terça-feira, 30 de maio de 2017

Mutirão vai realizar mais de 8 mil atendimentos pelo SUS, nesta quarta (31)



Nesta quarta-feira (31), 39 hospitais universitários federais participam do 2º Mutirão Nacional da Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares (Ebserh). A previsão é que sejam disponibilizados mais de 8 mil procedimentos via Sistema Único de Saúde (SUS) em um único dia – o equivalente ao dobro de atendimentos realizados na primeira edição do mutirão.
De acordo com a Ebserh, as unidades de saúde, espalhadas em todas as cinco regiões do país, vão oferecer 668 cirurgias em 16 especialidades, 4,8 mil exames em 31 especialidades, 3,4 mil consultas referentes a 30 especialidades, além de 167 atividades educativas. O objetivo é reduzir a demanda reprimida nas unidades e na rede do SUS.
Apenas no Hospital Universitário Onofre Lopes da Universidade Federal do Rio Grande do Norte, serão realizadas 100 cirurgias oftalmológicas, 1.200 avaliações em tireoide e 200 atendimentos oftalmológicos, além de ações antitabagismo e acolhimento das mães de crianças com microcefalia.
O presidente da entidade, Kleber Morais, acredita que o evento busca a melhoria do sistema público de saúde. “O mutirão mostra a relevância dos hospitais universitários federais para o usuário do SUS. É nosso papel oferecer atendimento a quem precisa, além de apoiar o ensino, a pesquisa e inovação tecnológica.”
Números
Dados da Ebserh indicam que, na primeira edição do mutirão, foram realizados 3.649 atendimentos em 22 estados e no Distrito Federal, incluindo 664 cirurgias, 879 consultas e 2,1 mil exames.

Fonte : Agência Brasil

Anvisa suspende dois lotes de vacina contra hepatite B fabricados por laboratório indiano



A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) suspendeu a importação de dois lotes de vacinas conjugadas contra hepatite B e Haemophilus Influenzae tipo B (Hib). Segundo laudos de análise técnica emitidos pelo Instituto Nacional de Controle de Qualidade em Saúde (INCQS), os lotes 137Q6010B e 137Q6010C da vacina apresentaram resultado insatisfatório para o ensaio de potência do componente diftérico.
Os lotes da vacina conjugada adsorvida antidiftérica, antitetânica, anticoqueluche eram fabricadas pela empresa indiana Serum Institut of India Ltd e foram suspensas em todo território nacional.
Segundo laudos de análise técnica emitidos pelo Instituto Nacional de Controle de Qualidade em Saúde (INCQS), os lotes 137Q6010B e 137Q6010C da vacina apresentaram resultado insatisfatório para o ensaio de potência do componente diftérico.
Considerando o possível comprometimento da eficácia antidiftérica da vacina em questão, a Anvisa publicou nessa segunda-feira (30) a resolução 1.413, que suspende a importação, distribuição e uso dos dois lotes.

Fonte : Extra

Sistema de rastreamento de remédios terá teste em agosto



O sistema de rastreamento de remédios, que permite traçar a trajetória do produto desde a fábrica até os postos de venda, começa a ser testado em agosto no Brasil com no máximo cinco classes de medicamentos. Entre os candidatos para o teste estão antibióticos, uma droga para controlar a hipertensão e outra para diabete. A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) já publicou as regras para nortear o sistema na fase de experimentação, que começa em agosto e tem duração de um ano.
A ideia é de que o produto possa ser rastreado durante todo o percurso e seja possível fazer o acompanhamento mesmo em locais onde o acesso à internet não é constante. Uma das intenções é de que farmácias pequenas façam a transmissão de informações via celular. "Quando o sistema estiver em vigor, acreditamos que aplicativos serão criados. O que pode permitir que o próprio consumidor verifique se o remédio não é falsificado."
Nos próximos dois meses, é aguardada a edição de normas que vão acertar os detalhes de quais empresas e quais produtos serão envolvidos no trabalho. O presidente da Anvisa, Jarbas Barbosa, afirma que devem participar dessa fase um laboratório internacional, um laboratório brasileiro de grande porte, outro de pequeno porte e um laboratório público. "A participação é obrigatória. Mas muitas empresas já mostraram interesse em participar", disse.
Preparativos para por em prática o sistema não vêm de hoje. Pela ideia inicial, a rastreabilidade deveria estar totalmente implementada no país há pelo menos cinco anos. Foram sucessivos adiamentos e alterações no projeto, considerado essencial para tentar prevenir contrabando, roubo e falsificação de medicamentos.
O formato agora acertado é bem mais restrito do que havia sido projetado em 2009, quando a lei foi criada. A lei anterior determinava que o sistema fosse aplicado em todo o mercado, para todos os medicamentos. O modelo anunciado este mês pela Anvisa exclui do projeto piloto radiofármacos, medicamentos vendidos sem receita médica, amostras grátis, contrastes injetáveis e gases medicinais.
Também são excluídos desta fase remédios distribuídos pelo Sistema Único de Saúde de controle individualizado (em que autoridades sabem nome e endereço do paciente), como os fornecidos no programa de tuberculose e de HIV/aids. A tendência é de que a exclusão seja mantida, mesmo depois de concluída a etapa de projetos.
O presidente da Anvisa, Jarbas Barbosa, reconheceu a demora na adoção da lei de rastreabilidade. Para ele, no entanto, a primeira versão era pouco factível. "O prazo proposto para isso, de três anos, era muito pequeno. Não foi feito um estudo para verificar quanto o processo custaria, qual tecnologia seria usada", disse.
Ele argumenta que, mesmo em países ricos, o prazo para a implementação do sistema é maior. Diante das dificuldades, uma nova lei foi aprovada no ano passado. Pelo cronograma traçado, a adoção para todo o mercado começa somente em abril de 2022.
A preocupação da agência, agora, é escolher produtos que sejam muito representativos. Daí a opção por um antibiótico de largo uso (preferencialmente que tenha tanto a versão oral quanto injetável) e medicamentos para controle de hipertensão e diabete, duas doenças muito comuns entre brasileiros. "O objetivo central da rastreabilidade é evitar fraude e a ação de quadrilhas especializadas em roubo de cargas de medicamentos", justificou Barbosa.
Para analistas, a rastreabilidade é importante para a vigilância de produtos. E problemas na qualidade, avaliam, podem ocorrer em todos os remédios, não apenas nos mais caros.
Desde que assumiu a presidência da Anvisa, o sanitarista defendia que a rastreabilidade tivesse dimensão reduzida para produtos considerados de maior risco de fraude e contrabando. Outra mudança defendida por Barbosa, que agora se tornou regra, é a mudança no banco de dados. O controle será feito por um banco público, controlado pela Anvisa. "Na regra anterior, a previsão era de que o controle seria feito pelo produtor ou importador do remédio."
O presidente da Sindusfarma - entidade que representa indústrias farmacêuticas -, Cleiton de Castro Marques, fez elogios. "No formato inicial, os custos seriam muito altos. Com a proposta atual, é possível a indústria absorver o impacto. Ele trará mais segurança."

