quarta-feira, 22 de junho de 2016

Medo de contrair DSTs é o que mais atinge as mulheres na vida sexual, aponta pesquisa coordenada pela psiquiatra Carmita Abdo












O que as mulheres mais temem na relação é contrair uma doença sexualmente transmissível (DST).  Já para os homens, a maior preocupação é não satisfazer a parceira. Esse é um dos destaques da pesquisa Mosaico 2.0, conduzida pela psiquiatra Carmita Abdo, coordenadora do Projeto Sexualidade (ProSex) do Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas da Universidade de São Paulo (USP), com apoio da Pfizer.  O levantamento ouviu três mil pessoas com idade entre 18 e 70 anos, divididos em cinco faixas etárias.
Desse universo, 45,9% das entrevistadas apontaram que o que mais temem é a possibilidade de contrair uma DST. Do grupo masculino, 54,8% responderam que seu maior temor é não satisfazer a parceira. Mas entre os mais jovens, de 18 a 25 anos, o principal medo é, também, contrair uma DST. Essa preocupação se reflete em umoutro comportamento da faixa mais jovem: são eles os que mais se previnem durante as relações.
A porcentagem dos que sempre utilizam preservativo no ato sexual é de 36,2% na faixa etária dos 18 aos 25 anos, índice que cai gradualmente até chegar a 10,5% entre aqueles de 60 a 70 anos de idade.
Carmita Abdo conta que a pesquisa não perguntou especificamente sobre HIV/aids. “Foi feita pela internet, então não deu para entrar em certos níveis de detalhes. Depois, a finalidade era analisar o comportamento afetivo-sexual do brasileiro”, diz a psiquiatra.  “Mas notamos que os dados levantados sobre uso de preservativo, por exemplo, não são diferentes dos já apontados por outras pesquisas.”
O fato de muitos jovens iniciarem a vida sexual sem camisinha, segundo Carmita, indica o risco de eles transformarem esse comportamento em hábito. 
Viagra
A pesquisa foi encomendada pela Pfizer como parte das comemorações dos 18 anos do remédio Viagra, indicado para disfunção erétil.  E esse medicamento, volta e meia, é apontado como um dos adventos que, por permitir mais vida sexual ativa, colaborou com o aumento das infecções por HIV entre os homens mais velhos.
Justamente pelo fato de terem mais essa possibilidade é que Carmita Abdo considera ainda mais importante o uso do preservativo. “Não podemos atribuir a um remédio o aumento do HIV e de outras DSTs e sim a um conjunto de comportamentos.”
Com relação ao crescente número de infecções entre os mais jovens, Carmita atribui ao fato de hoje haver mais possibilidade de exposição, devido ao “repertório sexual mais amplo”.  Ela acredita que para mudar esse quadro é preciso, antes de tudo, investir na educação sexual. “A educação tem de vir antes da iniciação sexual. Sem educação, não damos à pessoa nem a chance de ela escolher que método preventivo é o mais adequado para ela”, continua a sexóloga.
A ausência de campanhas frequentes que falem diretamente com os mais diversos segmentos é outra causa apontada por Carmita como falha do trabalho de prevenção. “A forma como você fala com um jovem é diferente da maneira como aborda um senhor mais velho.” E que essas campanhas sejam mais claras quanto aos males que o HIV/aids e outras DSTs causam. “Porque a aids pode estar controlada, a sífilis tem cura, mas e as outras que a gente ainda não sabe como são, o que afetam, como é o caso da zika e de outras que estão por vir?”
Mais dados da pesquisa
Para a maioria dos entrevistados da Mosaico 2.0, o início da vida sexual se deu entre os 15 e os 18 anos de idade, tanto entre os homens (57,6%) como entre as mulheres (50,7%). Assim, a média de idade na primeira relação foi de 17,7 anos. Mas, na divisão por gênero, os garotos iniciam a atividade sexual em média aos 16,9 anos, ante 18,4 anos para as mulheres. São Paulo é a única região em que a idade média para o começo da vida sexual se dá após a maioridade, aos 18,1 anos.
Já no início da vida sexual é possível perceber diferenças marcantes entre os comportamentos sexuais masculinos e femininos. Entre as mulheres,  75,5% tiveram a primeira relação com o namorado. Entre os homens,  apenas 40,8%  perderam a virgindade com namorada. Nesse contexto, São Paulo é a cidade em que as pessoas, independentemente do gênero, mais citaram o namorado como parceiro na primeira relação sexual: 66,6%. Além disso, 47,8% das mulheres disseram que a primeira relação foi pior do que imaginaram ou muito ruim. Essa percepção cai para 25,5% entre os homens.
A porcentagem de iniciação sexual envolvendo profissionais do sexo é zero para a amostra feminina e  11,4% entre os homens.
Em média, o número de parceiros nos últimos 12 meses foi de dois para os homens e de um para as mulheres. E, apesar das várias diferenças comportamentais entre os gêneros, há um ponto em que a convergência é praticamente absoluta. Para 95,3% dos entrevistados o sexo é importante ou muito importante para a harmonia do casal, porcentagem que sobe para 96,2% entre os homens e fica em 94,5% para as mulheres. A  faixa etária que mais respondeu que sexo é pouco ou nada importante para a harmonia do casal foi a mais jovem, de 18 a 25 anos.
Frequência do sexo
Os universos masculino e feminino também se diferenciam em relação à frequência ideal de relações sexuais. A resposta das mulheres quando perguntadas sobre o número ideal de relações por semana foi "três vezes". Entre os homens,  foi "mais de oito vezes", assinalada por quase um terço deles (26,8%). Em geral, a expectativa média é de quatro relações por semana para as mulheres e de seis para os homens.
Em contrapartida, a vontade de fazer sexo não acompanha a realidade da vida sexual dos casais. Os homens tendem a ter três relações por semana, enquanto as mulheres costumam ter duas. Na divisão por região metropolitana, em quase todas elas a resposta "três vezes por semana" é a que apresenta as maiores porcentagens. São exceções o Rio de Janeiro e Salvador, nas quais predominam a opção "duas vezes".  Além disso, quanto mais velhos os parceiros, especialmente a partir dos 60 anos, menor é essa frequência.
Em média, os entrevistados de toda a amostra tiveram três parceiros sexuais importantes em toda a vida.
Foram avaliados indivíduos de sete regiões metropolitanas do país: São Paulo, Belo Horizonte, Rio de Janeiro, Salvador, Belém, Porto Alegre e Distrito Federal.  A nova pesquisa é uma versão atualizada do estudo Mosaico Brasil, de 2008, que se consolidou como o primeiro e maior levantamento sobre sexualidade já realizada no país até aquele momento, também coordenada pela psiquiatra Carmita Abdo.
"Embora muita coisa tenha mudado e tenhamos a impressão de que hoje é mais natural falar sobre sexo, a sociedade ainda aborda essa temática com certa vulgaridade. Muitas mulheres temem julgamentos relacionados a certos comportamentos sexuais, o que acaba fazendo com que limitem o próprio prazer. Não é tão fácil nem tão rápido se libertar de padrões anteriormente impostos", comenta Carmita

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