sexta-feira, 14 de abril de 2017

Universitários do Maranhão desenvolvem monografias sobre aspectos clínicos e sociais do HIV/aids



Um grupo acadêmico do Maranhão, que une estudantes de enfermagem, psicologia, biomedicina, farmácia, odontologia e serviço social, cursos ligados à área da saúde, decidiram pesquisar mais sobre o vírus HIV. Eles criaram, em 2013, a Liga Acadêmica de DST/Aids. No grupo, há monografias que abordam, por exemplo, a relação sorodiscordante - quando uma pessoa tem o vírus e a outra não. Há ainda uma pesquisa que estuda os efeitos colaterais do 3 em 1 - uma combinação de três antirretrovirais (tenofovir, lamivudina e efavirenz) usada no tratamento contra o vírus HIV. Desde 2013 a droga é indicada pelo Ministério da Saúde a pessoas soropositivas que estão iniciando o tratamento.
"Decidimos nos aprofundar cientificamente neste tema para aprender mais sobre como lidar com os pacientes soropositivos. Muitos profissionais e estudantes da área da saúde desconhecem as especificidades das pessoas que vivem com HIV/aids", explicou o jovem Jadilson Neto, idealizador e presidente da Liga.
Segundo ele, na universidade o estudante aprende a teoria. “Mas a prática e a humanização na saúde faz toda a diferença. Acredito que as monografias vão nos trazer boas respostas. Contribuir com pesquisas acadêmicas sempre foi o objetivo do grupo."
Ao todo, sete monografias dedicadas ao tema HIV/aids serão apresentadas neste ano, algumas já foram concluídas. "Foi uma surpresa a quantidade de trabalhos sobre HIV/aids. O tema é diverso e há vários aspectos que podemos estudar", comemorou Jadilson.
Hoje, de acordo com o jovem, que também é estudante de enfermagem, a liga é formada por 27 pessoas, a maioria mulher, e atua especialmente no campo da aids. São estudantes da Faculdade do Maranhão e de outras universidades. Os integrantes geralmente fazem estágio no Grupo Solidariedade e Vida, ONG que acolhe pessoas HIV+ no Maranhão, e nos hospitais municipal e estadual de referência em HIV/aids.
"Para participar da Liga Acadêmica de DST/Aids é preciso estar no terceiro semestre de qualquer curso da área da saúde e querer aprender mais sobre a doença. Todo ligante [termo usado para descrever os participantes] contribui com uma taxa de R$ 20,00 mensal. A verba é usada no custeio de atividades desenvolvidas pelo grupo ou viagens dos participantes."
A coordenadora do curso de enfermagem na Faculdade do Maranhão, Flávia Helena, elogiou a iniciativa. "Através deste grupo conseguimos divulgar e despertar o interesse do meio acadêmico pelo tema HIV/aids. As atividades desenvolvidas por eles desperta o interesse dos estudantes pela busca de conhecimento na área. A coordenação de enfermagem sempre apoiou as pesquisas e estamos felizes com o resultado dos alunos, tem monografias com referência nacional."
Antonilde Ribeiro, mestre em Saúde Pública e orientadora da liga, contou que o aprofundamento no tema HIV/aids é de iniciativa dos estudantes e explicou qual é o processo para chegar ao tema de pesquisa. "Os alunos elaboraram um projeto que vai delinear as atividades de ensino, pesquisa e extensão da temática. A pesquisa é desenvolvida no período mínimo de um ano. Os estudantes buscam o conhecimento e nós, professores, damos apoio no desenvolvimento da pesquisa."
Resultados da liga acadêmica
Jadilson disse que desde que a liga foi criada mais de mil pessoas vivendo com HIV/aids no Maranhão foram beneficiadas com o trabalho dos estudantes. "Somos referência no estudo sobre aids na cidade, fazemos palestras em diferentes lugares e sempre estamos à disposição para esclarecer dúvidas. Neste ano, por exemplo, ajudamos o governo local a construir a campanha de prevenção ao HIV no Carnaval. Já participamos de 35 eventos específicos sobre HIV/aids."
A liga acadêmica está preparando para 2017 um seminário destinado aos profissionais de saúde da atenção básica. "A ideia é apresentar os resultados das monografias e chamar a atenção para as especificidades das pessoas vivendo com HIV/aids", revelou o jovem.
Casais sorodiscordantes
Além de estar à frente da liga, o jovem Jadilson é pesquisador. Ele decidiu estudar o universo dos casais sorodiscordantes e a decisão, segundo ele, se deu por ser um assunto pouco divulgado entre os profissionais de saúde. “Com a mudança na epidemia e a possibilidade da cronificação, é cada vez mais comum encontrar casais com sorologia diferente para o HIV.”
“Os serviços de saúde em sua grande maioria não tem habilidades para trabalhar com os parceiros com sorologia negativa, quase em todos pela falta de atendimento especifico para casais sorodiscordantes. Mesmo em serviços de referencias ao HIV, muitos focam somente na adesão ao tratamento medicamentoso e esquecem a vida afetiva-sexual, influenciando a vulnerabilidade individual e social ao HIV/aids”, comentou Jadilson.
Participam do estudo, 70 casais sorodiscordantes. O estudo aborda a vulnerabilidade desta população frente às infecções sexualmente transmissíveis e suas atitudes comportamentais.
Jadilson Neto e sua orientadora Antonilde Ribeiro construíram uma “Analise de Revisão Bibliográfica sobre o Comportamento de Indivíduos que Constituem Casais Sorodiscordantes” para a elaboração do projeto “Perfil dos Casais Sorodiscordantes Frente à Transmissibilidade da Infecção pelo HIV”. O objetivo é mobilizar a comunidade e os locais de treinamento com informações técnicas que permitam familiaridade dos profissionais de saúde com estes novos temas.
"A partir dos resultados desta pesquisa decidimos criar um cartilha sobre casais sorodiscordantes. O livreto será lançado em 12 de junho, dia dos namorados, e vai abordar ainda as novas tecnologias de prevenção", finalizou o ativista. Assim que concluir o curso de graduação, Jadilson deixará a liga.

Um comentário:

  1. Parabéns pelo trabalho e receba minha admiração e agradecer por ter pessoas como você.Deus te abençoe

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