quarta-feira, 30 de março de 2016

Casa na Tailândia acolhe crianças com aids e tenta eliminar estigmas


Na pequena cidade de Lopburi, no sul da Tailândia, o Baan Dek Thammarak, que significa literalmente Lar das Crianças, acolhe meninos e meninas com HIV/aids e tem uma missão muito clara: acabar com o estigma social e oferecer a eles um futuro melhor.
A história começou em 1992, quando a Thammarak Foundation - liderada pelo monge Phra Alongkot Dikkapanyo - ergueu esta casa como alternativa de vida para crianças que contraíam HIV ou que perdiam os pais para a doença e ficaram órfãs.
O enorme complexo branco, situado no meio do nada, é limpo e organizado. Lá, o vozerio das crianças é logo ouvido. Elas disputam uma partida de 'takraw', algo parecido com futevôlei, que é jogado com uma pequena bola de vime trançado.
Em um banco de madeira, embaixo do sol, está Bell, uma menina de 11 anos que desenha em seu caderno um enorme coração com chifres, mãos, pernas e rabo. "Eu quero ser artista", disse determinada.
Fora do campo de takraw o silêncio reina, enquanto algumas crianças varrem cuidadosamente o chão repleto de folhas secas e outros entram e saem dos quartos comuns, divididos por sexo e faixa etária.
"Este é um lugar confortável", comentou o pequeno Nam, de nove anos, que mais parece um senhor no corpo de um menino.
O Baan Dek Thammarak se sustenta com doações privadas, administradas através do templo Wat Phra Baht Nam Phu, vinculado à Thammarak Foundation, e recebe do governo os medicamentos para tratar às crianças, gratuitos para os portadores do vírus em todo o país, exceto para os estrangeiros.
De segunda a sexta, 54 crianças seguem uma rotina muito regrada, marcada pelo exercício físico, a ingestão - duas vezes ao dia - da medicação correta e a divisão de tarefas domésticas. A formação acadêmica é outro dos pilares fundamentais sobre o qual se baseia este projeto, que inclui a disciplina de educação sexual para todas as crianças a partir dos 12 anos.
"É fundamental dar consciência a elas sobre a importância da prevenção no sexo. Isso é importante para qualquer adolescente e mais importante ainda se você é portador do vírus", explicou o responsável pelo local, Chalard Supa, em entrevista à Agência Efe no jardim do orfanato.
Ele é um dos jovens de origem humilde que teve os estudos financiados pela fundação e que depois ganhou a oportunidade de trabalhar na casa.
"No começo, tinha muito medo de me contagiar também, mas aos poucos me dei conta de que tratávamos de crianças normais e senti a necessidade de ajudar. Então aceitei o cargo", relatou.
Supa contou que depois que a criança entra no Baan Dek Thammarak ela não costuma voltar a ver seus parentes.
"Para estas crianças, nós (os voluntários) somos sua família. Geralmente, quando chegam aqui - trazidas por ONGs, ou por algum funcionário do governo - não voltam a saber nada de seus familiares", declarou.
Já se passaram 31 anos desde a descoberta do primeiro caso de aids na Tailândia, em 1984. Segundo o Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef), a Tailândia é um dos países da região que mais conquistas atingiu na luta contra o vírus desde então, onde apenas 2,5% dos 400 mil infectados em 2015 foram crianças menores de 15 anos.
No entanto, dos mais de quatro milhões de pacientes com aids no continente durante 2012, a Tailândia ocupava o terceiro lugar, com 450 mil afetados, atrás apenas de China (780 mil) e Indonésia (610 mil), segundo os últimos dados oficiais da Organização das Nações Unidas para a Aids (Unaids) em 2013.
O mesmo relatório assegura que mais de 90% das pessoas com aids no mundo todo estão em 12 países da região Ásia-Pacífico: Camboja, China, Índia, Indonésia, Malásia, Mianmar, Nepal, Paquistão, Papua Nova Guiné, Filipinas, Tailândia e Vietnã.

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