segunda-feira, 29 de fevereiro de 2016

Estigma e preconceito criam barreiras sobre HIV, diz defensora pública

Os estigmas e o preconceito dificultam o enfrentamento do HIV e o apoio aos portadores da doença, na opinião da coordenadora do Núcleo de Combate a Discriminação, Racismo e Preconceito da Defensoria Pública de São Paulo, Vanessa Alves Viera. “A gente observa que esses juízos [morais], especialmente no atual contexto de forte influência religiosa e retrocesso conservador em algumas áreas, impactam realmente o acesso a direitos e a essas políticas públicas”, ressaltou hoje (24) ao participar de um debate sobre o tema promovido pela própria defensoria.
Para Vanessa, os juízos morais a respeito dos portadores do vírus tanto dificultam a difusão de informações quanto atrapalham o acesso a políticas públicas acessórias ao tratamento antirretroviral. “Uma coisa que a gente observa muito lá no grupo é que os serviços estão disponíveis, muito bem estruturados, mas as pessoas têm muitas vezes uma dificuldade de se organizar para ter acesso a outros direitos também”, diz, sobre os obstáculos para acessar o mercado de trabalho ou até conseguir transporte para chegar aos serviços de saúde.
“Não é só botar uma caixa com camisinhas e fazer testagem. Tem a questão de aconselhamento, de acolhida, de discutir e dialogar”, acrescentou o defensor Rodrigo Leal da Silva sobre a importância de o apoio estar associado ao tratamento médico.
O professor da Universidade Federal da Bahia, Luís Augusto Vasconcelos da Silva, diz que a falta de informações e o estigma levam, muitas vezes, os portadores do vírus a evitar qualquer tipo de relação amorosa. “Testar e tratar, claro que é importante. Mas entre uma coisa e outra, muitas coisas acontecem. Muitas pessoas se isolam de novos relacionamentos, com medo. E isso a gente não pode negligenciar, não pode esquecer”, enfatizou.
Os preconceitos atrapalham ainda, segundo a defensora Vanessa, na conscientização de certos grupos. “A gente percebe que, na própria difusão da prevenção, são realizados esses juízos morais. Por exemplo, de você achar que a pessoa só precisa de orientações ou do preservativo se ela está em um determinado grupo de risco, se é homem. Para as mulheres, as abordagens de prevenção são bem mais raras, vagas, pela ideia de que a mulher só vai fazer sexo se o homem quiser”.
A defensora disse que recentemente teve um exemplo desse problema ao observar o tratamento dispensado por uma unidade de internação de jovens infratoras. “Há dificuldade de tratar desse tema no sistema carcerário e em vários sistemas de internação de adolescentes. Porque há a presunção de que as pessoas que estão ali não se relacionam sexualmente”, enfatizou.
Novos estigmas
O defensor Rodrigo Silva alertou que ainda hoje são construídos estigmas semelhantes aos que surgiram na década de 1980, logo que a doença foi descoberta. “Antes, a aids foi construída como um câncer gay. Foi construída como uma forma de controle moral. Existe uma carga valorativa negativa às práticas homoeróticas e isso está muito claro”, destacou.
Nesse sentido, o professor Luís Augusto lembrou do projeto de lei que pretende tornar crime hediondo a transmissão deliberada do vírus HIV, em tramitação na Câmara dos Deputados. A discussão ganhou força em 2015, após a veiculação de reportagens que apontavam para a existência de grupos que faziam apologia da infecção a partir do barebacking, prática de sexo sem preservativo. “Em vez de criminalizar ou estabelecer uma moral normativa, podemos radicalizar na construção de novos laços de solidariedade e cidadania”, disse o professor, que estudou o tema em teses acadêmicas.
Em suas pesquisas, Luís Augusto diz que, em sua grande maioria, os homossexuais que fazem sexo sem camisinha não buscam se infectar, e vários deles buscam proteção relativa, se relacionando dessa forma apenas com conhecidos. No entanto, para o professor, houve a construção de um discurso de que os gays que têm relações sem preservativo estão abertos a infecção. “A partir do discurso da promiscuidade, o barebacking não seria apenas aquele que pratica sexo sem camisinha, já que potencialmente pode ser qualquer um de nós, mas aquele que se aventura sexualmente com desconhecidos”, disse ao comentar que o sexo heterossexual desprotegido não é tratado da mesma forma.
A diretora adjunta do Centro de Referência e Treinamento DST-Aids, Rosa Alencar Souza, ressaltou que há um aumento de infectados entre homossexuais. “O número de casos cai em geral. Quando você olha para os homens, ele não cai. E quando você olha homens que fazem sexo com homens, jovens, ela [infecção] está em plena ascensão”, afirmou.
Rosa acredita que deve ser feita a conscientização sobre os métodos de proteção sem aumentar o estigma sobre essas pessoas: “A gente tem que encontrar um jeito de dialogar com essas pessoas sem aumentar o estigma e o preconceito. Isso para gente é um desafio imenso”.

