não há um escolhido, mas a prefeitura garante que o profissional será experiente. "Os atuais funcionários do local foram convidados a permanecer no serviço e vão continuar atendendo as políticas do Ministério da Saúde."
Com relação ao ambulatório da Vila Guiomar, a prefeitura disse que o espaço será coordenado por um infectologista, professor e preceptor dos residentes da Infectologia, com vasta experiência no Ambulatório de Moléstias Infecciosas, mas não revelou o nome do profissional.
A assessoria de imprensa informou ainda que com a transformação da Unidade de Pronto Atendimento Centro em Unidade Básica de Saúde (prevista para o segundo semestre), o atendimento será centralizado, ou seja, todo centro de referência ficará no mesmo lugar proporcionando maior efetividade no acompanhamento dos munícipes e facilitando o acesso da população.
Outras manifestações
O Foaesp (Fórum de ONGs/Aids do Estado de São Paulo) publicou nesta semana uma documento sobre a situação em Santo André e aproveitou para pontuar outros fatos que estão ocorrendo no estado de São Paulo. O documento diz que há um desmonte na resposta contra a aids em alguns municípios. "As vésperas do Dia Mundial da Saúde, em 7 de abril, vemos o risco de desmoronar o trabalho construído ao longo de três décadas. Lamentavelmente o fenômeno de fechamento de CTAs (Centro de Testagem e Aconselhamento em DST/Aids) parece ter refletido em várias grandes cidades do interior. Chegam notícias que, em nome da redução de gastos ou de alguma nova política não sabida, o fechamento destes serviços parece ser a orientação principal. Além disso, vários municípios ainda não nomearam seus coordenadores de programa deixando paralisadas ações e decisões sérias envolvendo o atendimento, e a qualidade de vida dos pacientes, decisões têm sido tomadas sem que se consultem todos os atores envolvidos, sobretudo as áreas técnicas."
Segundo o Foaesp, as ações de diagnóstico e tratamento carecem de incremento de ação e não redução de serviços. "É necessário um planejamento sério, sintonizado com as realidades locais. É preciso que a Secretaria Estadual de Saúde de São Paulo atue no sentindo de reafirmar a política pública, preconizada na esfera federal e estadual, ampliando o comprometimento dos municípios e fazendo valer o pactuado nos fortalecimentos dos SAEs (Serviços Especializados em DST/Aids) e CTAs. Somente com comprometimento é que teremos avanços, diante de uma epidemia que atinge fortemente o estado mais populoso do país." (Leia o documento completo).
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