quarta-feira, 27 de julho de 2016

Julho amarelo: Brasil tem cerca de 1,5 milhão de infectados pela hepatite C. Coinfecção atinge 11% dos soropositivos



Nesta quinta-feira (28), o mundo celebra o Dia de Combate às Hepatites Virais. A data foi instituída em 2010 pela OMS (Organização Mundial da Saúde) para conscientizar a população sobre a importância do diagnóstico precoce, da vacinação e do tratamento. Conhecida como doença silenciosa, as hepatites virais não apresentam sintomas em 90% dos casos. Nos demais 10%, aparecem alguns, como urina escura, pele amarela e, em algumas situações, sinais semelhantes aos de uma gripe. A coinfecção com o HIV é preocupante. Cerca de 11% dos soropositivos têm também o vírus da hepatite C. Veja o que mais você precisa saber sobre a doença:
Tipos, causas e transmissão
No Brasil, as hepatites virais mais comuns são os tipos A, B e C. Existem, ainda, os vírus D e E. Os danos mais graves causados pela doença podem ser cirrose e câncer. Além de vírus, o uso de medicamentos, álcool e outras drogas, doenças autoimunes, metabólicas e genéticas podem causar as hepatites.
Segundo o Ministério da Saúde, nas hepatites A e E, o vírus é transmitido pelo contato da mão suja de fezes com a boca ou por meio de água, alimentos e objetos contaminados por fezes. Porém, a maior parte dos casos A e E não causam doença crônica no fígado.
Já o vírus da hepatite B pode ser transmitido através do sangue contaminado e também pelo sexo -- por isso, a importância de usar camisinha sempre durante as relações sexuais. Esse tipo de hepatite não tem cura e, por isso, outra medida de prevenção extremamente importante é a vacina, disponível no SUS (Sistema Único de Saúde) para crianças, jovens e adultos até 49 anos – nesse caso, a vacina protege também contra a hepatite D já que, para adquiri-la, o paciente precisa ter também a B.
O contato com sangue contaminado, inclusive por meio da relação sexual, é uma das formas de transmissão da hepatite C. Outra forma é o compartilhamento de objetos, como alicates de unha, por exemplo, que devem ser sempre esterilizados. Segundo o presidente da Sociedade Brasileira de Infectologia, Sérgio Cimerman, "quem é infectado pelo vírus C pode desenvolver a forma crônica da doença ou não”.
Além dos danos ao fígado, como cirrose, câncer e insuficiência hepática, a hepatite C também pode levar à diabete, comprometer os rins e nervos e causar artrites em diferentes articulações.
A hepatite D também é transmitida pelo sangue e, da mesma maneira que os vírus B e C, exige cuidado com o compartilhamento de objetos, como escovas de dentes, seringas, depiladores e barbeadores portáteis.
Os números
*10 milhões de pessoas no mundo estão infectadas pelas hepatites virais, segundo a OMS (Organização Mundial da Saúde)
*95% destas, não sabem que têm a doença
*1% apenas tem acesso ao tratamento
*1,4 milhão morrem a cada ano no mundo
*mais de 170 milhões de pessoas em todo o mundo já foram infectadas pela hepatite C, segundo a OMS
*destas, 170 milhões de pessoas, cerca de 30%, também apresentam infecção pelo HIV.
*No Brasil, entre 1,4 e 1,7 milhão de pessoas estão infectadas pela hepatite C, segundo o Ministério da Saúde
*apenas 25% sabem que têm a doença
*30 anos é o tempo que a hepatite pode levar para se  manifestar
*90% dos casos de hepatite B são transmitidos por via sexual
*95% dos infectados por hepatite B se curam "espontaneamente"
*85% dos pacientes não tratados de hepatite C se tornam doentes crônicos
*11% das cerca de 830 mil pessoas com HIV no Brasil têm também hepatite C
Coinfecção
No Brasil, o número de coinfectados HIV/hepatite C também chama atenção. Um estudo mostrou que:
*80% dos usuários de drogas injetáveis portadores do HIV têm a hepatite C. Isso significa que 12% das pessoas com HIV no Brasil têm hepatite C. (leia mais)
*11% dos casos de hepatite C e 9% do tipo B, em São Paulo, entre 2007 e 2015, são de coinfectados com HIV. Os dados são do Programa Estadual de Hepatites Virais.
"Todo paciente com HIV precisa fazer exames de hepatite B e C. Ele pode ter sido infectado por estes vírus no momento que contraiu o HIV", explicou Cimerman (foto à direita).
Segundo o especialista, "o soropositivo que adquire o vírus da hepatite C tem uma evolução mais rápida da doença devido à própria imunodepressão. A tendência é de que este paciente evolua para cirrose e câncer de fígado, com progressão mais rápida”.
O Departamento de DST, Aids e Hepatites Virais alerta que a coinfecção pela hepatite B em soropositivos aumenta em cinco a seis vezes o risco de se tornarem portadores crônicos da hepatite e de desenvolverem cirrose.
“O portador do HIV está entre os pacientes com prioridade para receber o tratamento da hepatite C no Brasil. Geralmente, é receitado o sofosbuvir e o daclastavir. E, se este paciente usa efavirenz, por exemplo, a dose do medicamento deve ser ajustada”, disse Sérgio Cimerman.
Ponto de vista da sociedade civil
O ativista Jeová Fragoso (foto esquerda), presidente do Grupo Esperança -- ONG de apoio aos portadores de hepatites em Santos (SP), afirmou que a doença é a segunda causa de morte entre as pessoas vivendo com HIV/aids.
 “Temos avançado na luta contra as hepatites virais, principalmente a C, mas ainda há muito que fazer. Em outubro passado, o Ministério da Saúde incorporou novas drogas no SUS [Sistema Único de Saúde] contra o vírus C. Lembro que naquele momento o ministro [na época, o  médico Arthur Chioro] dizia: ‘o novo tratamento será um divisor de águas, vamos conseguir resultados incríveis e é o que vem acontecendo´", comemorou Jeová.
O ativista descobriu ser portador da hepatite C já na fase cirrótica da doença.  "Muitos pacientes que estão sendo tratados com as novas drogas relataram que não tiveram sequer efeitos colaterais. E o mais importante é que o tratamento é curto, dura entre 12 e 24 semanas e a perspectiva de cura é de 90%."
O maior problema, segundo Jeová, é que o tratamento, além de caríssimo, não é indicado no protocolo clínico para todas as pessoas com hepatite C no Brasil.
"As novas medicações são indicadas a pacientes que não podiam receber os tratamentos ofertados anteriormente, entre eles os portadores de coinfecção com o HIV, cirrose descompensada, pré e pós-transplante e pacientes com má resposta à terapia com interferon, ou que não se curaram com tratamento anterior, ou seja, estão num grau bem avançado da doença. Acho que se o medicamento possibilita a cura, então, todos com hepatite C deveriam ter acesso, temos de rever este protocolo."
Jeová contou que os 26.800 tratamentos comprados pelo Ministério da Saúde no ano passado já foram entregues aos estados e municípios. "O estado de São Paulo recebeu 9.969 tratamentos de 12 semanas e 8.206 pacientes foram beneficiados até o momento. Alguns precisaram estender o tratamento para 24 semanas, então adquiriram dois tratamentos. Há ainda mais de 5.200 pacientes aptos para receber o tratamento em São Paulo na fila de espera."
O militante enumera as principais demandas da sociedade civil hoje:
*garantir que todos tenham acesso ao tratamento, independentemente do grau da doença
*incentivar o diagnóstico precoce - 80% das pessoas não sabem que estão infectadas
*exigir que os testes para detecção da hepatite B e C sejam incluídos nos exames de rotina ou em qualquer exame de sangue
*trabalhar para que haja campanhas constantes de alerta, não só no julho amarelo
*lutar para baixar o custo do tratamento, mesmo que seja necessária a quebra de patentes [Em 2015, o Ministério da Saúde pagou por comprimido de sofosbuvir 81,84 doláres, pelo daclastavir 30,36 e pelo simeprevir, 30,74. Num tratamento de 12 semanas são usados 84 comprimido/paciente de cada uma dessas drogas. O tratamento é uma combinação de pelo menos duas delas]
Julho amarelo
Julho foi adotado pelo Ministério da Saúde e pelo Comitê Estadual de Hepatites Virais como o mês de luta e prevenção das hepatites virais. Isso não significa que a prevenção à doença deva ser menor nos demais meses do ano. Pelo contrário, a cada dia deve-se aumentar a atenção, porque as hepatites virais são as principais causas de câncer no fígado.