No Brasil, Nobel de Medicina defende vacina de HPV também para meninos

No Brasil, Nobel de Medicina defende vacina de HPV também para meninos
Em visita ao Brasil na semana passada, o médico virologista alemão Harald zur Hausen - laureado com o prêmio Nobel de Medicina de 2008 por ter descoberto a relação entre o papilomavírus humano (HPV) e o câncer do colo do útero - defendeu que a vacinação contra HPV se estenda também aos meninos. Hoje, no Brasil, a vacina é oferecida pelo Sistema Único de Saúde (SUS) a meninas de 9 a 13 anos de idade, em três doses.
“Se vacinássemos somente os meninos, provavelmente preveniríamos mais casos de câncer do colo do útero do que vacinando somente meninas”, disse zur Hausen nesta sexta-feira (26) em entrevista a meios de comunicação no A.C.Camargo Cancer Center, em São Paulo, onde participou de um evento científico.
O virologista contou ainda que ficou desapontado em saber que o Brasil só introduziu a vacina contra HPV no calendário nacional de vacinação em 2014 e considera que o atraso em relação a outros países pode significar que o país deixou de evitar muitos casos de câncer do colo do útero. Segundo o Instituo Nacional de Câncer (Inca), 70% dos casos desse tipo de câncer são provocados pelos dois tipos oncogênicos de HPV que estão incluídos na imunização.
Leia, abaixo, os principais trechos da entrevista com o cientista:
Oposição contra a vacina por temor de efeitos colaterais
Descobri, com um pouco de decepção, que o Brasil só começou o programa nacional de vacinação contra HPV em 2014. A vacina foi licenciada em vários países em 2006  e, olhando para as altas taxas de câncer do colo do útero no Brasil, acho uma pena porque ela poderia prevenir um grande número de casos. Quem não recebeu a vacina neste período está mais sujeito à doença e é possível até calcular quantos morreram devido a esse atraso.
Hoje temos dados muito bons disponíveis e publicados sobre a quantidade de efeitos colaterais dessa vacinação, particularmente na Austrália onde estudos conduzidos de forma muito cuidadosa mostram que - além dos efeitos que aparecem nas primeiras 24 horas da vacinação, como vermelhidão no local da vacinação e um pouco de dor, o que é comum na maioria das vacinas - há um efeito em cada 100 mil doses aplicadas. Neste caso, é uma alergia contra a proteína presente na vacina, a proteína do HPV. É uma taxa muito menor do que os efeitos colaterais de muitas outras vacinas que damos a crianças pequenas. [A segurança da vacina já foi questionada no Brasil por grupos temendo efeitos colaterais.]
É uma das vacinas mais efetivas, porque a conversão da formação dos anticorpos depois da vacinação é quase de 100% nas crianças vacinadas. Se pegar a vacina de hepatite B, que é também muito eficiente, 5% das pessoas não desenvolvem anticorpos contra o vírus.
É muito segura, é altamente eficaz e há evidências que previne as lesões precursoras de câncer, ao menos dos tipos de HPV que estão na vacina.
Meninos deveriam ser vacinados contra HPV
Tem um aspecto que, na minha opinião, precisa ser fortemente enfatizado, que é a vacinação de meninos. Primeiro, em todas as sociedades, globalmente, os homens entre 15 e 40 anos de idade têm mais parceiros sexuais do que as mulheres da mesma idade. Eles são os maiores transmissores de HPV devido ao maior número de parceiros sexuais.
