sexta-feira, 19 de maio de 2017

Ativistas divergem sobre venda de testes de HIV em farmácias; exame estará disponível nas drogarias a partir de junho

Ativistas divergem sobre venda de testes de HIV em farmácias; exame estará disponível nas drogarias a partir de junho

A Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) aprovou nesta semana o primeiro autoteste de HIV para venda em farmácias do país. Destinado ao público geral, o exame é de triagem e funciona com a coleta de gotas de sangue, de forma semelhante aos testes já existentes para medição de glicose por diabéticos (leia mais). Ativistas ouvidos pela Agência de Notícias da Aids apontaram pontos positivos e negativos desta iniciativa. Muitos estão preocupados com a falta de aconselhamento caso o resultado dê positivo. “A oferta do teste em farmácia deve ser acompanhado da garantia do acesso pleno à saúde para não se tornar um problema em um momento tão importante para a vida das pessoas que é o diagnóstico", disse o psicólogo Salvador Côrrea. Na mesma linha, o ativista José Hélio Costalunga, da RNP+ Brasil, observou que o teste de HIV não é como o de gravidez. "A pessoa tem de estar preparada psicologicamente para receber o resultado positivo. Ainda não há cura para o HIV/aids." Para o jovem Carlos Henrique, da Rede São Paulo Positiva, “mais importante do que vender testes é ter uma política eficaz contra a discriminação, e uma rede de saúde mental que funcione no SUS, para atender a demanda cada vez maior de pessoas em sofrimento psicológico por causa do estigma.”
Por outro lado, há quem defenda o fácil acesso ao exame.  O militante Renato da Mata acredita, por exemplo, no livre arbítrio. "Se o cidadão quer ou não usar o preservativo a escolha e a responsabilidade é dele. Temos que oferecer todas as ferramentas disponíveis para a população. Brunna Valim, da Rede Trans Brasil, lembrou que o teste em farmácia estará disponível para os que não vão aos serviços de saúde. "Quem mora em cidade pequena, por exemplo, pode encontrar o vizinho no serviço de saúde e desistir do exame."
O produto, registrado com o nome de Action, só é capaz de indicar a presença do HIV 30 dias depois da exposição. Esse período é o tempo que o organismo precisa para produzir anticorpos em níveis que o autoteste consegue detectar.  Se o resultado for negativo, a recomendação é que o teste seja repetido 30 dias depois do primeiro teste e outra vez depois de mais 30 até completar 120 dias após a primeira exposição. Se o resultado for positivo, o paciente deve procurar um serviço de saúde para confirmação do resultado com testes laboratoriais e encaminhamento para o tratamento gratuito adequado, se for necessário. Leia a seguir o que dizem os ativistas:
Aline Ferreira, estudante de psicologia e membro da Rede de Jovens São Paulo Positivo: “Penso que seria muito bom se tivéssemos superado o estigma relacionado ao HIV. Fico um pouco preocupada com alguém fazendo o teste sozinho em casa. Hoje, mesmo com todas as deficiências do sistema, os profissionais tem uma formação para informar o diagnóstico. Eles procuram minimamente mobilizar a rede, garantir consultas e etc. Essa notícia, sobre a provação de um autoteste, chega simultaneamente ao fechamento dos CTAs [Centro de Testagem e Acolhimento], o que torna o cenário bem mais assustador. Acredito que seria incrível para a prevenção ter um teste no armarinho do banheiro para ser feito de tempos em tempos, o problema é que não olhamos para o HIV com a naturalidade que vemos o diabetes ou a hipertensão. Ainda existe muito mito e medo. Não sei o quanto isso pode ter um impacto negativo, espero que eu esteja sendo só pessimista, mas acho irresponsável vender testes de HIV nesse momento.” 
Brunna Valin, ativista LGBTI e articuladora da Rede Trans Brasil: "Sou a favor da venda de testes de HIV em farmácias porque muitas pessoas não vão aos serviços de saúde. Quem mora em cidade pequena, por exemplo, pode encontrar o vizinho no serviço de saúde e não fazer o exame. Acredito ainda que as bulas destes testes trarão orientações corretas caso o resultado seja positivo. Além disso, a facilidade do acesso pode contribuir para o diagnóstico precoce e diminui o tardio."


Rodrigo Pinheiro, presidente do Foaesp (Fórum de ONGs/Aids do Estado de São Paulo): "Sou favorável à ampliação da testagem, mas neste caso específico tenho dúvidas, principalmente nos casos positivos. Como será o aconselhamento? A maioria da população não tem informações como proceder."