"Judicialização da saúde é consequência da fragilidade do sistema", diz médico Rubens Belfort Jr. em artigo na "Folha"



Nesta quinta-feira (28), a Academia Nacional de Medicina faz, no Rio, um debate sobre o tema judicialização da saúde, muito discutido nos últimos tempos. Por conta disso, Rubens Belfort Jr. , professor titular de oftalmologia da Escola Paulista de Medicina da Unifesp (Universidade Federal de São Paulo) e vice-presidente da Academia Nacional de Medicina publicou, na "Folha de S. Paulo" de hoje, artigo propondo algumas reflexões. Para ele, a responsabilidade do governo tem de ser considerada no gasto de R$ 1,5 bilhão decorrentes de ações judiciais nos últimos anos, só na esfera federal. Leia:
A medicina no tribunal
A falta de efetividade da política de saúde cada vez mais leva indivíduos a procurarem na Justiça a obtenção de direitos garantidos na Constituição, mas não disponibilizados pela rede pública e pelos convênios médicos.
Essa judicialização da saúde é consequência da fragilidade do sistema, que não estabelece regras e diretrizes normativas, fazendo com que o cidadão recorra aos tribunais, em busca do direito que de fato possui ou julga possuir.
O desenvolvimento de novos fármacos e procedimentos diagnósticos e terapêuticos pressionam os sistemas de saúde em todo o mundo e também no Brasil, pois os órgãos responsáveis não conseguem incorporar e entregar ao cidadão o que já é disponível aos privilegiados com recursos próprios.
A ineficiência da Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) e do sistema de saúde governamental ficou patente com o caso absurdo da "pílula do câncer", quando o Congresso Nacional e a própria presidente da República desconsideraram a agência oficial de saúde, promulgando lei que autorizava o uso do medicamento. Felizmente, o ato foi suspenso, via judicialização, pelo STF (Supremo Tribunal Federal).
Apenas na esfera federal houve gastos de mais de R$ 1,5 bilhão decorrentes de ações judiciais nos últimos anos. Temos que solucionar esse problema, por meio de atividades políticas e sociais, e precisamos de apoio e parceria do governo.
Muitas vezes, os pacientes são bombardeados por informações de marketing e de sistemas inescrupulosos de ações legais que desequilibram as finanças e, com frequência, obrigam compras em escala menor e sem condições de negociação, comprimindo ainda mais os orçamentos de saúde e causando falta de recursos para outras situações.
No entanto, quase todos os que criticam a judicialização mudam de ideia ao encarar uma enfermidade grave. Quando privados de tratamento, passam a enxergar a questão sob novos ângulos.
Muito desse problema decorre do aparelhamento político de órgãos e conselhos de saúde, nos quais critérios médicos foram substituídos por proselitismo populista, sem estratégia adequada. É urgente reformular os três níveis de governança e estabelecer, por meio de diálogo efetivo, protocolos que norteiem e agilizem o setor, resgatando a credibilidade. A pressão social só tende a aumentar, tornando necessárias ações propositivas, com participação dos setores envolvidos. A importância dos médicos é capital para a produção e incorporação das informações, com transparência e sem corporativismo.
Todo o cuidado deve ser tomado para que picuinhas ideológicas não contaminem o ponto principal: a criação de um sistema, baseado em evidências científicas e nas condições socioeconômicas do país, que estabeleça o atendimento necessário e possível.
A Academia Nacional de Medicina, com a responsabilidade de seus 187 anos de existência, acredita ser imperiosa a adoção de critérios e normas que possibilitem a modernização de nosso arsenal terapêutico de maneira organizada e inteligente, com a utilização máxima de recursos financeiros e humanos.
Nesse sentido, a instituição vem chamando diferentes setores e lideranças nacionais para o debate da efetiva reorganização do sistema. Assim, nesta quinta (28 de julho), a academia realiza em sua sede, no Rio, um simpósio sobre judicialização da medicina, com autoridades de saúde e do judiciário.
Trata-se de um primeiro passo para outras reuniões de médicos com líderes da sociedade brasileira, visando estabelecer normas saneadoras e resolutivas.