Outras razões pelas quais eles deveriam ser vacinados é o câncer de faringe, que está acontecendo em um número muito maior em grandes cidades em comparação a áreas rurais. Também o câncer na região anal, que ocorre, em muitos países, muito mais frequentemente em homens do que em mulheres. Há evidências de que - como o mesmo vírus foi encontrado nessas lesões, geralmente o HPV 16 e o HPV 18 -  essas doenças também seriam prevenidas pela vacinação.
Verrugas genitais, por exemplo,  são um problema desagradável para os dois gêneros e a vacinação também está prevenindo, contra elas. Até o fato de que estarão protegendo suas parceiras é uma razão importante para difundir a vacinação para meninos.
Eu já disse de modo provocativo, em muitas ocasiões, que se vacinássemos somente os meninos, provavelmente preveniríamos mais casos de câncer do colo do útero do que se vacinássemos somente meninas.
Descoberta da relação entre HPV e câncer do colo do útero
No final dos anos 1960, começamos investigando se vírus herpes simplex tipo 2 estava provocando câncer, mas não encontramos material genético de herpes simplex nas células de câncer de colo do útero.
Já tinha visto partículas do HPV no microscópio eletrônico. Suspeitei que este vírus poderia ser mais maligno no colo do útero e levar a câncer. Demorou um tempo até isolar e caracterizar o vírus da verruga genital, que era o HPV 6 e subsequentemente pudemos identificar HPV 11. houve uma decepção inicial porque não encontramos HPV 6 em câncer de colo do útero.
Quando descobrimos que o HPV 16 e HPV 18 estavam ligados ao câncer, distribuímos pelo mundo essa informação.
Obstáculos no desenvolvimento da vacina contra HPV
Minha única decepção nesta fase precoce foi que eu contatei muitas empresas na Alemanha e Suíça pedindo financiamento para um programa para desenvolver a vacina de HPV e, quase todas, com uma exceção se recusou. Houve uma empresa na Alemanha que tinha muita experiencia em vacinas ficou interessada.
Eles começaram a patrocinar um programa, mas ela pertencia a uma gigante farmacêutica na Alemanha e um dos diretores fez uma análise de marketing. A analise foi muito negativa, eles disseram que não havia mercado para a vacina e que todas as pessoas, incluindo crianças pequenas, já estariam infectadas pelo vírus e teriam já anticorpos, por isso a vacinação não faria sentido. Isso é totalmente errado. O programa foi fechado e isso nos deixou muito frustrados por muito anos. Até que uma empresa americana se interessou e até hoje produz a vacina.
Outras infecções ligadas ao câncer
21% dos cânceres estão ligados a infecções, e não são apenas por vírus: dois terços são por vírus, mas um terço são bactérias  e 1% por infecções parasitas.
Considero a descoberta de novos cânceres ligados a infecções como uma questão muito importante.
É algo em que trabalhamos há algum tempo em câncer de mama e câncer de cólon. Ao menos  estudando cuidadosamente a epidemiologia desses dois tipos de câncer, parece que há ligações potenciais com eventos de infecção e parece, de acordo com nossa hipótese inicial, que há uma ligação com o consumo de alimentos específicos como carne e leite.
Particularmente, de acordo com os estudos, a carne é provavelmente o fator principal ara o câncer de cólon e o leite parece ser um fator em câncer de mama.
Concentramos esforços em isolar agentes no gado, no leite do supermercado e em laticínios como iogurte e creme de leite. Há razões para suspeitar que os vírus de gado podem ter um papel nesses cânceres.

