sexta-feira, 29 de abril de 2016

Um ano do Lá Em Casa: Nova usuária chega para integrar time que enfrenta o HIV malhando e fazendo amigos



“Entra, pode ir à cozinha, a Kiszka acabou de fazer um café.” Assim são recebidas as pessoas que chegam pela manhã no Lá Em Casa, um centro de reabilitação física e de convivência para pessoas vivendo com HIV/aids, na Casa Verde, zona norte de São Paulo. Nesta segunda (25), o projeto, idealizado por Roseli Tardelli, diretora da Agência de Notícias da Aids,  fez um ano e estamos fazendo uma série de reportagens em comemoração.
“Sente-se e fique à vontade, porque é na cozinha que acontecem as melhores conversas”, disse Maria Cristina Kiszka, a Kiszka da primeira frase. Ela é uma das facilitadoras do projeto, ao lado de Silvia Almeida.  E quem estava chegando ali, na manhã de terça-feira (27),  para uma visita ao projeto, era Maya, acompanhada de sua filha.
Foi a primeira vez que Maya entrou no Lá Em Casa. Segundo ela, após 22 anos vivendo com HIV, essa é a primeira vez que procura ajuda. 
“Eu acompanho a história desse projeto desde o início. Eu já vim aqui antes, mas fiquei olhando de longe. Aí decidi que viria no dia seguinte, mas adiei e fui adiando, sem coragem. Nisso, já passou um ano”, contou Maya, que pediu para ser identificada com este nome na matéria, como uma homenagem à neta que espera ter um dia. “Hoje, achei que era o momento de vir. Nunca fui de pedir ajuda, mas senti que esse era o momento.”
 Maya se orgulha de ter criado dois filhos, de nunca ter ficado doente, ter carga viral indetectável e CD4 acima de mil. Tudo isso é, segundo ela,  resultado de uma luta que começou em 1992, quando soube que seu marido estava doente em decorrência da aids e morreu dois anos depois. “Eu perdi tudo. Perdi meu marido e os meus amigos. Os vizinhos ficaram sabendo o motivo da morte dele e eu, que morava na casa havia dez anos, tive de sair por causa do preconceito. Diziam que eu ia morrer. Fui tratada da pior maneira possível. Não tive ajuda. Peguei meus filhos [um de sete e uma de nove], minhas coisas e fui morar na casa da minha sogra”, disse,  emocionada, enxugando as lágrimas.
Hoje, aos 50 anos, Maya afirma que venceu. Suas preocupações não são mais as de 22 anos atrás. Naquela época, o medo de morrer e a vontade de ver os filhos crescerem eram a única coisa que passava em sua mente. Agora, ela tem novos sonhos e quer cuidar da autoestima. “Por causa da idade e do peso que estou, eu sinto dores. Os remédios me fazem engordar e eu quero emagrecer. Sempre fui magra, fininha, elegante. Hoje, não gosto da aparência que adquiri. Isso mexeu muito com minha autoestima. Eu não tenho mais vontade de sair de casa”, explicou enquanto conhecia todo o espaço do projeto. “Assim que eu entrei aqui, eu me senti em casa, me senti bem recebida, acolhida, maravilhosa.”
Ao fim da visita, após receber todas as orientações da Kiszka, sorrindo e acompanhada da filha que a incentiva em tudo, Maya despediu-se de todos e marcou para o dia seguinte uma avaliação física com os educadores Reinado Sobrinho e André Soares. 
Assim, Maya passa a fazer parte de um time de pessoas que frequenta o Lá Em Casa para malhar e melhorar a saúde. Mas também para fazer amigos e se divertir com eles, assim como mostramos na reportagem de ontem: “Um ano do Lá Em Casa: Duas festas de aniversário adoçam rotina do espaço de reabilitação física e convivência para pessoas com HIV”.
O projeto Lá Em Casa -- Saúde, Arte, Bem-Estar e Cidadania foi viabilizado com os seguintes apoios:  Sesc e Senac SP,  Programa Municipal de DST/Aids de São Paulo e Instituto Vida Nova.
Funciona na casa onde Roseli Tardelli passou a infância com os pais e o irmão, Sérgio Tardelli, que morreu em consequência de complicações do HIV em 1994.

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