Fonte : "Folha de S. Paulo"

Pastoral da Aids de Niterói faz testes rápidos de HIV em presídio de São Gonzalo, no Rio



De 101 pessoas testadas para o HIV da população carcerária do Presídio Juíza de Direito Patrícia Acioli, em São Gonçalo (Rio de Janeiro), quatro apresentaram resultado positivo. A testagem, uma ação desenvolvida pela Pastoral da Aids da Arquidiocese de Niterói, foi realizada na sexta-feira (22), das 9 às 17 horas. Envolveu oito agentes de saúde e dois enfermeiros da Pastoral, além de uma enfermeira da SEAP (Secretaria de Estado de Administração Penitenciária). Antes dos testes, os detentos ouviram uma palestra e tiveram oportunidade de tirar dúvidas com a equipe.
As ações  deverão ser realizadas quinzenalmente às sextas feiras até dezembro, explica o padre Ricardo Oliveira de Nascimento, coordenador arquidiocesano. Segundo a Pastoral, elas visam a prevenção e a testagem de HIV para a população carcerária,  no intuito de assegurar o acesso à informação e o pleno exercício da cidadania do presidiário. E faz parte do  Plano Pastoral da Aids da CNBB  (Conferência Nacional dos Bispos do Brasil) 2014-2016, que indica a premência de integração entre as ações da Pastoral da Aids e da Pastoral Carcerária de modo a atender esta população-chave na prevenção, no diagnóstico precoce, no tratamento e no acompanhamento de HIV/aids.

domingo, 17 de julho de 2016

Médico Julio Abramczyk defende que epidemia de aids não está sob controle



Epidemia de aids não está sob controle

A população acredita que a epidemia de aids já está sob controle.
Não está, segundo o Unaids, o programa da ONU de ajuda aos países para o combate à doença. Ela informa, em relatório apresentado nesta semana, que os números são preocupantes.
No Brasil, o número de pessoas vivendo com aids aumentou 18% (de 700 mil para 830 mil pessoas).
Muitas pessoas imaginam haver cura para a doença.
Existe o tratamento, mas não a cura, segundo a Organização Mundial da Saúde.
As drogas antirretrovirais controlam a replicação viral e ajudam a prevenir a transmissão da doença. Fortalecem o sistema imunológico do paciente e recuperam a capacidade do organismo de lutar contra as infecções.
Estudos confirmam que uma pessoa portadora do HIV em tratamento com antirretrovirais reduz em 96% o risco de transmitir o vírus para um parceiro saudável.
Os avanços no tratamento e diagnóstico precoce do HIV nos últimos dez anos possivelmente contribuíram para que as pessoas passassem a dispensar os necessários cuidados nas relações de risco. Entre esses cuidados está o uso da camisinha, tanto pelo homem quanto pela mulher, no caso de o homem recusar-se a colocar o preservativo.
Um significativo avanço também observado nos últimos anos é a profilaxia após exposição ao HIV. O início do tratamento é indicado em até 72 horas, buscando prevenir a infecção.


Fonte : "Folha de S. Paulo"

Aids 2016: Em Durban, ativistas dizem que Brasil se omitiu na reunião da ONU sobre epidemia de HIV em populações-chave



Para Adele Benzaken, autal diretora do Departamento de Aids e que esteve na Reunião de Alto Nível, que tratou do assunto, o Brasil segue honrando os compromissos perante a OMS (Organização Mundal da Saúde)

A epidemia de HIV está crescendo entre gays e bissexuais em todo o mundo. O fato se explica por falta de financiamento e ausência de políticas voltadas a esses grupos, o que pode piorar depois de vitória conservadora na ONU (Organização das Nações Unidas) em junho. O assunto foi discutido no encontro do Fórum Global de Homens que Fazem Sexo Com Homens (MSMGF, em inglês), que ocorreu nesse sábado (16), em Durban, na África do Sul.
O evento faz parte da programação preliminar da 21ª Conferência Internacional de Aids, que começa oficialmente nesta segunda ( 18). O MSMGF é uma organização de ativistas que representa internacionalmente os interesses de gays, bissexuais e outros homens que fazem sexo com homens (HSH, um termo amplamente usado na saúde e que inclui os que não se identificam como gays ou bissexuais).
Em 2014, a Organização Mundial de Saúde (OMS) passou a defender que a epidemia jamais será controlada se não se concentrarem esforços nos grupos mais afetados, que desde então são chamados de populações-chave: gays e outros HSH, mulheres transexuais e travestis, usuários de drogas injetáveis, profissionais do sexo e população privada de liberdade.  No entanto, nada parece ter mudado desde então.
O americano Chris Beyrer, o primeiro homem abertamente gay a presidir a IAS (International Aids Society), que organiza o evento, declarou: "A epidemia está aumentando em gays e outros HSH em todo o mundo, com poucas exceções como São Francisco (Estados Unidos). Apenas seis países adotaram a profilaxia pré-exposição (PrEP), que foi o primeiro método preventivo biomédico inventado desde a camisinha".
A PrEP, que existe desde 2012, consiste no uso contínuo de medicação anti-HIV em caráter preventivo por pessoas que tenham alta chance de adquirir o vírus, sendo considerado uma estratégia fundamental para HSH e outras populações-chave.
George Ayala (foto direita), coordenador do MSMGF, citou resultados de pesquisa feita pela organização em sete línguas. "Os HSH não acessam serviços de saúde, têm pouco acesso a camisinha ou lubrificantes. Vão menos a serviços de saúde porque são discriminados."
Para Ayala, "políticas contra o HIV genéricas, que não se dirijam especificamente às necessidades de HSH, não ajudam".