Salvador Côrrea, psicólogo, ativista e coordenador de treinamento e capacitação da Abia (Associação Brasileira Interdisciplinar de Aids): "A ampliação do alcance da testagem para HIV é de extrema importância para a sociedade. No entanto, muitos fatores precisam ser pensados quando se trata de uma das infecções mais estigmatizadas dos últimos anos. Certamente o teste rápido para HIV nas farmácias merece uma atenção especial e um debate apropriado, com ampla participação social. Dentre os fatores para pensar, é  importante oferecer aconselhamento pré e pós teste, garantir o acesso pleno ao serviço de saúde, oferecer apoio com uma equipe interdisciplinar bem preparada. Infelizmente isso não tem sido alcançado por muitos serviços. Ou seja, as ações bem sucedidas que nos levaram a ser referência no passado precisam ser resgatadas nos serviços existentes, e adaptados a novas abordagens diante do novo contexto atual. Precisamos de uma ampliação da testagem na própria rede de saúde, com profissionais capacitados para testagem, acolhimento em serviços que respeitem as diversidades  - e não podemos, em nenhuma hipótese, jogar uma responsabilidade que é da saúde pública para as costas dos indivíduos - o acolhimento é fundamental. Por isso precisamos fortalecer a rede de atenção às pessoas com HIV. A oferta do teste em farmácia deve ser acompanhado da garantia do acesso pleno à saúde para não se tornar um problema em um momento tão importante para a vida das pessoas que é o diagnóstico."
Marta McBritton, presidente do Instituto Cultural Barong: “Já sabíamos desde o ano passado que a venda de testes de HIV nas farmácias seria autorizada. Eu não sou contra, não podemos tutelar as pessoas, há autonomia. Todos têm o direito de ter acesso aos testes. Num mundo ideal, o melhor é que a pessoa recebesse o resultado por um profissional de saúde, mas não vejo diferença daquela pessoa que pede para o médico o exame de HIV e depois abre com a senha do laboratório. Já que isso é um fato, nós de ONGs, o Ministério da Saúde, e os programas de aids precisam de mais instrumentos de informação para que as pessoas possas acessar sozinhas a orientação correta. No caso de positivo, geralmente o cidadão recorre ao google, então, ele precisa ter acesso as informações. O trabalho de comunicação nas redes sociais também é fundamental. O Barong não é contra, acreditamos que a individualidade das pessoas tem de ser respeitadas. Vamos vê como isso vai funcionar na prática, será um aprendizado para todos nós. O HIV é complicado, há ainda muito estigma. Gostaria de ler a bula do teste, penso que ela deveria ser acolhedora.”
José Araújo Lima, do Epah (Espaço de Prevenção Humanizada): "As novas tecnologias de prevenção devem ser bem recebidas, mas neste caso o risco é muito grande em um país com baixo nível cultural e saúde pública precária. A falta de um suporte humano e acolhimento podem trazer sérios problemas caso a pessoa descubra que é soropositiva. Usar o teste antes das relações sexuais, como prevenção, é outro grande víeis negativo nesta comercialização. Sou totalmente contra."

José Hélio Costalunga, secretário executivo da RNP+ Brasil: "A pessoa tem de estar preparada psicologicamente para receber o resultado de um teste de HIV,  não é como o de gravidez, traz o resultado de uma infecção que, se não tratada, progride para uma doença ainda sem cura. Há ainda o estigma e preconceito. Em função disso, a RNP+ Brasil defende um diagnostico oportuno, com aconselhamento, acolhimento e realizado em ambiente adequado, como necessita a maioria da população em risco de infecção. Teste acessível é no SUS."

Renato da Mata, da Articulação Nacional de Saúde e Direitos Humanos: "Sempre fui defensor dos testes rápido, acho que é mais uma ferramenta no combate à aids. Por exemplo, se o casal decide abolir o uso do preservativo, ele pode optar pelo exame.  É claro que serão questionadas várias outras situações como o acolhimento, as outras DSTs, mas é importante entender que todos têm livre arbítrio para fazer o que quiser. Se o cidadão quer ou não usar o preservativo a escolha e a responsabilidade é dele. Temos que oferecer todas as ferramentas disponíveis para a população."

