“A indústria farmacêutica, em primeiro lugar, é um negócio. Por ser um negócio, ela tem de buscar o lucro. Se não tem lucro, não tem como começar uma pesquisa”, disse Antônio Brito, presidente executivo da Interfarma Associação da Indústria Farmacêutica de Pesquisa, na manhã desta segunda-feira (24), durante a 4ª Jornada de Responsabilidade Social da entidade. A conversa foi conduzida por meio das perguntas dos jovens que participam do Projeto Geral na Saúde, uma ação social apoiada pela Interfarma, na qual adolescentes discutem saúde e escrevem sobre o tema. A programação contou com a participação do secretario municipal da Saúde de São Paulo, Alexandre Padilha.
“O setor farmacêutico não existe sem o lucro, mas ele não pode se esgotar no lucro porque é preciso se lembrar da direção extremamente ética da relação de dor e do sofrimento da doença dos outros”, continuou Antônio Brito. Segundo ele, a relação que a indústria farmacêutica tem com o consumidor é diferente de outros setores econômicos, porque nesta a empresa “está mexendo com a vida das pessoas”.
Dentre os exemplos apresentados por Antônio Brito sobre a sustentabilidade nesse ramo, ele citou a necessidade de um “compromisso extraordinário com a ciência para tratar com dignidade o paciente”. Disse também que é preciso ter uma postura ética para tentar contribuir com os governos para que os medicamentos cheguem aos pacientes. “A indústria não pode dar os remédios de graça, mas os governos não têm dinheiro para pagar e as pessoas muito menos. Então, a indústria tem que contribuir para que se encontrem formas de acesso aos remédios.”
Economia no mercado
De acordo com Fernando Almeida, presidente da Chiesi, a indústria farmacêutica movimenta muito a economia interna do país. “Esse é um mercado que cresce todos os anos porque cada vez mais pacientes precisam de medicamentos. A população brasileira está envelhecendo e, consequentemente, isso aumenta o número de doenças crônicas”, afirmou.
No Brasil, conforme Brito, somente as empresas associadas da Interfarma empregam cerca de 29 mil pessoas, sendo que de 60% a 70% delas têm nível superior de escolaridade.
Ainda, conforme explicou Almeida, 25% dos remédios produzidos no Brasil são exportados para a Europa e países da África. “A gente precisaria de um potencial humano para exportar mais. Tecnologia e potencial nós temos, porém temos pouco incentivo. Poderíamos ter um beneficio muito maior se tivéssemos um custo mais adequado para exportação”, destacou.
Crise econômica
A crise econômica e os possíveis cortes na saúde também fizeram parte das discussões. Na mesa final, com Alexandre Padilha, Cristina Moscardi, diretora da Expression Comunicação, Gustavo San Martin, fundador da Associação Amigos Múltiplos pela Esclerose, o secretário municipal da Saúde alertou: “Um dos grandes erros que um país pode ter em período de crise é reduzir investimentos na saúde. (...) Hoje o SUS [Sistema Único de Saúde] investe mil reais por habitante anualmente. Como deixar de investir na saúde por 20 anos se as pessoas continuam nascendo e envelhecendo? (...) Eu não tenho dúvida que se essa medida [a PEC 241] for aprovada, ela será revertida, porque a sociedade vai sentir o impacto dela e vai brigar.”
Números
Durante o evento foi lançado o Relatório de Sustentabilidade da Interfarma, que neste ano conta com quase 6.500 ações de responsabilidade social corporativa, todas declaradas pelas farmacêuticas associadas. “Esse relatório mostra como as empresas se organizaram mesmo num ano de crise”, disse Maria José Delgado, diretora da Interfarma.
Segundo Delgado, só em 2016, entre os investimentos realizados pela associação, R$ 4 bilhões foram para ações relacionadas à sustentabilidade para todos os públicos, R$ 86 milhões para inovação, R$ 30 milhões para investimentos sociais e R$ 18 milhões para doações de medicamentos e vacinas para governos e organizações autorizadas a receberem legalmente.
Homenagem
Neste ano, também aconteceu a entrega do prêmio “Compromisso com a Vida”, que tem o objetivo de contemplar os esforços voltados à promoção da saúde e da qualidade de vida. O homenageado foi o médico Gonzalo Vecina Neto (foto), professor da Faculdade de Saúde Pública da USP. “Essa área de responsabilidade social tem de ser melhor vista, principalmente nesse momento que vivemos. Responsabilidade social não é caridade, uma sociedade moderna não vive de caridade. Obrigada por premiar minhas tentativas de transformar o mundo para o melhor”, disse o dr. Vecina, muito emocionado.
Dica de Entrevista
CDN – Comunicação Corporativa
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