sexta-feira, 19 de maio de 2017

EFE: A vergonha e o estigma de pedir preservativos na Bolívia



"Sua mãe sabe que você está comprando preservativos?" esta é a pergunta feita a algumas vezes aos jovens que vão comprar camisinhas em uma farmácia de Bolívia, um país onde o número médio de idade de início de relações sexuais é de 13 anos e o uso de anticoncepcionais tem ainda muito estigma.
De fato, o questionamento sofrido pela população jovem ao pedir métodos anticoncepcionais é uma das principais razões para que o uso de preservativos continue sendo muito baixo no país, segundo especialistas ouvidos pela Agência Efe.
"O que acontece com um jovem que vai a uma farmácia para pedir uma camisinha? Maltratam-no, julgam-no, criticam-no e no final não lhe vendem a camisinha", resumiu a ginecologista e diretora de Saúde da ONG internacional IPAS-Bolívia, Susana Asport.
A responsável pelo Programa de HIV e Aids do governo do país, Carola Valencia, contou que os jovens dizem ter "preconceito" de ir à farmácia porque lhes questionam o porquê de o pedirem e lhes fazem perguntas desse tipo.
Valencia pede às farmácias que "deem mais visibilidade" e "não deixem a camisinha escondida" para que simplesmente se possa pedir apontando e dizendo: "me dê três destas".
O Ministério da Saúde diz que não existem números oficiais de uso de preservativos porque são pesquisas caras, mas um pequeno estudo realizado pela IPAS, uma ONG que defende os direitos sexuais e reprodutivos, em El Alto (a segunda maior cidade do país) e La Paz, chama a atenção: somente 1,5% e 1,8% dos jovens entre 12 e 24 anos usam métodos anticoncepcionais.
Talvez isso explique outros números: em 2013 foram registrados o que equivaleria a 246 gestações por dia em adolescentes de 15 a 19 anos, segundo dados do Fundo de População das Nações Unidas (Unfpa). Em março de 2017, havia 18.624 casos de HIV e aids no país, ou seja, 17 a cada 10 mil pessoas viviam com o vírus ou a doença na Bolívia.
"O teste de detecção do HIV é anônimo e gratuito nos centros de saúde bolivianos, bem como o acompanhamento e tratamento com antirretrovirais", lembrou Valencia.
Por isso, a primeira coisa que os especialistas querem conseguir é romper esta barreira com as farmácias; a IPAS trabalhando com cursos de formação e o governo tentando que se possa distribuir preservativos também em outros locais, como em bares e discotecas.
Em uma rede de farmácias chamada Chávez, os donos lançaram um ato simbólico para lutar contra a vergonha que uma pessoa pode sentir ao dizer a palavra "preservativo". Basta o cliente mexer na orelha duas vezes e a vendedora trará um papel com todos os tipos de produtos de proteção e saúde sexual que tem. Uma solução criativa, mas não a definitiva.
Os métodos anticoncepcionais de longa duração - o adesivo e o dispositivo intrauterino (DIU), - são gratuitos nos serviços de saúde, mas falta informação tanto deste dado como de que podem ser formas úteis para proteção de gestações.
Além disso, as clínicas também se mostram reticentes algumas vezes e têm medo de receitá-los e depois ouvirem queixas dos pais das jovens.
Asport resumiu que os "serviços têm medo de oferecer, e em vez de julgar deveriam oferecer algum método". Mas estes métodos não são efetivos para prevenir Doenças Sexualmente Transmissíveis (DSTs) e sempre deveriam vir acompanhados da camisinha.
"Os jovens pensam que se tiverem relações não haverá problema, porque têm o que chamam 'marcha à ré", disse Valencia.
"O que basicamente procuramos é que as pessoas adquiram a responsabilidade a respeito de sua sexualidade, já que não somente te previne de uma DTS, mas também do HIV, do câncer cervico-uterino, bem como de uma gravidez não desejada", explicou esta médica encarregada do programa nacional de HIV, que também reiterou: "mas é preciso usar de maneira persistente e contínua".
Além disso, o melhor acesso aos métodos anticoncepcionais deve vir acompanhado, segundo as duas especialistas, por uma educação sexual forte desde o colégio e que não tenha foco na punição ou em recomendar a privação.
"Como vamos falar de privação quando o início das relações é cada vez mais cedo; estamos falando de uma média de 13 anos, inclusive agora se fala de 12 anos", alertou Valencia.
Asport resumiu que os professores estão ensinando que "o sexo é ruim, e portanto as pessoas que têm relações sexuais não podem usar métodos anticoncepcionais porque se usarem vão se dedicar à prostituição e à libertinagem".

Fonte : Agência EFE

CineSesc recebe bate-papo sobre diversidade sexual no Dia Internacional de Luta Contra a Homofobia