Heliana Moura, do Movimento Nacional das Cidadãs Posithivas (MNCP): “Embora eu entenda que todos tenham o direito de saber sua sorologia para o HIV e que ele estar disponível nas farmácias amplia essa possibilidade àqueles que não querem ir a um Centro de Testagem e Aconselhamento, à Unidade Básica de Saúde ou até mesmo em laboratórios particulares. Eu ainda me preocupo a respeito de como fica o aconselhamento. Acho que não fica!  Em minha opinião, enquanto mulher vivendo com HIV que recebeu o resultado em um laboratório particular, há 21 anos, não teve o aconselhamento e hoje trabalha em um CTA de Belo Horizonte (MG) realizando o aconselhamento pós-teste, percebo e sei que faz toda diferença para os usuários. Isso, seja num resultado negativo, reconhecendo e refletindo sobre suas vulnerabilidades e construindo estratégias que as diminuam ou acabe com as mesmas; ou num resultado positivo para que possa orientar e encaminhar esse usuário e dar um suporte emocional naquele momento. Às vezes, também com um simples abraço que alivia, um pouco, o impacto do resultado. Pode ser que eu mude de ideia algum dia, mas hoje, para mim, o melhor lugar de se testar seja para o HIV, sífilis ou hepatite B e C, é nos serviços do SUS como CTAs ou Unidades Básicas de Saúde que tenham a testagem disponível associada ao aconselhamento.”
Américo Nunes Neto, coordenador do Mopaids (Movimento Paulistano de Luta Contra a Aids): "Sou a favor em partes. Acredito e defendo o direito e acesso ao teste rápido nas farmácias em razão de custo benefício da saúde. Por outro lado, muitos não sabem, por exemplo,  que há uma janela imunológica entre o primeiro contato com o vírus e o resultado positivo. Situações assim pode gerar falsos negativos. Como as pessoas terão acesso as informações em caso de resultado positivo? Onde buscar apoio?  Temos que avançar e ter a disposição diversas formar de frear a epidemia, agora é pagar pra ver. Sei que boa parte do movimento de aids é contra, mas não se pode ficar com factoides."
Willian Amaral, ativista independente e membro do Comitê Comunitário de Assessoramento de pesquisas e estudos da Fiocruz: "O acesso ao teste de HIV deve ser facilitado ao máximo, com aconselhamento pré e pós teste. A venda em farmácias deve ser precedida de informações que embasem o consumidor a fazer um teste seguro e com consciência dos resultados possíveis. É necessário que se tenha serviços de referência para entendimento do diagnósticos para quem tiver dificuldades da compreensão de um resultado positivo ou negativo. Um ponto importante é a pessoa saber que a infecção pelo HIV tem tratamento pelo SUS. O grande empecilho do teste na farmácia é o preço elevado.”
Carlos Henrique, da Rede São Paulo Positivo: "Eu me preocupo bastante só de pensar numa pessoa fazendo o teste de HIV sozinha em sua casa, sem nenhum acompanhamento ou equipe de orientação, numa sociedade ainda dominada pelo estigma e discriminação que envolvem o HIV. Ser diagnosticado com HIV, para a maior parte das pessoas, ainda é uma situação difícil. E o meu medo é que, somado à precarização do SUS e das políticas de prevenção, como por exemplo, o fechamento dos CTAs e a provável mudança no repasse de verbas para o SUS (que não terão mais recursos "carimbados", específicos para cara área e que ficarão livres para os secretários municipais usarem o dinheiro do SUS como bem entenderem), as pessoas se "autodiagnostiquem" cada vez mais, que a prevenção e o diagnóstico ganhe cada vez mais hegemonia da indústria farmacêutica para além do SUS. Mais importante que vender testes é ter uma política eficaz contra a discriminação, e uma rede de saúde mental que funcione no SUS, para atender a demanda cada vez maior de pessoas em sofrimento psicológico por causa do estigma.”
Daniel Fernandes, ativista e youtuber no canal Prosa Positiva: “Eu fico preocupado com as pessoas que descobrem a sorologia sozinhas. Há a vantagem de não precisar ficar exposto durante a espera de fazer o teste e o resultado. Mas, após o resultado positivo, será que a pessoa estará preparada para saber as informações corretas do que se deve ser feito? Ninguém nunca está preparado para tal notícia. Não é a mesma reação de quando a mulher faz o exame de gravidez de farmácia. Eu não sou contra, até porque cada um tem seu direito, mas eu me preocupo com o comportamento pós- resultado, sem o acompanhamento de profissional.”