Argumentos econômicos
José António Izazola, coordenador do  Unaids (Programa Conjunto das Nações Unidas sobre HIV/Aids) no México, apresentou dados de recente pesquisa da organização. "O prejuízo global trazido pela homofobia em termos de perda de produtividade e em saúde é de 119 bilhões de dólares ao ano. Se não vamos convencer as autoridades pelos direitos humanos, vamos mostrar os argumentos econômicos", ressaltou.
"Do gasto internacional com HIV, somente 2% vão para a atividades de prevenção com populações-chave", afirmou Izazola (foto  à esquerda), mostrando que a priorização recomendada pela OMS está longe de ser uma realidade. E completa: "Muitos países não investiram nada em HSH. E quase 80% do gasto internacional foi feito por um pequeno grupo de 14 países". O Brasil está nesse grupo.
No entanto, é preciso muito cuidado com as estatísticas que os países apresentam sobre gays, segundo Sarah Davis, pesquisadora da escola de Direito da Universidade de Nova York.
"Os países apresentam dados que parecem objetivos, mas podem mascarar a realidade. Por exemplo, muitas vezes a população de gays é francamente subestimada, fazendo parecer que as poucas ações de saúde realizadas com o grupo estão alcançando a todos", disse Sarah, para quem as organizações LGBT devem fiscalizar as estatísticas oficiais de saúde.
Retrocesso político na ONU
Segundo o MSMGF, razões políticas e homofobia estão por trás do retrocesso em relação à epidemia entre gays e bissexuais, como ficou claro em junho, na Reunião de Alto Nível da ONU sobre HIV. O encontro teve como missão traçar as diretrizes internacionais para os próximos cinco anos.
Pouco antes da reunião, um grupo de países que incluía Egito, Rússia e Irã barrou a participação de 22 organizações não-governamentais (ONGs) LGBT, segundo dados do MSMGF. A embaixadora americana na ONU, Samantha Power, protestou em carta ao presidente da Assembleia Geral.
No entanto, os países conservadores conseguiram influenciar uma declaração final que foi considerada pelo MSMGF uma retumbante derrota para os LGBT.
Segundo o MSMGF noticiou, o rascunho inicial foi modificado de forma a excluir as populações-chave em uma visão "revisionista" da epidemia. "Não há nenhum compromisso com apoio e financiamento de serviços específicos para as populações-chave. Também não destaca as leis e políticas que nos estigmatizam nem a violência estrutural sancionada pelos Estados".
Ainda assim, Egito, Irã, Arábia Saudita, Sudão, Indonésia e Vaticano condenaram a menção explícita das populações-chave. Em contrapartida, vários países, incluindo Estados Unidos, os países da União Europeia, Argentina e El Salvador e Jamaica, e posicionaram a favor de esses grupos serem incluídos nas políticas nacionais de HIV.
O ativista Sergio López, da ONG paraguaia SomosGay e participante da Reunião pelo MSMGF afirmou: "A linguagem usada na declaração nos apresentou como vetores de disseminação da infecção. Não foram abordados as questões relativas aos nossos direitos e sua relação com a epidemia."
Omissão brasileira
Segundo o médico Fábio Mesquita, que renunciou em maio do cargo de diretor do Departamento de DST, Aids e Hepatites Virais do Ministério da Saúde, a delegação brasileira se omitiu em defender a postura original do documento em relação às populações-chave, o que pode ter feito diferença.
"O Brasil sempre foi líder na defesa dos direitos humanos nos fóruns internacionais de HIV. A própria existência deste Encontro de Alto Nível, que garante o comprometimento com a causa por parte do órgão máximo da ONU, a Assembleia Geral, deve muito à atuação brasileira", afirmou o ex-diretor.
Segundo Mesquita, a representatividade do país foi enfraquecida por opção dos novos dirigentes do Ministério da Saúde nomeados pelo presidente interino Michel Temer.
"Primeiro, recebemos uma ordem do secretário executivo do Ministério, Antônio Nardi, proibindo a participação do Departamento de Aids no Encontro. Depois de eu renunciar ao cargo e denunciar o fato, o novo ministro da Saúde Ricardo Barros voltou atrás. Mas enviou uma delegação muito fraca politicamente pois, em vez de privilegiar técnicos experientes, incluiu quatro deputados sem qualquer histórico na luta contra a aids. Isso comprometeu qualquer capacidade de influência brasileira na questão das populações-chave."
Segundo Mesquita, o governo Temer foi ainda mais longe no comprometimento dos direitos das populações-chave, ao congelar por seis meses todas as ações da secretaria de Direitos Humanos – que foi rebaixada da posição de ministério e passou a responder ao Ministério da Justiça.
O fotógrafo Marcelo Maia, brasileiro residente em Nova York e integrante do Act Up, importante grupo de ativismo em HIV, e de um coletivo de brasileiros chamado Defend Democracy in Brazil, que se posiciona contra o afastamento da presidenta Dilma Roussef, disse: "Denunciamos a fragilidade da delegação e protestamos em frente às Nações Unidas. Acredito que a falta de uma delegação de peso do Brasil fechou as portas para uma declaração mais progressista que incluísse aspopulações-chave".
O grupo levou cartazes com os dizeres "Cadê o Ministro da Saúde?" e "Temer, perigo para as políticas de HIV no Brasil" (foto ao lado).
Segundo publicou a assessoria de comunicação do Departamento de DST, HIV/Aids e Hepatites Virais, a delegação brasileira incluiu três representantes do departamento, incluindo a diretora Adele Benzaken, que destacou os compromissos assumidos pelo Brasil perante a OMS, como o tratamento bem-sucedido (ou seja, que mantém o vírus suprimido) em 90% dos que tomam a medicação anti-HIV. Ainda segundo a assessoria,  o embaixador do Brasil na ONU afirmou em discurso no último dia do evento que "a reunião realizada em Nova York entrará para a história por focar nas populações-chave, que são aliadas fundamentais na resposta ao HIV/aids".