O Brasil ocupa o primeiro lugar em homicídios de LGBTs nas Américas. De acordo com o último relatório da Associação Internacional de Lésbicas, Gays, Bissexuais, Transgêneros e Intersexuais (ILGA), foram 340 mortes por motivação homofóbica, só em 2016. Nessa quarta-feira (18), Dia Internacional Contra a Homofobia, o Cinema da Vela, projeto do CineSesc, recebeu Elaine Pombo, integrante do coletivo Mães Pela Diversidade e o educador e ativista Beto de Jesus, um dos fundadores da Parada do Orgulho LGBT de São Paulo, para um bate-papo, mediado pela jornalista Roseli Tardelli, a respeito da diversidade sexual e luta contra a homofobia.
Elaine entrou para o coletivo por meio de uma indicação do filho Felipe Pombo, um jovem ativista, homossexual e soropositivo. “Muitas mães não sabem que ser homossexual é uma condição. Eu, por exemplo, passei por todos os traumas e dificuldades de entender tudo isso. Mas tudo depende de como você vai lidar com a situação daquele momento em diante. Depois, quando eu soube que meu filho era soropositivo todo o meu medo se transformou”, disse.
Foi por meio do Mães Pela Diversidade que Elaine trocou o medo pela informação: “Você começa a enxergar as coisas do lado de fora da caixinha. Sobre a homossexualidade do meu filho, eu achava que era uma fase que ia passar. Além da preocupação relacionada a homofobia, eu tive HIVfobia. Se eu tivesse mais informações, naquele momento, não teria passado pelo que passei. O coletivo me ajudou a enxergar as coisas de outra maneira.”
Para ela, os pais também precisam sair do armário e esse não é um processo fácil. “Saber a condição do seu filho e amá-lo é uma coisa, mas da porta para fora as questões são outras. Eu descobri que, o que outro pensa, é apenas o que o outro pensa e ponto. O seu avanço é não sentir mais medo.”
De acordo com Beto de Jesus, que atualmente é gerente de Prevenção, Testagem e Advocacy da AHF Brasil (Aids Healthcare Foundation), em todo 17 de maio é publicado um relatório com o ordenamento legal de todos os países em relação a população LGBT, “embora tenhamos um decréscimo [mundial] de leis punitivas e aberturas maiores de direitos no último ano, isso é uma informação que está no papel. Sabemos que a realidade é outra”, disse.
Atualmente, segundo Beto, 72 países têm leis punitivas com relação à homossexualidade e um terço deles fazem parte da ONU (Organização das Nações Unidas). Oito países tem pena de morte para essa população. No entanto, metade dos assassinatos de pessoas transexuais no mundo acontece no Brasil.
“Quando não se discute gênero nas escolas, nublamos a realidade. Retirar a discussão de gêneros desse espaço foi uma atitude pensada para atingir a população LGBT, mas ela afeta, diretamente, os direitos das mulheres. Vivemos em um Estado que paga salários menores para as mulheres, isso para a mesma função. Entre as mulheres paga-se menos para as negras e ainda menos para as trans”, afirma.
Outro ponto criticado pelo ativista é o termo LGBTfobia, segundo opina, o termo que esconde as diversas vulnerabilidades vividas pela população LGBT. “Quantos jovens gays negros morrem na periferia? Só nesse exemplo cito jovens, gays, negros e a periferia. Quando diferenciamos, garantimos os direitos das pessoas”, refletiu.
Retomar a base comunitária da Parada Gay
Faltando um mês para a Parada do Orgulho LGBT de São Paulo, Beto de Jesus afirmou que, embora tenha nascido em manifestações, a Parada perdeu a base comunitária e não tem dialogado com o ativismo. “É um evento grande e por isso é difícil de administrar, mas se você fecha a organização para grupos menores, você perde a possibilidade de ter diferentes percepções. Pode ser difícil, mas tem que trazer mais grupos e coletivos para a conversa. Hoje isso só é feito a alguns dias do evento.”
O HIV e os jovens gays
Um levantamento da Secretaria de Estado da Saúde em 2016, realizado por meio de seu Centro de Referência e Treinamento em DST/Aids (CRT/DST-Aids) mostra que, embora a mortalidade por aids esteja diminuindo no Estado, a detecção das novas infecções pelo HIV cresceu exponencialmente entre jovens gays em SP e este é um cenário nacional.
A taxa de mortalidade pela doença em 2015 foi de 6 por 100 mil habitantes, 23,5% a menos do que em 2006 e 73,8% inferior à registrada desde 1995. Em 2015, morreram 2.573 pessoas com aids em todo o Estado, o que representa uma média de sete óbitos por dia.
 Já a detecção de novas infecções pelo HIV entre homens que fazem sexo com homens apresentou aumento de 121% desde 2010, passando de 1.686 casos para 3.728 em 2015. No mesmo período a detecção entre homens heterossexuais também cresceu, mas em uma proporção bem menor: 28%.
 As taxas de detecção do HIV na população como um todo cresceram 4,2 vezes entre 2000 e 2015, passando de 4,2 para 17,6 casos por 100 mil habitantes no período. Mas entre os homens o crescimento no período foi muito maior: 6,5 vezes, contra 1,8 no caso das mulheres.
“Tem muitos gays que não gostam de falar de HIV. É como se isso não dissesse respeito a nossa comunidade, mas diz. Se as pessoas não falam o tema vai para debaixo da mesa. Os boletins trazem os jovens gays. Achávamos que isso era uma questão resolvida, mas voltamos para o inicio da epidemia”, observou Beto de Jesus.
PL 198
O Projeto de Lei (PL) 198 que quer tronar crime hediondo a transmissão do HIV também fez parte da conversa.  Roseli Tardelli observou que este caminho afasta as pessoas da testagem e em consequência do tratamento.
“Nós sabemos que além de atacar o sistema imunológico, o HIV inflama tecidos. Se a pessoa não faz o teste, ela adoece e morre. Os verdadeiros problemas são outros”, disse Beto de Jesus.   
O bate-papo durou aproximadamente 1 hora e 30 minutos. A conversa foi gravada e em breve será disponibilizado no site da Agência Aids e do Cinesesc.

Protesto no Recife (PE) pede investimentos para pesquisas de vacina anti-HIV



Para chamar atenção da sociedade e principalmente dos governantes, o Grupo de Trabalho e Posithivo (GTP+), a Rede Nacional de Pessoas Vivendo com HIV de Pernambuco (RNP PE) e a Articulação Aids em Pernambuco realizam nesta sexta-feira (19), o XII Candlelight (A Luz de Velas).
A manifestação começa às 15h, na Praça ao lado do Parque 13 de Maio, com o tema Encerrando a Aids Juntos. O ato no Recife acontece há 11 anos como forma de mobilizar governantes, empresas, comunidades, para sensibilizar e trazer reflexão sobre a necessidade do investimento e ampliação das pesquisas em busca de uma vacina anti-HIV. Além disso, as organizações querem tornar público a falta de medicamentos antirretrovirais no estado.

Ativistas divergem sobre venda de testes de HIV em farmácias; exame estará disponível nas drogarias a partir de junho

Ativistas divergem sobre venda de testes de HIV em farmácias; exame estará disponível nas drogarias a partir de junho

A Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) aprovou nesta semana o primeiro autoteste de HIV para venda em farmácias do país. Destinado ao público geral, o exame é de triagem e funciona com a coleta de gotas de sangue, de forma semelhante aos testes já existentes para medição de glicose por diabéticos (leia mais). Ativistas ouvidos pela Agência de Notícias da Aids apontaram pontos positivos e negativos desta iniciativa. Muitos estão preocupados com a falta de aconselhamento caso o resultado dê positivo. “A oferta do teste em farmácia deve ser acompanhado da garantia do acesso pleno à saúde para não se tornar um problema em um momento tão importante para a vida das pessoas que é o diagnóstico", disse o psicólogo Salvador Côrrea. Na mesma linha, o ativista José Hélio Costalunga, da RNP+ Brasil, observou que o teste de HIV não é como o de gravidez. "A pessoa tem de estar preparada psicologicamente para receber o resultado positivo. Ainda não há cura para o HIV/aids." Para o jovem Carlos Henrique, da Rede São Paulo Positiva, “mais importante do que vender testes é ter uma política eficaz contra a discriminação, e uma rede de saúde mental que funcione no SUS, para atender a demanda cada vez maior de pessoas em sofrimento psicológico por causa do estigma.”
Por outro lado, há quem defenda o fácil acesso ao exame.  O militante Renato da Mata acredita, por exemplo, no livre arbítrio. "Se o cidadão quer ou não usar o preservativo a escolha e a responsabilidade é dele. Temos que oferecer todas as ferramentas disponíveis para a população. Brunna Valim, da Rede Trans Brasil, lembrou que o teste em farmácia estará disponível para os que não vão aos serviços de saúde. "Quem mora em cidade pequena, por exemplo, pode encontrar o vizinho no serviço de saúde e desistir do exame."
O produto, registrado com o nome de Action, só é capaz de indicar a presença do HIV 30 dias depois da exposição. Esse período é o tempo que o organismo precisa para produzir anticorpos em níveis que o autoteste consegue detectar.  Se o resultado for negativo, a recomendação é que o teste seja repetido 30 dias depois do primeiro teste e outra vez depois de mais 30 até completar 120 dias após a primeira exposição. Se o resultado for positivo, o paciente deve procurar um serviço de saúde para confirmação do resultado com testes laboratoriais e encaminhamento para o tratamento gratuito adequado, se for necessário. Leia a seguir o que dizem os ativistas:
Aline Ferreira, estudante de psicologia e membro da Rede de Jovens São Paulo Positivo: “Penso que seria muito bom se tivéssemos superado o estigma relacionado ao HIV. Fico um pouco preocupada com alguém fazendo o teste sozinho em casa. Hoje, mesmo com todas as deficiências do sistema, os profissionais tem uma formação para informar o diagnóstico. Eles procuram minimamente mobilizar a rede, garantir consultas e etc. Essa notícia, sobre a provação de um autoteste, chega simultaneamente ao fechamento dos CTAs [Centro de Testagem e Acolhimento], o que torna o cenário bem mais assustador. Acredito que seria incrível para a prevenção ter um teste no armarinho do banheiro para ser feito de tempos em tempos, o problema é que não olhamos para o HIV com a naturalidade que vemos o diabetes ou a hipertensão. Ainda existe muito mito e medo. Não sei o quanto isso pode ter um impacto negativo, espero que eu esteja sendo só pessimista, mas acho irresponsável vender testes de HIV nesse momento.” 
Brunna Valin, ativista LGBTI e articuladora da Rede Trans Brasil: "Sou a favor da venda de testes de HIV em farmácias porque muitas pessoas não vão aos serviços de saúde. Quem mora em cidade pequena, por exemplo, pode encontrar o vizinho no serviço de saúde e não fazer o exame. Acredito ainda que as bulas destes testes trarão orientações corretas caso o resultado seja positivo. Além disso, a facilidade do acesso pode contribuir para o diagnóstico precoce e diminui o tardio."


Rodrigo Pinheiro, presidente do Foaesp (Fórum de ONGs/Aids do Estado de São Paulo): "Sou favorável à ampliação da testagem, mas neste caso específico tenho dúvidas, principalmente nos casos positivos. Como será o aconselhamento? A maioria da população não tem informações como proceder."


Salvador Côrrea, psicólogo, ativista e coordenador de treinamento e capacitação da Abia (Associação Brasileira Interdisciplinar de Aids): "A ampliação do alcance da testagem para HIV é de extrema importância para a sociedade. No entanto, muitos fatores precisam ser pensados quando se trata de uma das infecções mais estigmatizadas dos últimos anos. Certamente o teste rápido para HIV nas farmácias merece uma atenção especial e um debate apropriado, com ampla participação social. Dentre os fatores para pensar, é  importante oferecer aconselhamento pré e pós teste, garantir o acesso pleno ao serviço de saúde, oferecer apoio com uma equipe interdisciplinar bem preparada. Infelizmente isso não tem sido alcançado por muitos serviços. Ou seja, as ações bem sucedidas que nos levaram a ser referência no passado precisam ser resgatadas nos serviços existentes, e adaptados a novas abordagens diante do novo contexto atual. Precisamos de uma ampliação da testagem na própria rede de saúde, com profissionais capacitados para testagem, acolhimento em serviços que respeitem as diversidades  - e não podemos, em nenhuma hipótese, jogar uma responsabilidade que é da saúde pública para as costas dos indivíduos - o acolhimento é fundamental. Por isso precisamos fortalecer a rede de atenção às pessoas com HIV. A oferta do teste em farmácia deve ser acompanhado da garantia do acesso pleno à saúde para não se tornar um problema em um momento tão importante para a vida das pessoas que é o diagnóstico."
Marta McBritton, presidente do Instituto Cultural Barong: “Já sabíamos desde o ano passado que a venda de testes de HIV nas farmácias seria autorizada. Eu não sou contra, não podemos tutelar as pessoas, há autonomia. Todos têm o direito de ter acesso aos testes. Num mundo ideal, o melhor é que a pessoa recebesse o resultado por um profissional de saúde, mas não vejo diferença daquela pessoa que pede para o médico o exame de HIV e depois abre com a senha do laboratório. Já que isso é um fato, nós de ONGs, o Ministério da Saúde, e os programas de aids precisam de mais instrumentos de informação para que as pessoas possas acessar sozinhas a orientação correta. No caso de positivo, geralmente o cidadão recorre ao google, então, ele precisa ter acesso as informações. O trabalho de comunicação nas redes sociais também é fundamental. O Barong não é contra, acreditamos que a individualidade das pessoas tem de ser respeitadas. Vamos vê como isso vai funcionar na prática, será um aprendizado para todos nós. O HIV é complicado, há ainda muito estigma. Gostaria de ler a bula do teste, penso que ela deveria ser acolhedora.”
José Araújo Lima, do Epah (Espaço de Prevenção Humanizada): "As novas tecnologias de prevenção devem ser bem recebidas, mas neste caso o risco é muito grande em um país com baixo nível cultural e saúde pública precária. A falta de um suporte humano e acolhimento podem trazer sérios problemas caso a pessoa descubra que é soropositiva. Usar o teste antes das relações sexuais, como prevenção, é outro grande víeis negativo nesta comercialização. Sou totalmente contra."

José Hélio Costalunga, secretário executivo da RNP+ Brasil: "A pessoa tem de estar preparada psicologicamente para receber o resultado de um teste de HIV,  não é como o de gravidez, traz o resultado de uma infecção que, se não tratada, progride para uma doença ainda sem cura. Há ainda o estigma e preconceito. Em função disso, a RNP+ Brasil defende um diagnostico oportuno, com aconselhamento, acolhimento e realizado em ambiente adequado, como necessita a maioria da população em risco de infecção. Teste acessível é no SUS."

Renato da Mata, da Articulação Nacional de Saúde e Direitos Humanos: "Sempre fui defensor dos testes rápido, acho que é mais uma ferramenta no combate à aids. Por exemplo, se o casal decide abolir o uso do preservativo, ele pode optar pelo exame.  É claro que serão questionadas várias outras situações como o acolhimento, as outras DSTs, mas é importante entender que todos têm livre arbítrio para fazer o que quiser. Se o cidadão quer ou não usar o preservativo a escolha e a responsabilidade é dele. Temos que oferecer todas as ferramentas disponíveis para a população."

