sexta-feira, 3 de junho de 2016

Avanços com novos medicamentos e males persistentes do HIV são abordados no 9º Hepatoaids



Os benefícios das novas estratégias para o tratamento antirretroviral, os novos medicamentos, resistência viral, doença gordurosa não alcóolica do fígado (DHGNA), envelhecimento das pessoas com HIV. Não faltou assunto na tarde do primeiro dia do 9º Hepatoaids, seminário que acontece desta quinta-feira (2) até sábado (4) no Hotel Maksoud Plaza, em São Paulo. O evento reuniu na tarde dessa quinta-feira (3) renomados especialistas para discutir as diferentes faces da doença, desde as comorbidades até o que há de mais novo em termos de tratamento.
O professor e pesquisador da Unifesp (Universidade Federal de São Paulo) Ricardo Diaz falou sobre estratégias no tratamento antirretroviral. "Um tratamento efetivo deve conter medicamentos com potência e barreira genética suficiente." Para ele, "estratégias de tratamento antirretroviral menos convencionais podem ser utilizadas para mitigar efeitos adversos, tolerabilidade e perda de adesão. "
Ricardo Diaz explicou que a terapia antirretroviral de alta potência para aids tem apresentado bons resultados, garantindo sobrevida aos portadores desta síndrome. "Os inibidores da transcriptase reversa não-análogos aos nucleosídeos (ITRNNs) são amplamente empregados na terapia inicial. No Brasil, são utilizados os ITRNNs de primeira geração, nevirapina e efavirenz, e também o de segunda geração, etravirina. Estas drogas alteram a conformação da transcriptase reversa do HIV-1, alteração que inativa a capacidade de retrotranscrição da molécula. Contudo, a grande capacidade mutagênica do HIV tem oferecido um obstáculo para a terapia. Uma das características desta classe de antirretrovirais é o desenvolvimento da resistência cruzada. Desse modo, quando ocorre uma mutação em códons relacionados à diminuição de suscetibilidade aos ITRNNs, normalmente se comprometem todos os ITRNNs de primeira geração."
Novos tratamentos
O infectologista e ex-presidente da SBI (Sociedade Brasileira de Infectologia) Érico Arruda (foto direita) falou sobre a importância da dose fixa combinada na adesão ao tratamento. "A terapia antirretroviral evoluiu de forma espetacular, ela é mais efetiva e tolerável e vem apresentando novas formulações. O esquema com dose fixa combinada, ou seja, um comprimido por dia, tem facilitado a adesão.”
Érico contou ainda que pesquisas estão comprovando que os novos inibidores da transcriptase reversa não-análogo de nucleosídeo se comparado ao efavirenz, por exemplo, são mais tolerados pelas pessoas vivendo com HIV. "Os efeitos colaterais são menores. A nova classe e as novas formulações de antirretrovirais são promissoras."
Envelhecimento
O processo de envelhecimento em pacientes vivendo com HIV também ganhou destaque neste evento. Nos últimos anos, vários estudos em todo o mundo vêm mostrando que o corpo de uma pessoa que vive por muitos anos com o HIV acaba funcionando como o de alguém que tem, em média, 15 anos a mais. Foi o que contou a infectologista e presidente do evento, Gisele Gosuen.
"As comorbidades mais comuns são as doenças cardiovasculares, como infarto e AVC (acidente vascular cerebral). Em seguida, vêm os vários tipos de cânceres, como o de próstata, mama e colo de útero. Também são comuns perda de massa óssea, diabetes e distúrbios neurocognitivos, como demência precoce”,  explicou Gisele.
Para a especialista em aids na terceira idade,  é possível envelhecer com qualidade, tanto quem tem HIV, como não. "Esses pacientes precisam de cuidados multidisciplinar, o tratamento contra a aids é mais complexo entre os idosos, mas não podemos desconsiderar essa população, a proporção de pessoas com HIV com mais de 50 anos tem aumentando significativamente."


Doença gordurosa não alcóolica do fígado
Uma das falas que mais chamou a atenção da plateia foi a da Claudia Oliveira, professora e gastroenterologia da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP). A especialista falou sobre doença gordurosa não alcoólica do fígado (DHGNA).
“Essa gordura pode causar morbimortalidade nos pacientes com HIV. É uma doença caracterizada por gordura no tecido hepático, inflamação hepática associada à presença de gordura, cirrose hepática e carcinoma hepatocelular. Entre as causas de doença gordurosa não alcoólica, destacam-se distúrbios metabólicos (obesidade, diabetes mellitus, dislipidemias), medicamentos (antibióticos, antirretrovirais, glicocorticoides, estrógenos, tamoxifeno), hepatite crônica C e nutrição parenteral.”
Segundo Claudia, pacientes infectados pelo HIV frequentemente apresentam distúrbios metabólicos. “Reconhecer e prestar atenção na DHGNA deve ser parte da monitorização metabólica de pacientes com HIV.”
Claudia destacou também que a presença de doença gordurosa não alcoólica tem sido associada a maior risco de doença cardíaca e diminuição de sobrevida na população geral. Além disso, a esteatose hepática está relacionada a uma progressão mais acelerada de fibrose hepática.
O 9ª Hepatoaids termina neste sábado com um debate sobre cirrose e suas complicações em pacientes coinfectados pelos vírus da  hepatite C e do HIV.


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