A Agência de Notícias da Aids cobre a 21ª Conferência Internacional de Aids, em Durban (África do Sul), com apoio do Departamento de DST, Aids e Hepatites Virais, da DKT do Brasil e da Jansen Farmacêutica.



Henrique Contreiras, colaborador da Agência Aids, de Durban

Exibição do documentário 'Aids: As Respostas das Ongs no Mundo', em Durban, é destaque na coluna de Sonia Racy, no 'Estadão'



A jornalista Sonia Racy publicou em sua coluna no jornal  "O Estado de S. Paulo"  de sexta-feira (15)  nota falando da exibição do documentário “Aids: As Respostas das Ongs no Mundo”, na 21ª Conferência Internacional de Aids, em Durban (África do Sul). O filme, idealizado e gravado por Roseli Tardelli, diretora da Agência de Notícias da Aids, será exibido amanhã (18), às 17h50 (horário da África do Sul), no Global Village Film Screening Room, no Centro de Convenções de Durban, onde acontece o evento até sexta (22). Traz  depoimentos de representantes de ONGs de diversos países, entre eles, Tonga, Argentina, Indonésia, Quênia, Sérvia, Austrália, Zâmbia, Egito e Brasil. Eles contam suas histórias de envolvimento na luta contra a aids, cada um com o tom específico de seu país, mas todos com o objetivo de combater a aids e proporcionar mais atenção e qualidade de vida às pessoas vivendo com HIV. São 26 entrevistas gravadas por Roseli, em 2014, durante a 20ª Conferência Internacional de Aids, em Melbourne (Austrália).

quinta-feira, 14 de julho de 2016

Em Londres, príncipe Harry faz teste de HIV ao vivo nas redes sociais



O príncipe Harry fez um teste de HIV e transmitiu ao vivo, nesta quinta-feira (14), pelas redes sociais da família real. A ação faz parte de uma campanha de conscientização que tem como objetivo alertar sobre a importância de se fazer o diagnóstico precoce da infecção pelo vírus que causa a aids.
O irmão de William, de 31 anos, fez o teste no hospital St. Thomas, em Londres. O vídeo do teste de HIV de Harry já teve mais de 26 mil curtidas desde que foi postado no Facebook, há cerca de quatro horas.
"Príncipe Harry está ao vivo no Guys and St. Thomas' Hospital, na página da família real no Facebook, para mostrar como é fácil fazer o teste de HIV", diz o post na rede social. A página do Twitter do Palácio de Kensington também falou sobre a campanha realizada pelo príncipe: "Harry acredita que a sua geração precisa assumir a liderança na luta contra o HIV, ou corre o risco de perder as conquistas daqueles que vieram antes".
No vídeo, Harry admite sentir-se nervoso antes de ter seu sangue coletado para o exame. "Mesmo sabendo quem sou e as pessoas que tenho ao meu redor, ainda assim estou nervoso. O que é interessante", disse ele.
Após um minuto da coleta de seu sangue, ele descobriu que o resultado deu negativo. "É impressionante como é rápido - algumas pessoas esperam meses para saberem o resultado de um exame de sangue", afirmou Harry.
Ele reforçou que fazer o teste de HIV é importante para todas as pessoas: "Gay, heterossexual, negro, branco, ruivo, o que seja... Por que você não faz o teste?". "A decisão do príncipe Harry de fazer o teste de HIV, ao vivo nas redes sociais, representa um momento inovador na luta contra o HIV", afirmou o diretor executivo da instituição Terrence Higgins Trust.
Na próxima semana, Harry pretende participar da Conferência Internacional da Aids de Durban, na África do Sul.
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Justiça obriga prefeitura de Mangaratiba (RJ) a permitir que artista soropositiva trabalhe nas ruas da cidade




A Justiça concedeu, nesta quarta-feira (13), liminar garantindo o retorno da artista plástica, de 49 anos, que disse ter sido maltratada, por uma funcionária da prefeitura de Mangaratiba (RJ), ao cobrar a emissão de autorização para trabalhar nas ruas da cidade. Atividade que desempenha há 10 anos.
Conforme publicado no Blog da Turma da Coluna, que é hospedado no site do jornal "O Globo", ao cobrar a autorização da prefeitura para trabalhar nas ruas da cidade, que solicitou em dezembro do ano passado, informou ser portadora do vírus HIV e da hepatite C. A artista disse ter ouvido de uma funcionária: "Você deveria continuar esperando em casa, porque não vai muito longe, já está condenada à morte".
Após o episódio, ela procurou a Defensoria Pública. A defensora Ana Luiza Billori entrou com ação para que a artista pudesse voltar a trabalhar nas ruas e pediu indenização de R$ 20 mil.
Em sua decisão, o juiz Marcelo Borges Barbosa, da Vara Única da Comarca de Mangaratiba proibiu o Município de Mangaratiba de "importunar a autora" e de impedir que a artista exerça "livremente sua arte, como pintura de telas em locais públicos" da cidade. Além disso, deu o prazo de 24 horas para o cumprimento da decisão. Se isso não for respeitado, a prefeitura será multada em R$ 2 mil por dia.
“A decisão significa uma grande vitória para a artista. A Defensoria Pública buscou reverter à situação extrajudicialmente com a reconsideração da decisão administrativa, mas não obteve êxito e a liminar demonstra que estamos no caminho certo”, destacou Ana Luiza Billoria.
A assessoria de comunicação da prefeitura de Mangaratiba informou que o Município ainda não foi notificado.