Heliana Moura, do Movimento Nacional das Cidadãs Posithivas (MNCP): “Embora eu entenda que todos tenham o direito de saber sua sorologia para o HIV e que ele estar disponível nas farmácias amplia essa possibilidade àqueles que não querem ir a um Centro de Testagem e Aconselhamento, à Unidade Básica de Saúde ou até mesmo em laboratórios particulares. Eu ainda me preocupo a respeito de como fica o aconselhamento. Acho que não fica!  Em minha opinião, enquanto mulher vivendo com HIV que recebeu o resultado em um laboratório particular, há 21 anos, não teve o aconselhamento e hoje trabalha em um CTA de Belo Horizonte (MG) realizando o aconselhamento pós-teste, percebo e sei que faz toda diferença para os usuários. Isso, seja num resultado negativo, reconhecendo e refletindo sobre suas vulnerabilidades e construindo estratégias que as diminuam ou acabe com as mesmas; ou num resultado positivo para que possa orientar e encaminhar esse usuário e dar um suporte emocional naquele momento. Às vezes, também com um simples abraço que alivia, um pouco, o impacto do resultado. Pode ser que eu mude de ideia algum dia, mas hoje, para mim, o melhor lugar de se testar seja para o HIV, sífilis ou hepatite B e C, é nos serviços do SUS como CTAs ou Unidades Básicas de Saúde que tenham a testagem disponível associada ao aconselhamento.”
Américo Nunes Neto, coordenador do Mopaids (Movimento Paulistano de Luta Contra a Aids): "Sou a favor em partes. Acredito e defendo o direito e acesso ao teste rápido nas farmácias em razão de custo benefício da saúde. Por outro lado, muitos não sabem, por exemplo,  que há uma janela imunológica entre o primeiro contato com o vírus e o resultado positivo. Situações assim pode gerar falsos negativos. Como as pessoas terão acesso as informações em caso de resultado positivo? Onde buscar apoio?  Temos que avançar e ter a disposição diversas formar de frear a epidemia, agora é pagar pra ver. Sei que boa parte do movimento de aids é contra, mas não se pode ficar com factoides."
Willian Amaral, ativista independente e membro do Comitê Comunitário de Assessoramento de pesquisas e estudos da Fiocruz: "O acesso ao teste de HIV deve ser facilitado ao máximo, com aconselhamento pré e pós teste. A venda em farmácias deve ser precedida de informações que embasem o consumidor a fazer um teste seguro e com consciência dos resultados possíveis. É necessário que se tenha serviços de referência para entendimento do diagnósticos para quem tiver dificuldades da compreensão de um resultado positivo ou negativo. Um ponto importante é a pessoa saber que a infecção pelo HIV tem tratamento pelo SUS. O grande empecilho do teste na farmácia é o preço elevado.”
Carlos Henrique, da Rede São Paulo Positivo: "Eu me preocupo bastante só de pensar numa pessoa fazendo o teste de HIV sozinha em sua casa, sem nenhum acompanhamento ou equipe de orientação, numa sociedade ainda dominada pelo estigma e discriminação que envolvem o HIV. Ser diagnosticado com HIV, para a maior parte das pessoas, ainda é uma situação difícil. E o meu medo é que, somado à precarização do SUS e das políticas de prevenção, como por exemplo, o fechamento dos CTAs e a provável mudança no repasse de verbas para o SUS (que não terão mais recursos "carimbados", específicos para cara área e que ficarão livres para os secretários municipais usarem o dinheiro do SUS como bem entenderem), as pessoas se "autodiagnostiquem" cada vez mais, que a prevenção e o diagnóstico ganhe cada vez mais hegemonia da indústria farmacêutica para além do SUS. Mais importante que vender testes é ter uma política eficaz contra a discriminação, e uma rede de saúde mental que funcione no SUS, para atender a demanda cada vez maior de pessoas em sofrimento psicológico por causa do estigma.”
Daniel Fernandes, ativista e youtuber no canal Prosa Positiva: “Eu fico preocupado com as pessoas que descobrem a sorologia sozinhas. Há a vantagem de não precisar ficar exposto durante a espera de fazer o teste e o resultado. Mas, após o resultado positivo, será que a pessoa estará preparada para saber as informações corretas do que se deve ser feito? Ninguém nunca está preparado para tal notícia. Não é a mesma reação de quando a mulher faz o exame de gravidez de farmácia. Eu não sou contra, até porque cada um tem seu direito, mas eu me preocupo com o comportamento pós- resultado, sem o acompanhamento de profissional.”