domingo, 28 de fevereiro de 2016

PREVENÇÃO NA SEASA NO DIA 27/02/2016 COM MARCOS BELARMINO







Jovem soropositivo fala sobre HIV e preconceito no Altas Horas


Neste sábado (28), o programa Altas Horas, da TV Globo, contou com a participação do ativista Diego Callisto. Soropositivo desde os 18 anos, Diego contou um pouco de sua história, falou sobre o preconceito que os soropositivos ainda sofrem, a importância de se testar e explicou a diferença entre HIV e aids. “Muita gente desconhece a diferença entre HIV e aids. Por exemplo, eu sou portador do HIV, eu tenho o vírus do HIV, eu faço meu tratamento para manter o HIV sob controle, para não permitir que ele se torne aids que é a doença propriamente dita. Então eu sou uma pessoa saudável (...) eu não vou desenvolver a doença porque eu faço o tratamento”, disse.

Você já pensou em fazer o teste rápido para HIV?

Médicos não sabem lidar com pacientes trans; muitos abandonam o tratamento



Depois de um acidente de esqui em janeiro no qual quebrou o joelho, Beck Bailey, um homem trans de Greenfield, Massachusetts, passou 15 dias em um hospital em Vermont, sendo submetido a uma série de cirurgias. Como parte de sua rotina normal, Bailey toma doses regulares de testosterona. Mas o endocrinologista em Vermont afirmou que os pacientes não devem tomar testosterona durante o pós-operatório.
Bailey disse que não podia simplesmente interromper o tratamento. Mas os médicos foram tão incisivos que ele teve que pedir para que entrassem em contato com seu médico de cuidados primários, que explicou que ele deveria retomar o tratamento usual.
Não espero que todos os médicos do mundo se tornem especialistas em medicina trans da noite para o dia, mas acho que deveriam ter consciência do que sabem e do que não sabem e ligar para um especialista quando necessário
A experiência de Bailey é similar a de muitos pacientes transgêneros, tanto os que já realizaram a transição completa, quanto os que ainda estão no processo. Pesquisas sobre as necessidades médicas não relacionadas à transição ainda são limitadas; a maioria das faculdades de medicina não prepara os médicos para atender esse público.
Surkan, que está em transição de mulher para homem, testemunhou esses problemas em primeira mão: ele é portador do gene BRCA1 e foi diagnosticado com câncer de mama. Quando perguntou se a testosterona poderia afetar os tratamentos, seu oncologista respondeu: "Provavelmente sim, mas não temos dados indicando que o uso de testosterona possa causar a recorrência do câncer. Gostaríamos de poder ajudá-lo".
De fato, existem poucos estudos longitudinais sobre o uso de hormônios na comunidade trans. Muitos médicos não sabem que alguns homens trans ainda precisam ser submetidos a exames de Papanicolau e mamografias, além de que todas as mulheres trans precisam ser submetidas a exames de próstata.
"Muitos homens e mulheres trans não fizeram operação de mudança de sexo e ainda contam com os órgãos reprodutores com os quais nasceram", afirmou o Dr. Harvey Makadon, diretor do programa de formação e treinamento do Instituto Fenway em Boston, além de professor de Medicina Clínica na Faculdade de Medicina de Harvard. "Todas as mulheres trans ainda têm próstata, os bons médicos precisam aprender sobre a anatomia atual e realizar os tratamentos e exames preventivos necessários."
Além das preocupações médicas, muitos pacientes afirmam que são discriminados por médicos e membros da equipe médica, que utilizam os pronomes incorretos, chamam pelos nomes errados ou os colocam em quartos com pessoas do gênero errado.
70% dos entrevistados já haviam sofrido alguma discriminação grave em contexto médico, de acordo com relatório publicado em 2010 pela Lambda Legal.
Além disso, um estudo envolvendo 6.000 pessoas trans realizado em 2011 pelo Centro Nacional de Igualdade Para Pessoas Trans e pela Força Tarefa Nacional LGBT revelou que 19% dos entrevistados já tiveram tratamento médico recusado por conta de sua situação.
Muitos deles haviam simplesmente deixado de ir ao médico: 28% tinham evitado tratamentos após doenças ou acidentes e 33% haviam postergado ou deixado de buscar tratamentos preventivos por conta de experiências anteriores com médicos.
Um relatório publicado em 2014 pela Fundação HRC revelou que dos 501 hospitais pesquisados, 49% não incluíam "orientação sexual" e "identidade de gênero" nas políticas de não discriminação de pacientes.
