"A sífilis congênita é absolutamente inadmissível. Não podemos aceitar que crianças nasçam com má formação por conta desta doença. Precisamos assumir o compromisso de acabar com a transmissão vertical da sífilis e do HIV e já sabemos qual é o caminho para isso." A fala é do secretário de Estado da Saúde de São Paulo, David Uip. Ele participou na manhã desta quinta-feira (28), no Centro de Convenções Rebouças, em São Paulo, do seminário Sífilis congênita: Um problema de todos nós.
O evento, organizado pelo CRT (Centro de Referência e Treinamento em DST/Aids de São Paulo), reuniu mais de 600 profissionais da Saúde de todo o estado de São Paulo para discutir novos caminhos para erradicar a doença. "A doença tem crescido muito em São Paulo e no Brasil, mas é nos momentos de dificuldades que surgem as oportunidades para avançarmos e mudar a realidade. Entendo este evento como uma oportunidade", disse David. O evento é parte das ações que São Paulo organizou para a Semana Paulista de Mobilização contra a Sífilis, comemorado a partir de agora sempre em abril.
Assim como David, Maria Clara Gianna, coordenadora do Programa Estadual de DST/Aids de São Paulo, e Odete Gialdi, vice-presidente do Cosems/SP (Conselho de Secretarias Municipais de Saúde) e Secretária de Saúde de São Bernardo do Campo, comemoraram a oportunidade de discutir o tema com mais profundidade. "A sífilis pode até ser uma doença antiga, mas está se tornando novamente atual", lembrou Maria Clara. "Temos recursos e tecnologias no SUS para erradicar a sífilis", concluiu Odete.
"Estamos começando as discussões por um tema que nos preocupa muito, a sífilis congênita. Neste evento conseguimos unir as secretarias de Saúde e os profissionais da atenção básica para trocar experiências dos municípios de São Paulo. Temos vários desafios na luta contra a sífilis congênita no estado. O primeiro deles é aumentar a cobertura de testagem de sífilis no pré-natal -- os números já são bons, mas podem ser melhores. Precisamos também tratar a sífilis na Atenção Básica (AB), os profissionais da UBSs precisam aplicar a penicilina benzatina (medicamento usado no tratamento da sífilis) nas unidades básicas. Nosso terceiro desafios é ter um olhar especial para as mulheres com maior vulnerabilidade, como as usuárias de drogas. Elas precisam ter um pré-natal diferenciado. A doença tem aumentado de forma significativa.", explicou Maria Clara.
A doença
Ao longo desta terça-feira diferentes profissionais de saúde explicaram que além da transmissão vertical, a sífilis pode ser transmitida durante o sexo sem camisinha com alguém infectado e por transfusão de sangue contaminado. "O uso da camisinha em todas as relações sexuais e o correto acompanhamento durante a gravidez são meios simples, confiáveis e baratos de prevenção", alertou a infectologista Mariliza Henrique, do CRT e também responsável pelo combate às DST/aids em São Bernardo do Campo, na grande São Paulo.
"É uma doença de fácil prevenção, mas que exige muita atenção dos profissionais de saúde. O acesso precoce à testagem é essencial ao tratamento, não só para o recém-nascido, mas também para a gestante durante o pré-natal”, contou. Ainda segundo a especialista, o ideal é que todas as mulheres grávidas façam o exame durante as consultas do pré-natal e ao longo da gravidez.
A sífilis na gravidez pode causar aborto do feto e má-formações ósseas, por exemplo, um cenário que pode ser evitado se houver tratamento correto. Se os bebês não forem tratados antes de um mês de vida, podem sofrer danos como cegueira, surdez e retardo mental.
Dados
O infectologista Valdir Pinto, também do CRT, apresentou os dados da doença no estado. Só em 2014, São Paulo notificou 25.807 casos de sífilis adquirida, sendo 38,5% do sexo feminino. Entre as mulheres com sífilis, 35% estavam com menos de 30 anos de idade. Ainda, foram notificadas no estado 6.190 gestantes com sífilis, com uma taxa de detecção de 9,9 gestantes por mil nascidos vivos, e 2.989 casos de sífilis congênita, com uma taxa de incidência de 4,8 casos por mil nascidos vivos.
Entre as gestantes notificadas, 22% tiveram o diagnóstico de sífilis no terceiro trimestre do pré-natal, 9,7% estavam com o tratamento inadequado ou não realizado, 23,5% eram adolescentes e 51% dos parceiros sexuais não foram tratados, evidenciando a dificuldade da rede em acessar e tratar os parceiros destas mulheres.
Em 2014, na análise dos casos de sífilis congênita (2.989), observou-se que 25% (745) das mães não fizeram o pré-natal e o diagnóstico de sífilis foi realizado na maternidade. Entretanto, em 75% (2.244) dos recém-nascidos com sífilis, as mães tinham realizado o pré-natal e, em 71% (1.597) destes casos, a sífilis materna foi diagnosticada durante a gestação.
"Apesar de a maioria das mães de crianças com sífilis congênita terem tido acesso ao pré-natal e recebido o diagnóstico de sífilis durante a gravidez, a cadeia de transmissão vertical da sífilis não foi interrompida", comentou Valdir.
Atenção Básica
O coordenador da Atenção Básica do estado, Arnaldo Sala, também marcou presença no evento e falou sobre o papel das UBS no pré-natal. Segundo Arnaldo, "95% das Unidades Básicas de São Paulo ofertam pré-natal - um grande facilitador para o controle da sífilis congênita; e 77% aplicam penicilina benzatina. Por outro lado, 62,6% dos serviços não oferecem o teste rápido de sífilis. " Temos que ficar atentos aos números, só assim vamos conseguir criar um plano de ação para o controle da sífilis. “As equipes precisam discutir em seus territórios quais são as dificuldades para o tratamento adequado da sífilis e também o tratamento dos parceiros. "O principal tratamento da sífilis é feito com penicilina benzatina, para as gestantes, e penicilina cristalina, para os bebês. Mas os parceiros também devem ser tratados, para evitar que a situação se agrave e haja risco de novas infecções.”
No final, diferentes profissionais puderam contar suas experiências exitosas nos municípios.
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