Juntos podemos mudar esta realidade". O slogan é uma tentativa do governo de mobilizar os profissionais de saúde do estado de São Paulo para que todos se unam na luta contra a sífilis adquirida, a sífilis em gestante e a congênita. Os dados comprovam que a doença está aumentando em São Paulo e no Brasil. Para falar da realidade epidemiológica, da importância da assistência no pré-natal e sobre o planejamento estadual de combate à sífilis, o Programa Estadual de DST/Aids em parceria com a Atenção Básica reuniu, nesta quarta-feira (26), no espaço Hakka, médicos, gestores, enfermeiros, técnicos, entre outros, para a 2ª Semana Paulista de Mobilização Contra a Sífilis.
"Por que a sífilis não acabou? Essa é uma doença milenar, o que falta para eliminá-la? Acredito que juntos e com uma mobilização política podemos mudar essa realidade. Neste momento, precisamos enfrentar a situação com a garra necessária, os profissionais de saúde devem saber que a sífilis existe e que os casos estão aumentando", disse Marcos Boulos, coordenador do Centro de Controle de Doenças do estado.
O presidente do Cosems/SP e secretário Municipal de Saúde de Campinas, Carmino de Souza, marcou presença no evento e elogiou a iniciativa. Assim como Boulos, ele também pediu empenho dos profissionais de saúde contra a sífilis. "A doença é de fácil diagnóstico e tratamento, temos que vencer. Hoje, os indicadores de saúde são bons, mas se olharmos detalhadamente os dados vamos perceber que estamos perdendo o jogo para as DSTs. Por exemplo: o tratamento e prevenção contra o HIV avançaram, mas, em Campinas, foram registrados 450 novos casos de HIV só no ano passado e uma criança foi infectada via transmissão vertical."
A sífilis é uma doença infecciosa sistêmica, crônica. Ela se manifesta em diferentes estágios. Sem tratamento, pode causar várias complicações, afetando praticamente todo o organismo humano e podendo provocar até a morte. A causadora da doença é a Treponema pallidum, uma bactéria altamente patogênica.
A principal forma de transmissão é o contato sexual. A gestante também transmite para o bebê a bactéria em qualquer fase da gravidez ou em qualquer estágio da doença. A transmissão via transfusão de sangue pode ocorrer, mas é rara, em função do controle do sangue doado.
Atenção básica
O médico Arnaldo Sala, coordenador da Atenção Básica na Secretária Estadual de Saúde de São Paulo, disse que o problema é complexo. "O aumento de casos de sífilis congênita em São Paulo não quer dizer que a assistência à gestante piorou, talvez o nosso pré-natal sempre foi ruim”.
De acordo com Arnaldo, os testes para sífilis devem ser obrigatoriamente solicitados no primeiro atendimento da gestante na atenção básica e repetidos obrigatoriamente entre 28-30 semanas de gestação. “Também recomendamos a solicitação do exame no segundo trimestre da gestação, mas é opcional.”
Arnaldo chamou atenção para o papel da unidade básica de saúde na eliminação da sífilis. No estado, há 124 municípios que não aplicam penicilina benzatina na atenção básica. “77% das equipes da saúde aplicam, mas queremos 100%.”
No Brasil, entre 2010 e 2016, foram registrados 227.663 casos de sífilis adquirida, deste total, 45% no estado de São Paulo. Entre 2007 e 2015, o boletim epidemiológico do estado registrou 27.079 casos em gestantes. A taxa de detecção aumentou cinco vezes, passou de 1,9, em 2009, para 9,9 casos, em 2015. Do total de casos, 21% eram em adolescentes.
Os casos de sífilis congênita também continuam crescendo no país. Em 2015, o Brasil notificou 19.228 casos em menores de 1 ano de idade. No estado de São Paulo, a taxa de incidência de sífilis em bebês com menos de um ano era que 1,4 casos para cada mil nascidos vivos em 2009. Em 2015, passou para 5,4 - foram 3.437 casos. 75% dessas mães realizaram o pré-natal.
A pediatra Carmen Domingues, do Programa Estadual de DST/Aids de São Paulo, explicou que a sífilis congênita pode resultar em aborto, natimorto ou óbito neonatal. A doença também pode ficar disfarçada e causar o nascimento prematuro de bebês com baixo peso.
Em 2015, segundo Carmen, do total de casos de sífilis congênita no estado, 10% (354) foram abortos, natimortos e óbitos.
Como evitar
A pediatra, que é responsável pelas ações para eliminação da transmissão vertical do HIV e da sífilis em São Paulo, afirmou ainda que é possível evitar os danos da sífilis no bebê com pré-natal adequado e o tratamento correto. “O tratamento da sífilis na gestação deve ser iniciado o mais rápido possível e normalmente é feito com penicilina benzatina. O parceiro também deve ser tratado para evitar uma nova infecção na gestante.”
Mas a pediatra alerta: “o tratamento com penicilina somente é considerado eficaz, para evitar sífilis congênita, se administrado com mais de 30 dias antes do parto.”
Para a especialista, o maior desafio do combate à sífilis hoje é tratar o parceiro. “Os homens geralmente não vão aos serviços de saúde. O ideal é que eles aderissem ao pré-natal também. Temos que falar em pré-natal da família. O acompanhamento do parceiro pode contribuir para reduzir a transmissão vertical da sífilis e do HIV. A realização de testes rápidos para detecção destas doenças e a consequente adesão ao tratamento por parte do parceiro infectado pode diminuir consideravelmente o risco de contágio da mãe para a criança. Mesmo com a devida atenção ao longo da gravidez, se a mulher mantiver relações sexuais com o parceiro infectado pode ser reinfectada pela sífilis, por exemplo.”
Segundo o Ministério da Saúde, a principal forma de prevenção é o uso de preservativos no ato sexual. O tratamento correto e completo também é considerado uma forma eficaz de controle, pois interrompe a cadeia de transmissão.
Plano de ação
Os coordenador-adjunto do Programa Estadual de DST/Aids, Artur Kalichman, contou que “o enfrentamento da sífilis congênita poderá ser incluído nos Planos Municipais de Saúde. As diretrizes e os objetivos do enfrentamento da sífilis na gestante e sífilis congênita podem ser explicados no plano, com a metas a seguir. Vale indicar atividades de educação permanente necessárias para qualificação no cuidado das gestantes e recém-nascidos.”
Participaram do evento profissionais de saúde da atenção básica, gestores, funcionários de serviços de HIV/aids, representantes das GVE (Grupo de Vigilância Epidemiológica), equipes de saúde da família e saúde da mulher.
Dica de entrevista
Assessoria de Imprensa do Programa de Aids