Jeová Fragoso, diretor-presidente do Grupo Esperança: “Em princípio toda a oferta de testagem é relevante para a detecção precoce de doenças crônicas, principalmente, as que apresentam tardiamente os sintomas por meio das graves formas evolutivas. Para o HIV, como também para as Hepatites B e C,  é relevante o diagnóstico precoce como facilitador do êxito do tratamento. Também para evitar a transmissão devido ao desconhecimento da pessoa infectada. A possibilidade de realizar a testagem rápida em farmácia capilariza e muito a possibilidade da população se testar e assim contemplar o diagnóstico precoce. No entanto, tem que ser avaliada com muito critério a capacitação do aconselhamento na entrega do resultado e as estratégias do segmento da investigação diagnóstica, pois o teste rápido para HIV traz praticamente um diagnóstico fechado, com proporcionalidade muito baixa de dar um resultado diferente quando confirmado por outros métodos. Portanto, é de muita valia essa aprovação pela ANVISA, mas ela deve ser impreterivelmente vinculada à qualidade do atendimento desse procedimento, com os técnicos das farmácias devidamente capacitados. Somando ainda, que tenham esses, como procedimento automático, prover aos que apresentaram resultados positivos todo o encaminhamento imediato para a assistência especializada.”
Rafuska Queiroz, psicóloga, fundadora Rede Jovem Rio+, membro do Movimento Nacional das Cidadãs Posithivas e criadora da página Florescer.: “Eu sou a favor, mas tenho minhas ressalvas! Ainda vivemos uma grande epidemia repleta de estigma e discriminação, na própria Rede Jovem Rio+ (RJR+) acompanhamos recém-diagnosticados que recebem o resultado positivo sem uma triagem ou aconselhamento pós-diagnóstico ruim. Eles ficam totalmente perdidos e ainda existe aquela antiga sensação de ‘quanto tempo de vida ainda terei!’. Ainda não temos aquela tão esperada informação sobre HIV, as pessoas desconhecem a realidade, quando diagnosticadas positivas existe um choque, as pessoas não esperam, por mais que saibam que uma transa, sem preservativo, com alguém conhecido ou desconhecido que não saiba a sorologia, pode se infectar. Acredito que a venda do teste pode ser uma caminhada para a quebra do estigma da condição positiva para o HIV, mas temos e vivenciamos que ao contrário do que muitos falam, ter o resultado positivo não é o mesmo que se descobrir uma pessoa com diabetes! Não podemos comparar de forma alguma! Não é um bicho de sete cabeças, mas viver com HIV também não é flores em um jardim, nesse mundo ainda tão "preso" nos estigmas que acompanham a epidemia! Lembrando que cada pessoa é um ser e cada ser um viver! Mas acredito que seja mais uma forma de acessar a testagem, pois sabemos que existem pessoas que querem ir a um posto de saúde e por isso não se testam. É preciso pensar e repensar os prós e contras e esperar as consequências dessa liberação em farmácias! Se nos postos, os próprios funcionários ‘comentam’ sobre a pessoa que procura, como seria isso na farmácia?! Queremos abranger a testagem, sim! Mas estão esquecendo do ser que ali se encontra recebendo um pré-diagnóstico, muitas vezes, sozinho com mil pensamentos e crenças!"
Regina Bueno, membro do grupo Pela Vidda Rio e da Pastoral da Aids Rio: "Ampliar o acesso seguro ao diagnóstico é sempre mais uma forma de conhecimento. Contudo, uma vez o teste dando positivo todo processo de acesso ao acolhimento deve ser acionado, pois o estigma da aids ainda impacta seriamente o tratar. O conhecimento social sobre HIV/aids ainda é comparável aos anos 1980 e 1990. O acolher no resultado é fundamental para uma adesão adequada, contínua e com estabelecimento de vínculo com os serviços públicos no tratar. Tudo isso respeitando a integralidade do cuidado. Mas, infelizmente, o tratar não se dá dessa forma no SUS [Sistema Único de Saúde], muito pelo contrário. A informação reagente para o HIV ainda é rodeada de fortíssimo preconceito. Todo cuidado é pouco na hora da revelação do diagnóstico."

Silvino, cantor, compositor e ativista: “Sou a favor, tendo a acreditar que a pessoa que recorrer a este teste já tenha um conhecimento básico sobre a vivência com HIV. Apesar de ser um teste caro, penso que é mais uma opção e é válido.”



Margarete Preto, coordenadora da ONG Projeto Bem-Me-Quer: "Vejo como preocupante receber um teste de HIV positivo em casa, porém isso já acontece na rede suplementar. Só o tempo vai nos mostrar se esse teste é um avanço ou motivo de preocupação!"



Sandro Rosa, membro da RNP+/MT (Rede Nacional de Pessoas Vivendo com HIV/aids – núcleo de Mato Grosso):  "Eu tenho ressalvas, pois o resultado de um teste de HIV positivo é bem diferente de um para diabetes. Hoje, os testes rápidos são aplicados apenas por profissionais e agentes de saúde. E se der positivo e a pessoa não tiver como acessar um serviço de saúde? É temeroso, por isso não sou favorável. Hoje a pessoa pode fazer esse teste de forma segura e sem custo nas unidades de saúde."

Henrique Ávila, coordenador da Rede Nacional de Adolescentes e Jovens Vivendo com HIV/Aids: "Acredito que essa é mais uma arma pro arsenal de prevenção e detecção precoce do HIV. O autoteste permite as pessoas que, por algum motivo não procuravam os serviços de testagem, ter conhecimento do seu status sorológico em casa, podendo assim procurar o tratamento. Às vezes, as pessoas simplesmente não procuram os serviços de saúde por medo de se identificarem ou terem os seus resultados revelados a terceiros. O teste vendido em farmácias proporciona mais um meio para que elas saibam sua situação sorológica."

Gabriel Estrela, idealizador do Projeto Boa Sorte: "Sou a favor, com certeza. Porém, existe uma grande lacuna que não foi preenchida e que dificulta a resposta dessa pergunta. Testar não é só analisar o sangue e fazer um diagnóstico. É uma prática de prevenção que inclui todo o acolhimento pré e pós-teste, independente do resultado e, posteriormente, o encaminhamento para o serviço de saúde, caso positivo. Como serão trabalhadas essas alternativas pelo teste de farmácia é uma questão que não foi elucidada. É difícil saber com certeza se essa alternativa é ou não uma adição benéfica ao campo da prevenção combinada."

Jadilson Neto, presidente da Liga Acadêmica de DST/Aids do Maranhão: "Essa nova tecnologia de diagnóstico vem como uma ferramenta importante, pois ainda existe muita gente que não faz o exame por tabu ou por medo da resposta. Esse método irá atrair um grande número de pessoas. Algo tremendamente importante, se considerarmos que mais da metade dos infectados no mundo não está ciente de que carrega o vírus HIV. E isso é comprovado nas pesquisas da vigilância e epidemiologia."


Cazú Barros, membro da Federação de Bandeirantes do Brasil no Rio de Janeiro e do Fórum de ONGs Aids do Estado do Rio de Janeiro: “A é resposta difícil, afinal, levando em consideração a incapacidade que o governo demonstra em dar acesso digno ao cidadão para saber sua sorologia, o teste cai bem. Por outro lado, é uma ferramenta perigosa para o incentivo do estigma e preconceito, visto a possibilidade de alguém antes de sair com você queira fazer o teste na hora. E se der positivo como fica? Qual estrutura de apoio de especialistas essa pessoa terá. No Rio de Janeiro, traficantes já invadem UPAs [Unidade de Pronto Atendimento] e exige a relação dos  positivos. Assim, ficara mais fácil exigir o teste ao suspeito. Quando positivo o morador de uma comunidade quando não é morto, é expulso de casa. Acredito na importância do acesso ao teste, mas entendo que isso oficializa também a banalização da aids. Sabemos dos autos índices de mortes e novas infecções no Brasil. Muitos positivos não tem acesso digno ao tratamento, não podemos aceitar que a aids e sua complexa reação de se saber positivo seja tratada desta forma, sem nenhum respaldo pra quem se descobrir positivo. Como isso será?”