Jeová Fragoso, diretor-presidente do Grupo Esperança: “Em princípio toda a oferta de testagem é relevante para a detecção precoce de doenças crônicas, principalmente, as que apresentam tardiamente os sintomas por meio das graves formas evolutivas. Para o HIV, como também para as Hepatites B e C,  é relevante o diagnóstico precoce como facilitador do êxito do tratamento. Também para evitar a transmissão devido ao desconhecimento da pessoa infectada. A possibilidade de realizar a testagem rápida em farmácia capilariza e muito a possibilidade da população se testar e assim contemplar o diagnóstico precoce. No entanto, tem que ser avaliada com muito critério a capacitação do aconselhamento na entrega do resultado e as estratégias do segmento da investigação diagnóstica, pois o teste rápido para HIV traz praticamente um diagnóstico fechado, com proporcionalidade muito baixa de dar um resultado diferente quando confirmado por outros métodos. Portanto, é de muita valia essa aprovação pela ANVISA, mas ela deve ser impreterivelmente vinculada à qualidade do atendimento desse procedimento, com os técnicos das farmácias devidamente capacitados. Somando ainda, que tenham esses, como procedimento automático, prover aos que apresentaram resultados positivos todo o encaminhamento imediato para a assistência especializada.”
Rafuska Queiroz, psicóloga, fundadora Rede Jovem Rio+, membro do Movimento Nacional das Cidadãs Posithivas e criadora da página Florescer.: “Eu sou a favor, mas tenho minhas ressalvas! Ainda vivemos uma grande epidemia repleta de estigma e discriminação, na própria Rede Jovem Rio+ (RJR+) acompanhamos recém-diagnosticados que recebem o resultado positivo sem uma triagem ou aconselhamento pós-diagnóstico ruim. Eles ficam totalmente perdidos e ainda existe aquela antiga sensação de ‘quanto tempo de vida ainda terei!’. Ainda não temos aquela tão esperada informação sobre HIV, as pessoas desconhecem a realidade, quando diagnosticadas positivas existe um choque, as pessoas não esperam, por mais que saibam que uma transa, sem preservativo, com alguém conhecido ou desconhecido que não saiba a sorologia, pode se infectar. Acredito que a venda do teste pode ser uma caminhada para a quebra do estigma da condição positiva para o HIV, mas temos e vivenciamos que ao contrário do que muitos falam, ter o resultado positivo não é o mesmo que se descobrir uma pessoa com diabetes! Não podemos comparar de forma alguma! Não é um bicho de sete cabeças, mas viver com HIV também não é flores em um jardim, nesse mundo ainda tão "preso" nos estigmas que acompanham a epidemia! Lembrando que cada pessoa é um ser e cada ser um viver! Mas acredito que seja mais uma forma de acessar a testagem, pois sabemos que existem pessoas que querem ir a um posto de saúde e por isso não se testam. É preciso pensar e repensar os prós e contras e esperar as consequências dessa liberação em farmácias! Se nos postos, os próprios funcionários ‘comentam’ sobre a pessoa que procura, como seria isso na farmácia?! Queremos abranger a testagem, sim! Mas estão esquecendo do ser que ali se encontra recebendo um pré-diagnóstico, muitas vezes, sozinho com mil pensamentos e crenças!"
Regina Bueno, membro do grupo Pela Vidda Rio e da Pastoral da Aids Rio: "Ampliar o acesso seguro ao diagnóstico é sempre mais uma forma de conhecimento. Contudo, uma vez o teste dando positivo todo processo de acesso ao acolhimento deve ser acionado, pois o estigma da aids ainda impacta seriamente o tratar. O conhecimento social sobre HIV/aids ainda é comparável aos anos 1980 e 1990. O acolher no resultado é fundamental para uma adesão adequada, contínua e com estabelecimento de vínculo com os serviços públicos no tratar. Tudo isso respeitando a integralidade do cuidado. Mas, infelizmente, o tratar não se dá dessa forma no SUS [Sistema Único de Saúde], muito pelo contrário. A informação reagente para o HIV ainda é rodeada de fortíssimo preconceito. Todo cuidado é pouco na hora da revelação do diagnóstico."

Silvino, cantor, compositor e ativista: “Sou a favor, tendo a acreditar que a pessoa que recorrer a este teste já tenha um conhecimento básico sobre a vivência com HIV. Apesar de ser um teste caro, penso que é mais uma opção e é válido.”



Margarete Preto, coordenadora da ONG Projeto Bem-Me-Quer: "Vejo como preocupante receber um teste de HIV positivo em casa, porém isso já acontece na rede suplementar. Só o tempo vai nos mostrar se esse teste é um avanço ou motivo de preocupação!"