Os hospitais, por sua vez, muitas vezes ficam sem saber o que fazer. Onde eles devem colocar pacientes que se identificam como mulheres, mas que ainda são homens do ponto de vista anatômico, ou que estão registradas dessa forma na certidão de nascimento?
Surkan afirmou que foi colocado em quartos com outras mulheres. "Isso não me incomoda tanto quanto afeta as pessoas que ficam comigo no mesmo quarto", afirmou. "Eu tenho um amigo que é muito mais masculino e passou por uma histerectomia, mas foi colocado na ala das mulheres. Foi bem estranho para todo mundo".
Desde então, ele fundou o TransRecord, que em parcerias com sites como o "RAD remedy", serve como uma espécie de central para pessoas trans em busca de tratamento médico.
Em julho do ano passado, uma mulher trans acusou o Brooklyn Hospital Center de discriminação sexual depois de ser colocada em um quarto com um homem.
"Não percebemos que se tratava de uma pessoa trans", afirmou Joan Clark, porta-voz do hospital, que agora exige que todos os funcionários sejam submetidos a um treinamento de sensibilização. "Acho que isso nos tornou uma organização ainda melhor. Eles não querem receber um tratamento diferente, mas um tratamento igualitário."
Wrene Robyn, de 46 anos, uma mulher trans de Somerville, Massachusetts, começou a transição em 1989, quando trocou o nome da carteira de motorista e dos cartões do Seguro Social, e o gênero da carteira de motorista de masculino para feminino. Embora ela esteja bem integrada socialmente, evita ir ao médico há anos.
Em abril, depois de sofrer com uma pancreatite, Wrene ficou uma semana internada no Hospital Geral de Massachusetts, em Boston, onde ficou em um quarto privativo.
"Ninguém me perguntou o que eu preferia", afirmou ela, que trabalha como engenheira de software do hospital e também faz parte do comitê de tratamento a pessoas trans da instituição.
Além de se preocuparem com a discriminação, "muitas pessoas trans pensam que o custo financeiro pode ser superior. Geralmente não temos condições de pagar por quartos privativos". (No caso dela, o quarto foi coberto pelo plano de saúde)
Alguns hospitais estão remodelando – ou adotando – as políticas de tratamento de pessoas trans. No Hospital Geral de Massachusetts, por exemplo, a instituição pergunta aos pacientes trans se preferem ficar em quartos privativos ou duplos.
"Caso fiquem em quartos duplos, perguntamos como eles se identificam. Se disserem que se identificam como mulher, colocamos em um quarto com outra mulher. Caso se identifiquem como homem, são colocados em quartos com outros homens", afirmou Terri Ogan, porta-voz do hospital.
Desde 2013, os pacientes trans do Sistema de Saúde Mount Sinai, que conta com sete hospitais em Nova York, são instalados de acordo com sua atual identidade de gênero, a despeito do estágio de transição física em que se encontrem. Eles também podem optar por quartos individuais. Anteriormente, o hospital sempre colocava esses pacientes em quartos privativos, mas essa medida tem desvantagens: muitos pacientes se sentiam segregados e temiam a possibilidade de custos adicionais (embora o quarto não fosse cobrado).
"Com frequência, as pessoas trans tinham de aguardar na emergência pela abertura de um quarto individual", afirmou Barbara Warren, diretora dos programas e políticas LGBT do centro de diversidade e inclusão do Mount Sinai.
Terry Lynam, porta-voz do Sistema de Saúde North Shore LIJ, que conta com 21 hospitais em Nova York, Long Island e Westchester, afirmou que a política da instituição para pessoas trans, que foi aprovada em novembro de 2014, é tratar esse tipo de paciente como qualquer outro. "O que significa que não damos necessariamente um quarto privativo para pessoas trans", afirmou Lynam. Contudo, ele reconhece que a questão se torna um pouco mais complicada com pacientes que ainda têm a aparência de seus gêneros de nascimento. Neste caso, se o colega de quarto não se sentir confortável, "tentaremos acomodar o paciente e mudar a pessoa que reclamar", afirmou.
Os defensores dos direitos LGBT acreditam que ainda há muito por fazer. "Tenho dito há tempos aos hospitais que é preciso pensar sobre isso e adotar políticas de forma proativa", afirmou Tari Hanneman, vice-diretora do Programa de Saúde e Envelhecimento da Human Rights Campaign. "A primeira vez que você pensa sobre onde colocar pacientes trans não deve ser quando eles chegam ao hospital."