Matheus Emilio, do Grupo Pela Vidda São Paulo: "Considero que este será um importante passo para ampliação da testagem. Em uma cidade do interior, por exemplo, a pessoa pode deixar de fazer o teste, por ter receio de ser visto indo ao centro de testagem, ou até mesmo porque no posto de saúde, possivelmente, a recepcionista é sua ‘vizinha’ e a enfermeira é sua ‘tia’. Por estes e outros motivos, se faz necessário vencermos as barreiras e deixarmos que o próprio indivíduo possa escolher a forma em que ele se sentirá confortável para realizar o teste, seja por meio do autoteste ou se dirigindo até o serviço de saúde. Ressalto, porém, que independente da opção que a pessoa tenha para se testar, o serviço de saúde precisa estar apto para recebe, acolher e aconselhar este individua. Os serviços de saúde devem estar sempre ao alcance dessas pessoas, seja para eventuais dúvidas, ou para as devidas providências, em casos de resultado reagente."

quinta-feira, 18 de maio de 2017

Assembleia Legislativa de São Paulo faz sessão solene em homenagem aos que lutam contra a LGBTfobia no estado



A Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo realizou na noite dessa quarta-feira (17), no auditório Franco Montoro, um ato solene em homenagem às pessoas que lutam diariamente contra a LGBTfobia no estado. Proposto pelo deputado estadual Marco Vinholi (PSDB), em parceria com o deputado federal e secretário de Estado de Desenvolvimento Social, Floriano Pesaro, o ato aconteceu em alusão ao Dia Internacional de Luta Contra a LGBTfobia, celebrado em 17 de maio. A cerimônia contou com a presença de políticos, empresários, artistas e representantes de movimentos sociais.
"Hoje não é um dia festivo, o ato é de luta, todos os dias a população LGBT [Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis e Transexuais] sofre preconceito. Só em 2017, segundo o Grupo Gay da Bahia, 117 pessoas foram assassinadas no Brasil devido à homofobia. É um assassinato a cada 25 horas. Não podemos mais fechar os olhos", disse o deputado Marco Vinholi.
O prefeito reeleito de Lins, o professor Edgar de Souza (PSDB), esteve no ato e foi um dos homenageados. Ele é o primeiro prefeito assumidamente gay do Brasil. "Não podemos tolerar o ódio. Já avançamos na luta pela garantia dos direitos LGBTs, mas temos que caminhar ainda mais, os desafios são gigantescos. Hoje, luto pelas causas da humanidade, ser gay não me faz melhor ou pior do que ninguém" discursou Edgar.
Acompanhado da avó, de 85 anos, familiares e de uma caravana de Lins, no interior do estado, Edgar foi bastante aplaudido. Ele defendeu o amor como um bom ingrediente na luta contra o ódio, o racismo e a intolerância religiosa. "O amor é muito bonito, une as pessoas. Eu nunca cogitei esconder o meu companheiro dos eleitores ou jamais me candidataria. O político que esconde o amor pode ocultar coisas muito piores”, completou.
Além de Edgar, outras pessoas foram homenageadas, como o ativista Eduardo Barbosa, do Centro de Referência da Diversidade, o cantor Gê de Lima, compositor do Grajaú, a advogada Heloísa Gama Alves, da Comissão de Diversidade Sexual da OAB São Paulo, a jornalista Roseli Tardelli, diretora da Agência de Notícias da Aids, o Esquadrão das Drags, Maju Giorgi, fundadora do grupo Mães pela Diversidade, Cássio Rodrigo, coordenador de Políticas para Diversidade Sexual, o jornalista André Idalgo, CEO na Casa de Criadores e diretor artístico do Fashion Mob, Marcos Fernandes, presidente da Diversidade Tucana, entre outros.
Os homenageados receberam, das mãos de Marco Vinholi e Floriano Pesaro, uma placa comemorativa. “A ideia do ato é reconhecer o empenho de pessoas que dedicam suas vidas por uma sociedade sem preconceito e ódio. O combate à LGBTfobia é uma obrigação de qualquer um que tenha como princípio o respeito ao próximo e aos direitos humanos. Gosto de uma frase do Boaventura que diz: 'lutar pela igualdade sempre que as diferenças nos discriminam e lutar pelas diferenças sempre que a igualdade nos descaracteriza'. Este é o máximo de uma civilização, temos de conviver ou coexistir de forma pacifica e harmoniosa, a partir do respeito", disse o secretário Floriano Pesaro.
Floriano acredita que "o preconceito está ligado à ignorância e à falta de conhecimento. A luta contra a LGBTfobia não é fácil. É pelas causas humanas e por um país menos machista, racista e homofóbico. Precisamos cada vez mais de políticas públicas de garantia de direitos."
A coordenadora do Programa Estadual de DST/Aids, Maria Clara Gianna, esteve no evento e parabenizou os homenageados. "As pessoas que receberam as placas fazem a diferença no estado de São Paulo. Precisamos de mais iniciativas na luta contra o preconceito."
Cássio Rodrigo afirmou que os atos de 17 de maio também são uma forma do governo dizer à sociedade que "respeitamos todas as orientações sexuais e identidade de gênero. Este ano, o Museu da Diversidade completa cinco anos. Além disso, a Secretaria de Cultura, mesmo em ano de crise, abriu edital de fomento às paradas LGBTs do estado."
Durante o evento, o cantor Gê de Lima exibiu o clipe da música “Fotografia”. A canção fala de amor e o filme termina com um beijo gay entre dois homens negros. 
Prestigiaram o evento: o deputado Pedro Tobias, presidente Estadual do PSDB, os deputados Coronel Telhada e Ramalho da Construção e a vereadora Adriana Ramalho.