Sandro Rosa, membro da RNP+/MT (Rede Nacional de Pessoas Vivendo com HIV/aids – núcleo de Mato Grosso):  "Eu tenho ressalvas, pois o resultado de um teste de HIV positivo é bem diferente de um para diabetes. Hoje, os testes rápidos são aplicados apenas por profissionais e agentes de saúde. E se der positivo e a pessoa não tiver como acessar um serviço de saúde? É temeroso, por isso não sou favorável. Hoje a pessoa pode fazer esse teste de forma segura e sem custo nas unidades de saúde."

Henrique Ávila, coordenador da Rede Nacional de Adolescentes e Jovens Vivendo com HIV/Aids: "Acredito que essa é mais uma arma pro arsenal de prevenção e detecção precoce do HIV. O autoteste permite as pessoas que, por algum motivo não procuravam os serviços de testagem, ter conhecimento do seu status sorológico em casa, podendo assim procurar o tratamento. Às vezes, as pessoas simplesmente não procuram os serviços de saúde por medo de se identificarem ou terem os seus resultados revelados a terceiros. O teste vendido em farmácias proporciona mais um meio para que elas saibam sua situação sorológica."

Gabriel Estrela, idealizador do Projeto Boa Sorte: "Sou a favor, com certeza. Porém, existe uma grande lacuna que não foi preenchida e que dificulta a resposta dessa pergunta. Testar não é só analisar o sangue e fazer um diagnóstico. É uma prática de prevenção que inclui todo o acolhimento pré e pós-teste, independente do resultado e, posteriormente, o encaminhamento para o serviço de saúde, caso positivo. Como serão trabalhadas essas alternativas pelo teste de farmácia é uma questão que não foi elucidada. É difícil saber com certeza se essa alternativa é ou não uma adição benéfica ao campo da prevenção combinada."

Jadilson Neto, presidente da Liga Acadêmica de DST/Aids do Maranhão: "Essa nova tecnologia de diagnóstico vem como uma ferramenta importante, pois ainda existe muita gente que não faz o exame por tabu ou por medo da resposta. Esse método irá atrair um grande número de pessoas. Algo tremendamente importante, se considerarmos que mais da metade dos infectados no mundo não está ciente de que carrega o vírus HIV. E isso é comprovado nas pesquisas da vigilância e epidemiologia."


Cazú Barros, membro da Federação de Bandeirantes do Brasil no Rio de Janeiro e do Fórum de ONGs Aids do Estado do Rio de Janeiro: “A é resposta difícil, afinal, levando em consideração a incapacidade que o governo demonstra em dar acesso digno ao cidadão para saber sua sorologia, o teste cai bem. Por outro lado, é uma ferramenta perigosa para o incentivo do estigma e preconceito, visto a possibilidade de alguém antes de sair com você queira fazer o teste na hora. E se der positivo como fica? Qual estrutura de apoio de especialistas essa pessoa terá. No Rio de Janeiro, traficantes já invadem UPAs [Unidade de Pronto Atendimento] e exige a relação dos  positivos. Assim, ficara mais fácil exigir o teste ao suspeito. Quando positivo o morador de uma comunidade quando não é morto, é expulso de casa. Acredito na importância do acesso ao teste, mas entendo que isso oficializa também a banalização da aids. Sabemos dos autos índices de mortes e novas infecções no Brasil. Muitos positivos não tem acesso digno ao tratamento, não podemos aceitar que a aids e sua complexa reação de se saber positivo seja tratada desta forma, sem nenhum respaldo pra quem se descobrir positivo. Como isso será?”

Matheus Emilio, do Grupo Pela Vidda São Paulo: "Considero que este será um importante passo para ampliação da testagem. Em uma cidade do interior, por exemplo, a pessoa pode deixar de fazer o teste, por ter receio de ser visto indo ao centro de testagem, ou até mesmo porque no posto de saúde, possivelmente, a recepcionista é sua ‘vizinha’ e a enfermeira é sua ‘tia’. Por estes e outros motivos, se faz necessário vencermos as barreiras e deixarmos que o próprio indivíduo possa escolher a forma em que ele se sentirá confortável para realizar o teste, seja por meio do autoteste ou se dirigindo até o serviço de saúde. Ressalto, porém, que independente da opção que a pessoa tenha para se testar, o serviço de saúde precisa estar apto para recebe, acolher e aconselhar este individua. Os serviços de saúde devem estar sempre ao alcance dessas pessoas, seja para eventuais dúvidas, ou para as devidas providências, em casos de resultado reagente."

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