Estratégia Viva Melhor Sabendo Jovem faz 811 testes de HIV em adolescentes e jovens de SP



A fria noite do inverno paulistano não impedia que os jovens se reunissem na praça para o “esquenta” antes das baladas. O Largo do Arouche é um dos principais pontos de encontro de adolescentes e jovens gays em São Paulo e foi, nos últimos oito meses,  local do projeto Viva Melhor Sabendo Jovem (VMSJ).
Segundo informações do site das Nações Unidas, a iniciativa, fruto de uma parceria entre a Secretaria Municipal de Saúde de São Paulo, a ONG Viração e o Fundo das Nações Unidas para a Infância (UNICEF), encerrou as atividades em 25 de junho, com 811 testes de HIV realizados. Trinta e duas pessoas foram diagnosticadas com HIV positivo e 97% delas aceitaram ser encaminhadas para os serviços de saúde e acompanhadas no tratamento. E agora a ação vai virar política pública.
A prefeitura disponibilizará a unidade móvel para o teste de HIV nos mesmos moldes do projeto. As ações devem começar no segundo semestre e contar com a ampla participação dos jovens realizando os testes de fluido oral e acompanhando os casos positivos para o vírus no atendimento clínico.
O projeto apostou na testagem na rua e entre pares como diferencial. Na porta da unidade móvel disponibilizada pela prefeitura, jovens de 18 a 23 anos eram responsáveis por receber os interessados, realizar os testes de HIV e tirar dúvidas quanto à prevenção e ao tratamento.
Um dos agentes de prevenção era Mateus Araújo, de 18 anos. Morador da zona leste da capital paulista, todas as sextas e sábados à noite, o rapaz se unia a um de seus melhores amigos e seguia para o centro para participar da ação. No processo, Mateus descobriu que um amigo vive com HIV e desconstruiu muitos conceitos sobre o assunto.
“Participar do projeto me fez ver o HIV de outro modo. Na escola, a gente aprende sobre a doença, mas não aprende a se colocar no lugar da pessoa, a conviver com ela e a saber como é viver com o HIV. O projeto me ensinou muito ao permitir esse atendimento mais humano por fazer as informações chegarem naturalmente”, conta.
Depois da triagem, Mateus encaminhava os interessados para uma salinha dentro da unidade móvel onde coletava amostras da saliva. Seria a vez de Felipe de Carvalho, de 24 anos. “O pessoal deixa a gente bem à vontade. Foi tranquilo, principalmente pra mim, que nunca tinha feito. E a primeira vez deixa a gente com um medinho”, conta.
Felipe havia combinado de se encontrar no Largo do Arouche para fazer o teste com Marcos Dionizio, de 22 anos, assim que saíssem do trabalho. Fazer o teste seria o sinal verde para que pudessem começar o namoro. “Toda vez que eu inicio um relacionamento eu sempre faço. É mais seguro. Mesmo que use preservativo”, conta Marcos, que já havia feito o exame de sangue nos postos de infectologia.
Passados 20 minutos, os rapazes receberam o resultado e destacaram a facilidade de se realizar o teste. “Acho que a praticidade ajuda bastante. A simpatia também. Não deixar você inibido é muito importante. Com jovens, você se sente mais confiante para fazer o teste”, diz Marcos.
Augusto Mathias, consultor técnico do Programa Municipal de DST/Aids, comemorou os resultados da iniciativa. Para ele, a ação de testagem em ambiente comunitário faz toda a diferença, já que grande parte da população mais vulnerável tem dificuldade de acessar o sistema público de saúde.
“Isso representa uma mudança de linguagem (…), conseguirmos acessar uma população que está em extrema vulnerabilidade por meio de seus pares. Não adianta um adulto tentar acessar esses jovens, porque ele não vai falar a mesma linguagem”, diz Mathias.
Situação da epidemia
Segundo dados do Boletim Epidemiológico de 2015 do Ministério da Saúde, nos últimos dez anos, o número de adolescentes e jovens de 15 a 24 anos com HIV aumentou em 41% no Brasil.
Em São Paulo, de acordo com dados da Secretaria Municipal Saúde, nesse período, o município conseguiu reduzir a porcentagem de casos de HIV sem aids em homens que fazem sexo com homens e em populações entre 30 a 60 anos ou mais. Entretanto, essa porcentagem aumentou nas faixas etárias de 13 a 29 anos.
O Viva Melhor Sabendo Jovem é uma estratégia em saúde cujo objetivo é ampliar o acesso de adolescentes e jovens entre 15 e 24 anos ao teste de HIV, a retenção ao tratamento dos jovens positivos e o acesso às informações sobre prevenção.  A iniciativa é implementada pelo Programa Municipal de DST/Aids da Secretaria Municipal de Saúde de São Paulo, com apoio do UNICEF e parceria técnica da ONG Viração.

