quinta-feira, 9 de fevereiro de 2017

Cliente soropositivo tem tatuagem negada em famoso estúdio


Rob Curtis, de 36 anos, teve atendimento negado no cultuado estúdio Sang Bleu, em Londres, por ser portador do vírus HIV. Com tatuagem marcada há meses e depósito de £1000 já efetuado, Rob foi até o estúdio no dia 28 de janeiro para tatuar um desenho geométrico na coxa com a artista Malvina Wisniewska. Ao preencher o questionário médico, no entanto, a recepcionista o informou que Wisniewska não o atenderia por não se sentir confortável em tatuar um soropositivo.
O britânico contou ao 'Buzzfeed News' ter ficado profundamente ofendido: "Foi horrível. Eu me senti impotente. Eu não costumo me sentir um cidadão de segunda classe todos os dias", disse. Para piorar a situação, a tatuadora nem se preocupou em conversar com o cliente para apresentar suas justificativas.
O estúdio foi alvo de críticas de entidades de defesa de portadores do HIV por submeter Rob a "estigmas e discriminação". Tatuar pessoas com aids não representa riscos a tatuadores desde que os procedimentos de segurança sejam devidamente realizados, como a utilização de luvas, máscara e material descartável. No Reino Unido, negar este tipo de atendimento fere o Ato de Igualdade de 2010.
Rob diz ainda que enfrentou dificuldades para conseguir seu dinheiro de volta no momento em que a tatuagem lhe foi negada: "Eles disseram que ela não estava com o dinheiro no momento, mas que ela poderia depositar via PayPal". O britânico recusou e, após discussão com o gerente, conseguiu recuperar o valor pago.
Além de divulgar o caso nas redes sociais, Rob mandou um e-mail para Maxime Plescia-Buchi, renomado tatuador dono do estúdio Sang Bleu, que se colocou à disposição para tatuar o cliente:
"Eu deploro o que aconteceu, mas não posso forçar ninguém a fazer o que não se sente confortável. A discriminação não é uma política no Sang Bleu e a maioria dos artistas não se importaria em fazer. Eu ficarei feliz em te tatuar. Eu pessoalmente tenho vários clientes HIV positivo. É o que eu posso te oferecer. De outro modo, a única pessoa que pode responder à situação é Malvina, pois os artistas têm contratos independentes e não são funcionários do Sang Bleu".
Rob não considerou suficiente a resposta do proprietário, e pede desculpas formais do estúdio e da profissional, além de pressionar para que o Sang Bleu doe £1000 para alguma instituição de caridade que defenda os direitos de soropositivos.
Tatuadora nega preconceito
Nas redes sociais, Malvina Wisniewska negou ter agido de forma preconceituosa e explicou que, no passado, se feriu com um objeto cortante enquanto tatuava um cliente com HIV, e por isso teve que ser submetida a um tratamento posterior à exposição ao vírus para prevenir a infecção que a levou a um quadro depressivo. No momento que soube que Rob também era portador do vírus, conta ela, entrou em pânico e não se sentiu capacitada para tatuar. Rob foi o primeiro cliente portador do vírus HIV deste a traumática experiência.
Leia o texto na íntegra:
"Eu não recuso nenhum serviço, incluindo para clientes com HIV ou hepatite. Já tatuei muitos clientes com HIV e hepatite B no passado, tendo grandes resultados. Durante a minha última sessão com um cliente HIV positivo, tive contato com um objeto afiado durante a sessão e depois tive que realizar um tratamento PEP [Profilaxia Pós-Exposição], muito destrutivo e difícil. Como leva quase metade de um ano para ter um resultado final de infecção, o tempo de espera foi a parte mais difícil e causou um monte de tristeza e depressão na minha vida. Se meu diagnóstico desse positivo, isso significaria um fim em potencial para minha carreira. Foi muito traumático e me afetou tanto fisicamente como emocionalmente, e o Sr. Curtis foi a primeira pessoa com quem eu tive que trabalhar depois desse incidente. Naquele dia eu não me senti forte o suficiente como artista para tatuar esse projeto geométrico, bastante difícil em um alto padrão que eu tento oferecer a todos os meus clientes. Meu estilo de tatuagem é considerado um dos mais difíceis, requer um alto nível de concentração e paz de espírito. Durante todos os meus atendimentos a clientes soropositivos, eu nunca me senti estressada ou intimidada, mas depois do incidente, na ocasião, eu me senti em pânico, especialmente porque o senhor Curtis foi o primeiro cliente soropositivo desde aquele tempo. Naquele mesmo dia eu informei ao senhor Curtis sobre meu incidente médico, mas naquele momento isso não importava para ele, ele simplesmente não se importou e minha experiência anterior não foi relevante para ele. O senhor Curtis escreveu vários comentários negativos no meu Instagram, escreveu para o dono do estúdio e entrou em contato com um jornalista do Buzzfeed dando voz a sua raiva. A principal reclamação do senhor Curtis foi a falta de uma justificativa minha cara a cara. Ele não mostrou nenhum entendimento ou empatia pelas minhas experiências. Não houve nada que eu pudesse fazer para pará-lo de me culpar em público. Eu estava em pânico, muito vulnerável com minhas limitações. Em momentos com este é muito difícil operar mesmo no mais simples nível, e ainda mais difícil é dizer a alguém que você não está apta a fazer um projeto já combinado."
Malvina Wisniewska foi afastada do Sang Bleu.

Fonte : O Globo

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