Justiça condena ‘ex-secretário da cura gay’ a pagar direito de resposta a lgbts



A Justiça do Rio de Janeiro condenou o ex-secretário de Assistência Social e Direitos Humanos do Rio, deputado federal Ezequiel Teixeira (PMB), o pagamento de publicação de direito de resposta em jornal de grande circulação. A ação é da Defensoria Pública em nome da sociedade civil em razão das declarações do deputado contra a população LGBT. Ezequiel declarou em entrevista ser a favor da cura gay e comparou a homossexualidade à aids e ao câncer.
A decisão judicial foi tomada com base na Lei de Imprensa que garante o direito de resposta ao indivíduo ou instituição ofendida no mesmo veículo onde a ofensa foi publicada ou em jornal de similar repercussão. No texto deverá constar que “a Organização Mundial de Saúde considera, em resolução de 1990, a homossexualidade uma expressão sadia da sexualidade” e lembrar que “somente em 2014, 312 LGBTs foram mortos em crimes de ódio”
As declarações do pastor contra os LGBTs foram concedidas ao jornal “O Globo” em edição publicada no último dia 17. O ex-secretário respondia pelo programa Rio Sem Homofobia, vitrine do governo do estado na área de direitos humanos, que enfrenta grave crise. O Rio Sem Homofobia tem quatro unidades em regiões do estado que prestam auxílio jurídico e psicológico para LGBTs em condições de vulnerabilidade. Na última semana um dos centros, o de Niterói na Região Metropolitana, foi fechado. O programa já suspendera o serviço Disque Cidadania LGBT que prestava o primeiro apoio aos LGBTs que procuravam o serviço. Depois das declarações desastrosas, o ex-governador exonerou Teixeira e nomeou o então secretário da Casa Civil, Paulo Melo, para o lugar. O pastor voltou a ocupar a cadeira de deputado federal na Câmara.
Em caso de descumprimento da sentença publicada nesta terça-feira, o pastor deverá pagar multa de R$ 10 mil por dia. Ao condenar Teixera, o juiz Sérgio Lúcio Barbosa Pitassi escreveu: “As declarações (do ex-secretário) destoam claramente da conduta esperada por ocupante de tal função, lembrando-se que se vive numa sociedade pluralista, não cabendo, no mundo moderno, o estabelecimento de ditadura de únicos valores, crenças e interesses pessoais. A acomodação e a harmonização, propiciando uma convivência respeitosa e pacífica, são ideais a serem buscados e construídos na modernidade”. Ezequiel Teixeira pode recorrer da sentença
Ele foi procurado, por meio de sua assessoria, para comentar a decisão, mas não foi encontrado. Ele ainda responde a outra ação da Defensoria que pede R$ 1 milhão por danos morais à comunidade LGBT
Para o advogado Victor Comeira, membro do Grupo dos Advogados pela Diversidade Sexual e de Gênero (GADvS), a decisão é uma vitória do respeito aos Direitos Humanos. “Essa decisão é importante porque serve de exemplo aos que ainda achem que a liberdade de expressão permita que se veicule o preconceito: não é assim. O próprio STF já se manifestou várias vezes no sentido de que é abuso de direito (à liberdade de expressão) se valer dela, para veicular mensagens de ódio e preconceito”.

Especialistas condenam projeto que criminaliza transmissão do HIV, em conferência de direitos humanos



O projeto de Lei (PL) 198/2015, que torna crime hediondo a transmissão deliberada do vírus HIV, foi duramente criticado durante a Conferência “Direitos Humanos e Combate à Discriminação na Perspectiva da Vida com HIV/Aids”, da Defensoria Pública do Estado de São Paulo.  “Esse projeto é uma caixa acústica de estigmas”, disse o defensor Rodrigo Leal da Silva, do Núcleo de Combate a Discriminação, Racismo e Preconceito da instituição. “A aids não pode ser tratada como tentativa de homicídio porque ela nem mata mais.”


“Os governos devem evitar criar leis específicas para criminalização”, defendeu Cleiton de Lima Euzébio, do Unaids (Fundo das Nações Unidas sobre HIV/Aids) no Brasil. “O Código Penal Brasileiro já possui dispositivos penais para as situações descritas no PL nº 198/2015.”
Cleiton também destacou que a criminalização não diminuiu a transmissão do HIV muito menos mudou comportamento em nenhum dos 61 países que a adotaram. Tanto que essas nações estão derrubando as leis nesse sentido. “Os Estados Unidos derrubaram em 2008, a China, em 2010”, enumerou ele, que  atua com mobilização social e trabalho em rede no Unaids.
O advogado Daniel G. Zveibil, da Defensoria, lembrou que a Justiça não tem como saber quem transmitiu o vírus para quem. “Mandar alguém para a prisão sob uma acusação desse tipo pode se tornar uma condenação à pena de morte, porque não existe tratamento de HIV dentro dos presídios.  A menos que o diretor seja comprometido com direitos humanos.”
A advogada e ativista dos direitos humanos Camila Magalhães Gomes falou das várias violações dos direitos humanos que o projeto incita. “As pessoas vão se afastar dos serviços de saúde e corremos o risco de reviver a ideia de grupos de risco.”

sexta-feira, 5 de fevereiro de 2016

  CNS discute desafios para garantir direito universal à Saúde em tempos de negacionismo, durante debate na UFRGS 14 de fevereiro de 2022 O ...