África do Sul receberá Conferência Internacional sobre Aids com nova realidade



A África do Sul que sediará a 21ª Conferência Internacional sobre Aids, que acontece na semana que vem (de 18 a 22), em Durban, mudou muito em relação ao "pária da aids" . Há 16 anos, o país já sediou o evento, quando o então presidente sul-africano Thabo Mbeki surpreendeu ao minimizar o elo entre o vírus HIV e a doença.
Situada no epicentro da pandemia mundial de aids, a África do Sul hoje se gaba de ter o maior programa de tratamento do mundo –3,4 milhões de pessoas recebem os medicamentos antirretrovirais (ARV) que permitem aos portadores de HIV viver vidas normais, informa a agência Reuters.
O contraste com a era Mbeki, durante a qual o ministro da Saúde louvou a beterraba e a batata africana como remédios para a aids e centenas de delegados abandonaram a conferência, porque o presidente deu a entender que a pobreza poderia ser a principal causa da doença, não poderia ser maior.
Durante sua presidência, Mbeki endossou um movimento alternativo que negava a existência do HIV e resistiu a pressões internas e internacionais para tratar da crise de aids com seriedade. Em vez disso, ele rejeitou os ARVs, dizendo se tratar de invenções ocidentais com efeitos colaterais nocivos.
"Os pacientes estavam morrendo como moscas. Nós os tratávamos com muito amor e carinho e vitaminas. Não tínhamos nada", contou a doutora Jean Bassett, que fundou o centro de tratamento de HIV da Clínica Witkoppen, em Johanesburgo, em 1996.
Ndlovu foi uma das pacientes tratadas na clínica. Diagnosticada com HIV em 2002, em princípio ela só recebeu vitaminas como forma de tratamento.
"Foram tempos difíceis. Fiquei muito assustada em criar um filho estando naquela situação", disse ela, atualmente com 38 anos.
Ndlovu afirmou que, em seu pior momento, sua contagem CD4 – que indica quão bem o sistema imunológico está funcionando– caiu para menos de 200, o que significa que ela havia desenvolvido a aids.
Ela começou a receber ARVs em 2004, depois que o governo Mbeki, relutante, iniciou a distribuição de medicamentos para os pacientes de aids, nesses momento mais doentes estavam esperando o veredicto de um tribunal em 2003, mas ela se recuperou.
No entanto, muitos sul-africanos portadores de HIV não tiveram a mesma sorte: um estudo de 2008, da Universidade Harvard, estimou que a obstrução de Mbeki resultou em pelo menos 330 mil mortes desnecessárias na primeira metade da década.  

Jornalista & Cia destaca exibição do documentário “Aids: As Respostas das ONGs no Mundo”, em Durban



A edição desta semana do informativo Jornalista & Cia destaca a cobertura da Agência de Notícias da Aids durante a 21ª Conferência Internacional de Aids, que acontece em Durban, na África do Sul. O boletim informou que a jornalista e diretora da Agência de Notícias da Aids, Roseli Tardelli, vai exibir neste evento o documentário “Aids: As Respostas das Ongs no Mundo”. O filme traz depoimentos de representantes de ONGs de diversos países sobre envolvimento deles na luta contra a aids.
Leia a nota na íntegra:
Roseli Tardelli, fundadora e diretora da Agência de Notícias da Aids, participará de 18 a 21/7, em Durban, África do Sul, da XXI Conferência Internacional de Aids. 
“Além de cobrir a Conferência junto com o médico Henrique Contreiras, consultor da Agência Aids, vou exibir o documentário Aids, as respostas das Ongs do mundo, que produzi entrevistando 26 ativistas de 15 diferentes países, na última conferência que
aconteceu na Austrália”, disse Roseli a J&Cia. 
“Eles contam como ajudaram a construir ações e políticas públicas que auxiliaram a frear o crescimento do HIV em seus países. É a primeira vez que um documentário assim, produzido por uma jornalista brasileira, será exibido em uma conferência internacional”.
Sesc, Senac e Jansen são os apoiadores para a produção do documentário na Austrália. A direção é de Pedro Duarte.
Redação da Agência de Notícias da Aids

segunda-feira, 11 de julho de 2016

Por que Rio Grande do Sul e Porto Alegre lideram as estatísticas da aids no país



O Rio Grande do Sul e a capital costumam aparecer nos rankings de novos casos e mortalidade por aids com recordes lamentáveis. De acordo com o último boletim epidemiológico do Ministério da Saúde, o estado apresenta a segunda maior taxa de detecção de aids no país, com 38,3 casos para cada 100 mil habitantes, quase o dobro da média nacional (19,7 casos por 100 mil). Só fica atrás do Amazonas (39,2). Em 2014, Porto Alegre foi a capital com a maior taxa de detecção: 94,2 casos por 100 mil habitantes, mais do que o dobro do índice gaúcho e quase cinco vezes superior à taxa brasileira. Quanto aos óbitos por aids, os últimos anos vêm mostrando uma tendência de queda, mas os números ainda são altos: o Rio Grande do Sul tem 10,6 mortes para cada 100 mil habitantes, e Porto Alegre, 28,3, quase cinco vezes acima do coeficiente nacional (5,7).
Ao longo dos 35 anos da epidemia mundial, o perfil dos pacientes foi mudando. No começo, as principais vítimas eram homens que faziam sexo com homens, hemofílicos e usuários de drogas injetáveis que compartilhavam agulhas. Depois o vírus passou a atingir mais fortemente as parceiras dos homens infectados. Com o tempo, houve uma heterossexualização, aumentando progressivamente o número de mulheres infectadas, e hoje é marcante a característica da vulnerabilidade: são as populações carentes e socialmente excluídas as mais suscetíveis à infecção por HIV, porque não se previnem de forma adequada, e à morte por aids, por não aderirem ao tratamento. As campanhas de prevenção, e mesmo as terapias, não conseguem alcançar esses grupos.
"Essas pessoas são vulneráveis para as doenças e para a morte. Como vão se tratar menos, se cuidar menos, a chance de morrerem também é maior. Estamos esperando que elas venham até o serviço, mas na verdade o serviço teria de procurá-las. Temos de saber como chegar a elas", reflete Eduardo Sprinz, infectologista do Hospital de Clínicas de Porto Alegre e professor da Faculdade de Medicina da Universidade Federal do Rio Grande do Sul.
Em relação à Região Sudeste, a epidemia no Sul começou mais tarde. Esta seria uma das razões apontadas por especialistas para os números locais ainda se mostrarem elevados – o ciclo continua em curso. A disseminação do uso de crack também se iniciou depois. Sprinz destaca que, neste momento, a população de vulneráveis – incluídos aí os dependentes de crack – serve como combustível:
"Crack e HIV andam juntos. São sinalizadores de que alguma coisa na sociedade e na saúde pública não está indo bem."
O epidemiologista Jair Ferreira faz um aparte: o crack, que é fumado, não transmite HIV, e as drogas injetáveis sim. Embora os consumidores de crack intensifiquem a infecção por via sexual, eles estão menos sujeitos à infecção causada por seringas e agulhas, tragicamente mais eficiente – numa única partilha de utensílios, o risco de contágio é muito superior ao de uma relação sexual. Assim, a pedra representaria também uma espécie de freio: com a propagação tardia do crack no Sul, a transmissão do vírus por substâncias injetáveis predominou por mais tempo, mantendo os índices de HIV/aids em alta.
Ferreira cita também outra possível causa para a liderança: aqui circula mais a cepa C do vírus, que seria mais infectiva (com maior capacidade de transmissão). Outras hipóteses já levantadas, segundo o médico, não encontram comprovação.
"Já se aventou que se notifica mais aqui. Não. A essa altura, não estamos notificando melhor do que São Paulo, Rio de Janeiro ou Paraná. Aqui se usa menos preservativo: não é verdade. Estudos mostram que a Região Sul é a que mais usa. Tratamos mal nossos pacientes: não é verdade. A letalidade de aids aqui é igual à do resto do Brasil, tratamos igual ao resto do Brasil, não é pior. Variação de parceiro aqui é maior: não é verdade também. O pessoal é mais ignorante: também não", enumera.
Mesmo em evolução, o ciclo da epidemia provavelmente já atingiu o seu clímax. Para Eduardo Sprinz, as próximas estatísticas devem começar a refletir mudanças graças à antecipação do tratamento – desde 2013, a recomendação no Brasil é que se inicie com os medicamentos logo após a confirmação da soropositividade, independentemente de as defesas do paciente estarem altas ou baixas.
"Com o tratamento mais precoce, diminui a quantidade de vírus circulando, e a chance de novos casos também vai diminuir", diz o infectologista.