segunda-feira, 15 de maio de 2017

MÃES ACOLHEDORAS: Lulu, uma mãe pela diversidade



“Uma família da diversidade”. Essa é uma das primeiras frases ditas por Ana Lucia Sousa, 51, mãe de uma filha heterossexual, uma homossexual e um rapaz transexual. Lucia é bem humorada, brincalhona e tem muito orgulho de seus filhos. “Oi, desculpa. Só um minuto”, empresária, mulher, mãe, esposa e entre tantas outras atribuições, Lulu, como prefere ser chamada, gentilmente atendeu a Agência de Notícias da Aids, por telefone, em um dos intervalos que teve durante o trabalho.
“Como é ser mãe de uma família da diversidade?”. Logo na primeira pergunta, Lulu começou a falar do amor incondicional que sente pelos filhos: “É simplesmente ser mãe, pois o que impera é o amor. Afinal, o que uma mãe espera quando põe um filho no mundo é que ele seja feliz e amado.”
Seus pais são do sertão da Bahia. Filha de pai alcoólatra e violento. Casou-se aos 19 anos com Mauro Augusto e com ele tem três filhos: Amanda, 30, Jéssica, 26 e Miguel, 21. Segundo conta, foi a experiência com a Jessica que a preparou para entender seu filho Miguel. Jessica Tauane é comunicóloga, youtuber e está a frente do Canal das Bee e Gorda de Boa.
“Eu sabia o que estava acontecendo com a Jessica. Eu sempre soube que ela é lésbica. Mas, somos muito católicos e ela achava que ia para o inferno. Teve depressão e queria virar freira. Foi quando eu a levei em um psicólogo”, lembra a mãe.
No entanto, a certeza sobre orientação sexual da filha só veio mais tarde, quando ela estava com 21 anos. “Quando eu percebi que era o momento certo, eu forcei a barra. Escrevi um bilhete para ela dizendo ‘dá para perceber que está doendo. Vem até mim que eu assopro’. Isso a encorajou e ela veio me contar.”
O filho transexual
Diferentemente do que aconteceu com Jéssica, Lulu não notou sinais no filho Miguel, pois também não tinha muitas informações sobre identidade de gênero e transexualidade. “O que pegou foi a igreja. Quem está no altar fala o que quer, mas não tem ideia do que é ter um filho nessa condição. A gente coloca um ser humano no mundo, mas tem que respeitar a individualidade dele”, aprendeu Lulu.
A mãe passou a perceber que o filho não socializava e vivia triste, mas acreditava ser da personalidade do rapaz. Até que ele teve depressão. Naquele momento, Miguel era tratado por todos de acordo com o seu sexo biológico (feminino).
Miguel sentia que algo não estava certo, mas não sabia o que era. Aos 15 anos sua depressão foi profunda. Na escola, por ser uma pessoa muito quieta e retraída, sofria bullying e olhares pejorativos. “Embora não pudesse, a pessoa responsável pela biblioteca me deixava comer lá. Eu só queria evitar aqueles olhares. Eu lembro que queria ser um dos meninos e nunca escondi que gostava de meninas”, diz Miguel.
Fonte do infográfico: site Repórter Unesp
Aos 16 anos, por meio do cosplay, uma atividade onde os participantes se fantasiam de personagens fictícios da cultura pop japonesa, vestido de um personagem masculino, foi a primeira vez que Miguel se sentiu bem diante dos olhares dos outros. “Todo mundo me tratava no masculino. Eu nunca tinha me sentido tão confortável. Eu não sabia que tinha algo errado com o meu corpo. Foi como usar óculos, você não sabe o quanto precisa até que coloca um”, compara.
Miguel achava que preferia roupas masculinas por conta da sua orientação sexual e não por causa de sua identidade de gênero. Depois disso, ele estudou e pesquisou sobre o que estava acontecendo. Quando teve certeza conversou com a mãe.
“Quando o Miguel veio falar comigo, meu marido ainda estava aceitando a orientação sexual da Jéssica. Ele também teve depressão. E eu tentando acertar, fiz tudo errado”, lamenta.
Lulu tentou contar ao marido por meio de hipóteses que a filha, na verdade, se identificava com o gênero masculino. No entanto, ela acreditava que o marido não suportaria a notícia e iria embora.
“Eu sinto muito arrependimento e não conto essa história. Mas sugeri que meu filho voltasse para o armário. Eu achava que a gente precisava de um tempo. Também cheguei a acreditar que era uma confusão da depressão. E o Miguel se silenciou. Eu silenciei ele.”
No entanto, Miguel não conseguia mais guardar o segredo e ser visto como uma garota. Desde que contou para a mãe, foram cerca de quatro anos se escondendo. Então, tentou o suicídio.
“Eu achava que se ninguém soubesse, mas eu o apoiasse, seria mais fácil. Se eu pudesse voltar atrás, eu faria tudo diferente. Fui egoísta, mas eu estava tentando salvar minha família. Não imaginava que causaria tanto sofrimento ao meu filho. Eu queria poder carregar toda aquela dor dele”, diz a mãe. 
Essa foi a terceira tentativa de suicídio do rapaz. Dessa vez, Lulu sabia o motivo. Quando recebeu a notícia, estava trabalhando. Em casa contou ao marido o que estava acontecendo e o motivo pelo qual o filho tentou se matar. E esse é um dos momentos que tanto Lulu quanto Miguel não esquecem:
 “Meu amor por você é incondicional”, envolvido em um abraço, essa foi a frase que Miguel ouviu do pai aquele dia.
Mudanças
Na foto, toda a família
Desde então, Lulu tornou-se a maior parceira de Miguel. “Ela entrou para o Coletivo Mães Pela Diversidade por minha causa. Tem se engajado cada vez mais e eu sei que ela se arrepende do que passou”, afirma o filho.
No começo Lulu teve ajuda do ativista João Nery, o primeiro homem trans a fazer uma cirurgia de mudança de sexo no Brasil. Seu primeiro contato com ele foi por meio de sua filha. “A Jessica tinha feito uma entrevista com ele. Depois, eu mandei inbox e ele me ajudou muito. Inclusive me colocou no coletivo”, diz.
Atualmente, Miguel está fazendo terapia e tratamento hormonal. Embora mais confiante, sente ansiedade social, por medo da transfobia.  “Hoje sou outra pessoa. Muito mais seguro, mas tenho muito medo de sair. Há alguns dias um caminhoneiro perguntou aos gritos, no meio da rua, se eu era homem ou mulher. Essas coisas nos fazem mal, mas minha mãe está sempre ao meu lado, me passando confiança”, afirma Miguel.
O apoio da família 
O apoio da família tem ajudado o rapaz a seguir em frente. Quando Lulu fala do filho, alguns detalhes são suas maiores conquistas: “As crises de riso que ele tem me enchem de alegria. Amo uma gargalhada que ele dá. Ele joga a cabeça para trás e até perde o folego de tanto rir. Teve um momento em que meu filho não quis viver e sofreu muito. Por isso que esses sorrisos são meus presentes.”
 Ela afirma que adora fazer os filhos passarem vergonha por causa de suas brincadeiras. Diz ainda que não é uma mãe tradicional, pois odeia cozinhar. Mas acredita que ensinou aos filhos o “caminho do bem e do mal com bom-humor”.
Aos pais que ainda não compreendem seus filhos, o rapaz aconselha: “Ouça o seu filho. Acredite nele. Se ela se identifica como menina, deixe o cabelo dela crescer. Se for menino, permita que ele corte. Esteja lá para ele. Tente entender o que ele precisa. Apoie e ame o seu filho. Se eu não tivesse o apoio da minha família, tenho certeza que não estaria mais aqui.”
Miguel não se considera ativista ou engajado em alguma causa. Mas tem sido procurado nas redes sociais por outras pessoas transexuais. Ele conversa e acolhe as pessoas que o procuram.       
Quando questionado sobre o que admira na mãe, Miguel, após uma breve pausa responde: “Eu amo o jeito e companheirismo dela. Ela consegue arrancar risos de todo mundo. O que mais me deixa feliz é ficar enroscado nela assistindo séries. Eu a admiro e gostaria que ela nunca mudasse. Ela é uma mulher negra e já enfrentou diversos preconceitos com muita garra. Ela tem força para encarar as dificuldades e esperança na vida. E, acima de tudo, tem uma fé inabalável”.     

  CNS discute desafios para garantir direito universal à Saúde em tempos de negacionismo, durante debate na UFRGS 14 de fevereiro de 2022 O ...