Santas Casas buscam captação profissional para sair da crise



Após profissionalização da área de captação, 14 Santas Casas e hospitais beneficentes de São Paulo conseguiram arrecadar R$ 10 milhões em doações, em 2015.
A capacitação oferecida pela Fehosp (Federação das Santas Casas e Hospitais Beneficentes do Estado de São Paulo) e pelo Idis (Instituto para o Desenvolvimento do Investimento Social) atraiu 104 instituições do Estado no ano passado.
"Hoje no Brasil são fechados por volta de mil leitos de hospitais beneficentes por ano", diz Marcos Kisil, consultor do Idis. Como o tamanho médio desses estabelecimentos em São Paulo é de 80 leitos, ele calcula o fechamento de 13 hospitais por ano, diante da crise generalizada entre as entidades.
O caso mais bem-sucedido de captação é o do Hospital Nossa Senhora da Piedade de Lençóis Paulista (SP), o único do município. A instituição manteve as portas abertas graças aos R$ 2 milhões arrecadados por meio de doação de empresas e de pessoas físicas, por meio da Nota Fiscal paulista.
O orçamento de R$ 3,5 milhões foi fechado com outros R$ 1,5 milhão vindos de aprovação de emendas parlamentares. Em 2014, quando Ricardo Conti Barbeiro assumiu a diretoria administrativa, o hospital não recebia repasses federais e os recursos municipais e estaduais vinham diminuindo. O déficit contábil era de R$ 2 milhões ao ano e a captação acontecia de forma amadora.
"Começamos a trabalhar com metas e ampliamos nossa arrecadação em três vezes", afirma Barbeiro, sobre os ganhos após a capacitação. "Se não houvesse doações, o hospital estaria hoje de portas fechadas."
Quebradas
A iniciativa para fomentar a arrecadação comunitária dos hospitais beneficentes de São Paulo veio em resposta à crise enfrentada pelas Santas Casas, exposta no segundo semestre de 2014, com o encerramento de alguns serviços e falta de pagamento.
"A partir de 2013, o governo federal passou a atrasar os pagamentos", explica Kisil. "Com isso, as Santas Casas entraram numa crise muito forte porque faltava dinheiro para pagar pessoal."
O símbolo maior dessa crise foi a Santa Casa de São Paulo, que em julho de 2014 chegou a interromper durante 28 horas os atendimentos de urgência e emergência.
A situação se agravou com ameaça de corte de fornecedores e a demissão de 1.397 colaboradores.
"Era um absurdo a Santa Casa não usar a captação de recursos", avalia o novo provedor da instituição José Luiz Egydio Setúbal, acionista do banco Itaú, que assumiu em junho de 2015.
Em meio à crise, a Santa de Casa de SP não participou da capacitação, mas montou um grupo interno para discutir formas de aumentar a participação da sociedade no financiamento da instituição.
No ano passado, as doações de pessoas físicas e jurídicas somaram R$ 5,5 milhões.
Com uma dívida de R$ 770 milhões, revelada por uma auditoria em dezembro de 2014, a ideia é profissionalizar a captação.
Em agosto, deve ter início o primeiro projeto, elaborado junto com o Idis. O primeiro público alvo são alunos e ex-alunos de medicina da própria Santa Casa. Eles serão convidados a dor para um fundo patrimonial que vai oferecer bolsas de graduação, pós-graduação e pesquisa como uma forma de reter talentos para a instituição.
Esse tipo de fundo é comum nos Estados Unidos. O da Universidade de Harvard possui US$ 40 bilhões em caixa, a ajuda a financiar a instituição. 

  CNS discute desafios para garantir direito universal à Saúde em tempos de negacionismo, durante debate na UFRGS 14 de fevereiro de 2022 O ...